poço

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meu olho acordou doendo pesado.
pode ser de choro,
de falta de sono ,
enjoo ,
saudade ou dor.

tudo uma bagunça por aqui .

nem me depilei .

o cabelo tem óleo ,

as calcinhas, manchas de sangue ,

a alma, manchas da vida: impregnadas em mim

-por favor, sai daqui, me deixa ser.

pratos sujos e copos com água velha:

mas ainda gelada, como você, eu beberia.

sim o ar é denso e insuficiente; peso:

esse tanto de lipídeo faz eu me odiar um pouco mais e fugir do espelho,

talvez isso seja mesmo exaustão de tudo.

me escondo da energia onde entro todos os dias e saio daqui sorrindo,

mas vocês não sabem que eu pinguei até dormir e continuei sonhando com a cachoeira do seu não querer.

meu pai esqueceu que além de conta, sou filha.

minha mãe esqueceu que além de mãe, sou filha.

esse ar gela mais que deveria,

e a tv: só chia.

e a montanha de roupas só cresce,

e meus papeis só acumulam sem eu ter ideia do que as letras deles dizem ao se unirem em palavras que nunca vi.

proliferação celular
proliferação da inquietação
que nem lido.
meus genes supressores agem de um jeito esquisito.

por favor.
Vem ficar comigo.

Amor tem mais que quatro letrasOnde histórias criam vida. Descubra agora