EP05: Redhead boy & orange candies

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Mesmo morando em Bradford, que era uma cidade implantada no meio de um poço de areia e nada, conectada a outras cidades por uma interestadual que cruzava aquele lugar de um lado a outro, eu nunca tinha pisado de verdade em um deserto.

Aquela era minha primeira vez num lugar como aquele, e, sendo bem sincero, eu não sabia como descrever a sensação que aquela paisagem passava.

Sehun me mandou descer do carro, por um momento me fazendo imaginar que ele ia me abandonar ali e voltar para casa sozinho, algo como uma das pegadinhas que tornaram seu nome tão conhecido nos corredores do colégio.

Felizmente, ele não fez isso. Desceu do carro também e se apoiou no capô, esperando que eu "fizesse coisas de artista". Eu não era artista, eu no máximo fazia uns rabiscos e às vezes eles ficavam coerentes, às vezes não. Pensei em dizer isso para ele, mas não quis que soasse como falsa modéstia ou qualquer merda parecida.

Eu dei uma boa olhada ao redor, porque eu queria entrar de novo no carro o mais rápido possível. Aquele Sol tava brincando de torrar meus miolos e eu queria voltar para casa com a mesma quantidade de neurônios com os quais saí de manhã. Demorava para chegar naquela parte de Sonora, mas não fazia a menor diferença porque ainda não tinha árvores ou uma única construção que fosse para se esconder embaixo. Era só... areia para todo lado. Areia, cactos, plantas secas e coisas mortas.

"Jamie Byun..." Sehun me chamou, acentuando todas as vogais do meu primeiro nome. Fiz uma careta ao olhar para ele. O cara tava segurando um pedaço de papel e forçando a vista para enxergar o que estava escrito. "O que o deserto representa para você?"

Fiz outra careta, achando que era algum tipo de pergunta idiota, e voltei a me concentrar no caderno que eu tinha em mãos. Tentei gravar bem a paisagem distante, com as pedras, os milhares de cactos e o relevo quase sumindo ao fundo. Algo simples, que fosse fácil de reproduzir.

"Ei. Eu to falando com você." Sehun balançou as mãos para chamar minha atenção e eu me virei em direção de onde ele estava, mais porque eu queria entrar de volta no carro e sair logo dali do que por ter vontade de dar uma resposta para aquelas coisas dele. "A gente tem que responder pelo menos quatro perguntas sobre 'representações alternativas do deserto'. Cê sabe como é o Marsellus."

Engoli minha frustração por saber que eu realmente teria de expressar o que o deserto representava para mim.

Suspirei, me arrependendo por mandar embora um pouco do meu oxigênio. Era tão seco e abafado ali que eu sentia a garganta começando a doer.

"Sei lá, cara." Dei de ombros, tomando mais umas notas mentais da paisagem para conseguir desenhá-la depois. Eu tava tentando fazer um esboço, dar um começo para aquele negócio, para depois ajeitar os traços e fazer com que a coisa fizesse algum sentido. "Acho que representa o Inferno."

Ele riu, desencostou do capô e deu uma meia-volta ao redor do carro, as sobrancelhas franzindo ao olhar para a quantidade de poeira laranja grudada nele. O negócio tava podre. Parecia que a gente tinha mergulhado em vinte mil léguas movediças.

Eu não entendia como um lugar tão seco e morto tinha uma poeira fina e daquela cor. Sehun tinha sentado no carro e agora a bunda dele tava suja de laranja. Ele bateu as mãos nas coxas para limpá-las e só conseguiu se sujar mais. E eu não fiquei exatamente feliz de olhar para baixo e ver o bico dos meus tênis mais sujos do que eles nunca estiveram antes, porque eu ia ter que limpar quando chegasse em casa se quisesse usar no dia seguinte.

"Acho que compensei o roubo e os seis meses convivendo com aquele babaca." Sehun comentou, e eu achei que ele estivesse falando consigo mesmo, mas aí ele olhou para mim com um sorriso divertido, como se pedisse uma opinião. "Ele vai me matar."

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