Algumas pessoas confiam que eu tenho bons valores de caráter. Elas não deveriam.
Pessoas com bons valores de caráter não atravessam o Arizona num carro roubado como se não fosse nada demais. Nem invadem cinemas privados e trocam filmes por pornografia nas locadoras só porque soa divertido. Pessoas com bons valores de caráter não invadem fliperamas e compram briga com caras num bar. Também não pulam o muro para nadar na piscina da vizinha ou furtam parte do letreiro de Pulp Fiction.
E, principalmente, eu acho que gente com bons valores de caráter não acaba na merda, dividindo espaço num grupo de apoio para compulsivos sexuais com o último cara que você esperava ver na vida.
Mas sabe o que é engraçado?
Pessoas com bons valores de caráter nunca tem boas histórias para contar. Então meio que tudo bem que as coisas talvez acabem mal para mim. Pelo menos eu tenho uma história do caralho.
E ela começa com ele: o maldito Sehun Singer. E sim, é uma longa história.
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Eu não tinha uma lista de 'Coisas Que Eu Nunca Espero Que Aconteçam Comigo', mas, se eu tivesse, o primeiro item provavelmente seria intitulado como Terapia em Grupo.
Eu não gostava da ideia de me abrir para completos estranhos e depois chorar no ombro de alguém porque eu tinha problemas, já estava bem fazendo isso no chuveiro. Então, tecnicamente, eu estava ali para nada, mais para ouvir que para falar e, quem sabe, sair da lama onde eu tinha me enfiado até o pescoço. Embora eu achasse muito difícil que isso acontecesse de verdade.
A segunda coisa da lista, a que eu esperava menos ainda que acontecesse, era dividir o grupo com Sehun. Eu me lembrava bem demais dele para todos os anos que tinham se estendido entre nós, o que chegava a ser engraçado, porque ele parecia estagnado no tempo — não muito diferente de mim —, usando óculos escuros, roupas parecidas com as que usava no colegial e com aquela cara de fumante compulsivo provavelmente aidético. É, as coisas não tinham terminado muito bem para ele também.
Eu cheguei atrasado na minha primeira reunião do CSA — Compulsivos Sexuais Anônimos —, me sentei de frente para o Sehun no círculo de cadeiras e ainda interrompi a história trágica de alguém porque o líder do grupo, um gótico alto demais usando uma flanela e um monte de bottoms, parou para perguntar como eu estava e me receber ali.
Desde o primeiro momento em que encostei a bunda na cadeira e bati o olho naquela versão quase discoteca de Sehun Singer, eu já quis ir embora e não voltar nunca mais. Não porque eu tivesse medo dele ou coisa do tipo, eu não tinha, mas estarmos no mesmo ambiente funcionava tanto quanto misturar água e óleo. Depois de tanto tempo, éramos perfeitos estranhos e ele deveria seguir o ritmo e fingir que também não sabia quem eu era, mesmo que ele soubesse e soubesse bem.
Mas é claro que, em vez de me ignorar como ele poderia ter feito, preservando os princípios daquela teoria de 1963, ele preferiu, como sempre, instalar o caos.
Sehun Singer tinha um complexo com coisas caóticas e, antigamente, esse complexo me envolvia.
No fim da reunião, depois de passar uma hora e meia ouvindo as histórias tristes de pessoas enfrentando a Compulsão Sexual, sem nenhuma vontade de falar sobre a minha, eu estava do lado de fora do velho prédio de consultórios onde o grupo se reunia, sentindo aquela conhecida queimação.
É difícil explicar um impulso, porque ele provavelmente é diferente em cada pessoa. Em mim, queimava. Queimava na garganta, nos dedos, na barriga e na virilha. Qualquer coisa era gatilho para ter vontade de fazer sexo, as pessoas passando na rua tinham cheiros diferentes e isso me deixava excitado. Até a droga da calça jeans que eu tinha vestido naquele dia com a costura roçando nas bolas me dava vontade de transar.
E, mesmo que não tivesse nenhum desses fatores, ainda haveria a vontade, porque era assim que funcionava. Eu não podia controlar aquilo, quando eu me dava conta, já estava enfiado em algum lugar com a calça no tornozelo e o pau na mão.
Eu tinha passado metade daquela madrugada fodendo e a outra metade chorando. Tinha dormido duas horas e estava um prego, mas nem assim meu corpo dava uma trégua, era como se tivesse alguma coisa me empurrando para a primeira oportunidade que surgisse.
"Eu te conheço, não é?"
Bingo! Queria ter um buraco pra me enfiar.
"Não." Mas ele sabia que sim.
"Conheço sim." Viu? "Você é o Jamie. Jamie Byun. É, eu me lembro de você."
É, cara. Eu sei.
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Conheci Sehun Singer no colegial.
Ele era repetente e as pessoas o chamavam de Luke, embora o nome na lista de alunos fosse Sehun. Usava jaqueta de couro por cima da camisa do uniforme e fumava atrás do muro da escola no intervalo das aulas.
Os amigos dele tinham uma banda e eu ouvi por muito tempo que Sehun fazia parte dela, mas depois de uns meses estudando com ele, descobri que não. Ele só ajudava os caras com o equipamento e tudo porque o pai dele era dono de uma loja de discos.
Sehun era um cara legal. Porra louca, compulsivo, fumante, repetente e o unanimemente intitulado rei das pegadinhas no colégio, mas era um cara legal.
E eu gostei de ter sido amigo dele por um tempo, mesmo se tudo acabou como está agora. Mesmo se tudo acabou mal para nós dois e 'viver a vida como ela deve ser vivida' tenha sido bem menos gratificante do que qualquer um de nós esperava.
Eu acredito muito em Teoria do Caos, embora eu saiba que um monte de gente acha isso meio idiota. E uma das únicas coisas que eu tenho certeza é de que, mesmo que eu conseguisse roubar Plutônio, tivesse um DeLorean e pudesse voltar diretamente para 1993, eu ainda não seria capaz de mudar nada.
Não me arrependo de ter conhecido Sehun Singer.
Embora eu me arrependa do resto.
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addict
Fiksi Penggemar[baekhyun/sehun] Byun Baekhyun é um viciado. Quando seu problema se torna maior do que deveria ser, ele decide que precisa de ajuda e acaba em uma quase clínica de reabilitação, dividindo o grupo de apoio com Sehun, aquele garoto esquisito que ele c...