Te amo em silencio

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poesia em três partes.
parte um.
quem mora no silêncio?

nesse silêncio.
calmo e cheio. cintilado no escuro.
nesse silêncio,
desse segundo,
dessa noite de segunda.

mora. um som dium jazz. um baixo.
que aumenta e abaixa com o movimento da vida de ir e vir.
como o movimento da vida de chegar e partir.
pra baixo e pra cima, a vida.
pra cima e pra baixo, o baixo.
e moram as luzes.
dos prédios iluminados de 23 andares de Águas Claras, o novo bairro dos novos bairristas, e mora cada morador de cada andar de cada prédio de 23 andares.

nesse silêncio, mora o avião, que patina nesse ar cheio de gás, mora o piloto, todos os sonhos do piloto e todos os botões de luz, de cada poltrona, de liga e desliga.
o mesmo, e tão oposto.

mora a árvore que dança ao som do silêncio e faz som de folha, que nele mora.
mora o motoqueiro,
"filho da puta"! que arregaça o silêncio empurrando o som com cotonete aos nossos martelos e estribos.
ele que é filho da lavadeira.
que lava e chora
e lava e cozinha
e reza pra Deus
"Que meu filho não caia daquela moto meu senhor"
a oração dela também mora
nesse silêncio, casa de tudo, esquecido.
meio de tudo, mas não ouvido, não visto.

mas eu o visto.

parte dois.

esse silêncio azul alaranjado
diluído e denso

se faz casa aos grilos verdes e pernudos, ao passeio com o lobo branco que cresceu de nossas mãos, aos beijos no pescoço, à verdade de rubem alves, aos sentimentos e pensamentos não ditos, aos sentimentos e pensamentos ditos, e a tudo que nesse agora vejo e,
tudo que nesse agora crio,
e, tudo que nesse agora sinto,
nesse silêncio:

mora.


parte três.

e quando,
todas as ausências e presenças de sons do silêncio já existiram pelos seus segundos,

nos sobra.

primeiros,
únicos.

e nos há como nunca antes houve.
como nunca antes ouve: se ouve esse silêncio.

nele, estamos imersos.
nesse estar no silêncio. no silêncio, morar.

bem calado, entre suas pupilas pretas e grandes como eclipse disfarçado de espelho,
bem calado entre meus dentes separados
e sardas apertadas,
bem calado entre os enormes milímetros de distância entre nossos cílios, e poros.
mora o te amo
nosso.
guardado.
pois é difícil te deixar
é difícil te deixar ir também.
então fica, nesse silêncio, então mora.
nesse silêncio moramos nós e nossa eterna efemeridade
nossa eternidade efêmera
de estar.
nesse silêncio,
dessa noite,
guardando enquanto podemos
o quanto amamos
esse amar.

-pelo tempo que durar.

nesse silêncio e nesses versos nós moramos para sempre/

Amor tem mais que quatro letrasOnde histórias criam vida. Descubra agora