EP03: Arizona desert & leather jackets

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"Não sabia que cê ainda morava em Bradford."

Sehun Singer estava me seguindo. Bem no meio de uma crise, bem quando tudo o que eu queria era fugir dele e ficar sozinho para resolver aquilo o mais rápido possível. Tinha um monte de alertas piscando na minha cabeça, todos vermelhos, todos me avisando que eu precisava fazer alguma coisa com meu problema.

Minha cabeça parecia um giroflex daquelas viaturas de polícia. Eu andava tão rápido pela calçada que se acelerasse só um pouco mais, estaria correndo. E Sehun conseguia acompanhar meus passos mesmo assim.

Ele fedia a algum cigarro diferente, algo que ninguém em Bradford fumava. Eu sabia porque eu também era fumante e não tinha uma cartela de cigarro à venda naquela cidade que já não tivesse passado pela minha mão.

Sehun Singer fedia a cigarro e tinha uma respiração curta e fraca, típica de quem tá a dois passos de uma Enfisema. Todos os anos em que ele passou devorando um maço atrás do outro estavam realmente lhe cobrando, afinal.

Me perguntei quanto tempo levaria para que eu estivesse na mesma situação.

"Eu nunca saí daqui." Eu respondi involuntariamente, dando continuidade àquela conversa.

Faltavam dois quarteirões pra chegar na minha casa, eu estava com uma puta vontade de ir correndo e eu não tinha nenhum motivo para continuar ali, fingindo que me importava o suficiente para não ser idiota com ele.

Tentei pensar em qualquer coisa para dizer e fazer com que Sehun parasse de me seguir, mas não tinha nada rondando minha cabeça que pudesse me ajudar.

"Por que não?"

Porra, cara. Só cai fora.

"Porque eu não quis, Luke." E depois de dizer aquilo, eu apressei o passo e comecei a correr, sentindo minhas mãos tremendo e a respiração se tornando sufocada porque eu estava enrolando demais para suprir meu vício.

Enquanto eu fechava a distância até em casa, meu cérebro projetava as coisas que eu deveria fazer quando passasse pela porta. Sempre tinha pornografia rodando na TV, normalmente a mesma fita de sempre, porque eu precisava mais de um motivo para me convencer que de um estímulo real. Tinha lubrificante na cabeceira da cama e lenços na gaveta.

Era simples, era rotina.

O que não era rotina era Sehun Singer se metendo no meio.

"Espera aí!" Ele gritou de um jeito sufocado, parando pra recuperar o fôlego, e eu agradeci por ele ter pulmões de merda e não conseguir correr atrás de mim. "Jem!"

Merda.

Eu olhei para trás quando ele me chamou daquele jeito. Eu não ouvia aquela droga de apelido há anos. Por que é que ele tinha que ter voltado para aquela merda de cidade quando tudo ia tão bem?

Eu não deveria ter olhado.

Tinha um moleque idiota passando de bicicleta e eu trombei com ele, me ralando todo no asfalto quente e ainda derrubando o garoto no caminho. Ele rolou pro lado pra levantar e eu continuei estatelado no chão, pensando se eu podia morrer torrado se continuasse ali, com aquele puta Sol na minha cara.

O moleque tava ouvindo Parallel Universe no último volume dos fones e eu quis trombar com ele de novo só por causa disso. Ironia demais para um dia só.

Meu braço tava ardendo e eu nem conseguia pensar direito, mas movi o corpo para o lado para o garoto poder pegar a bicicleta de volta. Eu esperava que ela não tivesse estragado quando caí em cima, mas ele provavelmente tinha mais sorte do que eu.

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