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❝Esses pensamentos de

Amantes do passado

Eles sempre me assombram❞

— House Of Memories; Panic! At The Disco

Todos não queriam tomar aquela decisão, mas sabiam que era necessária

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Todos não queriam tomar aquela decisão, mas sabiam que era necessária. Era o único jeito.

— Não é seguro — um dos cientistas apontou.

— Ela é a única segurança de sucesso na missão — outro contra-argumentou — Você viu os relatórios de quando os dois trabalham juntos, é impressionante.

— Isso não é verdade! Existe a margem de erro na qual ele possa se lembrar dela.

— Besteira! Ele nunca mais vai...

Com olhos ainda sonolentos, o soldado esforça para abrir as pálpebras depois de um longo transe. Seu despertar silencia o local inteiro.

— Pronto para servir — ele diz encontrando-se no cenário típico da fonte de suas informações para a próxima missão.

O cientista que negava escolher resmungou para o outro:

— Então qual é sua decisão final?

— Ela vai junto.

***

Ela anda pela calçada seguindo com o olhar atrás de óculos escuros a figura engravatada que troca palavras importantes na escadaria do prédio mais politicamente denso da região. Segue ela, ele. Abordando o mesmo alvo com uma arma, aguardando o sinal da ruiva que vigia o momento oportuno para que o gatilho seja apertado.

Natasha observa o homem marcado se afastar do restante dos demais e caminhar em direção a um carro, que ela tem certeza que é blindado e seu motorista está armado. As hipóteses apenas a fizeram ter mais convicção de que aquele é o momento certo. 

— Está na hora — ela sussurra na escuta enquanto se aproxima do alvo — Fique atento, a qualquer momento tudo pode dar errado.

— Entendido — ele responde secamente.

A Viúva Negra prosseguiu cada vez mais perto da pessoa que dá propósito a missão e ao cruzar a rua a fim de esclarecer a perspectiva da morte do homem, viu uma figura menor correr para fora do veículo quando o mais velho abriu a porta traseira. Era uma garotinha.

— Ativo, abortar a missão! Repito...

O tiro é disparado. A bala fincada perfeitamente na testa provoca uma única linha de sangue que escorre no rosto do senhor, derrubando-o no chão e atraindo milhares de olhares ao seu redor.

Ela não pensou duas vezes e correu para a garotinha, que gritava em desespero em meio da multidão de engravatados que forma ao redor da vítima.

— Está tudo bem — a ruiva diz a menor — Vai ficar tudo bem.

A mais velha abafa o choro da menor. Ela se sente culpada por registrar um trauma na ingenua cabeça da menina. Ela deveria ter certificado a área antes de avisar qualquer coisa. Ela deveria parar de se antecipar. Ela estava se sentindo tão ansiosa e nervosa, começou a sentir as consequências da presença dele só agora.

Uma van se aproxima da posição dela e rapidamente identificou que aquela é sua carona ao ver pontas de dedos metálicos escapando pela luva que dirige.

Suspira, já se preparando para o choque. Ela não está confortável estar por perto dele depois de tudo o que aconteceu. Sabe que é inútil forçar o que eles já tiveram, já havia aceitado que ele se esquecera, que aqueles dedos de outro material jamais roçariam as costas nuas dela, que os olhos azuis que uma vez enxiam-se de amor agora estão congelados e mal entram em contato com os dela. Ela está machucada, mas não pode deixar que isso afete seu profissionalismo, como acabou de acontecer.

Abandona a que chora e tentou desenhar com os lábios um pedido de perdão antes de entrar na van.

— A garotinha viu ele morrer de perto — Natasha fala em voz alta tanto para tentar tirar a culpa de seus ombros, quanto para que ele produzisse uma gota de empatia e humaniza-se um pouco— Eu disse abortar a missão, James.

— Esse não é meu nome — ele rosna sem desviar o olhar das ruas.

Ela revira os olhos. Estava cansada de passar por essa conversa desde que juntaram os dois para essa nova missão que, a tensão deixa mais extensa que sua natureza.

Dirigiram em silêncio sem nenhuma falha na tentativa de puxar conversa. A neve que cai na cidade parece congelar a vontade de Romanoff em querer investir em alguma esperança. E permaneceram assim até chegar no ponto combinado onde pegariam o helicóptero para o próximo passo da missão.

O Soldado Invernal queria dormir. Fazem anos que ele não dorme. O conceito já virou algo abstrato na sua cabeça, algo que os humanos fazem... E ele ainda está confuso no que ele se tornou esses últimos anos.

Suas pálpebras pesam enquanto ele pilota o helicóptero acima de alpes.

Ousou piscar pausadamente. E viu o rosto daquela que o acompanha na missão atual, de um jeito familiar, como se ele a conhecesse. Soou até como uma lembrança.

Abriu os olhos. O que é uma lembrança? 

— Vamos ter que pular — ele afirma.

— Como? — ela protesta e a voz dela ao mesmo tempo que esquenta o coração do Ativo, causa conflito em sua cabeça.

— O combustível está sabotado, não vai durar mais cinco minutos.

— E você só foi descobrir agora?

— Descobri desde que dei partida, mas sabia que aguentaria até sairmos do raio de busca de suspeitos do assassinato.

A espiã olha furiosa para ele. Ela estava indignada por admirar o jeito pragmático com o qual ele cuida de cada detalhe para a excelência da conclusão de uma tarefa.

— Confie em mim — o Soldado diz sem saber ao certo o peso que aquelas palavras trazem para ambos. 

Em uma fração de segundos, envolveu a mulher com seus dois braços e salta para fora do helicóptero. Mergulhando de cara na vasta floresta pintada de branco.

Natasha fecha os olhos.

Parte dela sonhava em morrer assim: aos braços dele, sozinha, só os dois. Todavia, se morressem ali, daquele jeito, amarga seu coração ao saber que ele morreria sem se lembrar.

O Ativo agarra com força o corpo da ruiva com seu braço metálico e com o outro abre o paraquedas, adiando a morte de ambos. Ela viu então, o aperto que será viver metade de sua fantasia: os dois, sozinhos, porém, onde um se encontra mentalmente morto.


house of memories; buckynatWhere stories live. Discover now