Capítulo 1 - As Ondas da Austrália

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A luz forte do sol inundava o pequeno quarto de hotel milimetricamente organizado pelo homem que observava a vasta paisagem pela janela.

Patrick O'Neil não aparentava ter quarenta e dois anos, seus cabelos escuros eram levemente salpicados de fios brancos e ninguém, em sã consciência, diria que ele tinha dois filhos formados. Filhos muito preguiçosos por ainda estarem dormindo, mesmo sendo nove e meia da manhã.

O fato de sua filha caçula querer dormir até mais tarde: aquelas eram suas primeiras férias como adulta, sem ter que esperar a volta às aulas no início de setembro. Já Charles não tinha essa desculpa. Ele deveria estar trabalhando e bancando a família.

- A que horas vocês pretendem acordar? - perguntou Patrick, se afastando da janela ao ver seus filhos revirarem em suas camas.

- Três horas depois do senhor perguntar isso - resmungou Charles, o filho mais velho, puxando seu lençol até que cobrisse sua cabeça.

Não tinha jeito. Ele teria que apelar para algo que eles não recusassem.

- Certo. Então vou velejar sozinho...

O efeito fora imediato. Harriet pulou de sua cama para de seu irmão, pulando sobre o colchão macio na tentativa de fazê-lo levantar.

- Charles, acorde! Vamos para o mar! Vamos, levante! - exclamara a garota rindo até que Charles sentou-se na cama.

Assim que percebeu que seu irmão não voltaria a dormir (mesmo morrendo de sono, ele queria ir para o mar tanto quanto ela), Harriet correu para o único banheiro do quarto, saindo de lá perfeitamente vestida e com seus longos cabelos escuros presos com um fino palito.

- Você deveria ter nascido no mar... - disse Patrick à filha, observando Charles entrar no banheiro.

- É. De lá você não pode me acordar desse jeito! - grunhiu o garoto. Harriet sequer deu atenção e se virou para o pai.

- Vamos passar o dia inteiro no barco? - perguntou ela, com seus grandes olhos brilhando de felicidade. Patrick puxou a filha para um abraço, depositando um beijo em sua testa.

- Vamos, minha princesa. Vamos passar o dia inteiro.

XX

Nuvens escuras tomavam o céu que alguns instantes atrás estava claro, fazendo com que parecesse que a noite havia chegado mais cedo. O mar começava a se agitar, como se não quisesse mais ninguém em seus domínios, fazendo com que uma quantidade considerável de água entrasse no barco.

- Pai! - gritou Charles se segurando em uma corda - Dê meia volta!

Tão distraídos com a comida que eles haviam levado a bordo, nenhum dos três viu as grandes manchas no céu se aproximarem.

Agora era rezar para conseguirem voltar ao píer a tempo de não pegarem a maior parte da tempestade que viria e nem estragarem o barco alugado.

- Charles, fique a bombordo! - gritou Patrick de volta, girando o timão o máximo que conseguia - Harriet, desça. Lá embaixo é mais seguro!

Harriet, que, assim como seu irmão, já estava encharcada até os ossos, sequer se moveu, fazendo com que o homem tornasse a gritar.

- Eu não vou sair daqui! - rebateu ela - Charles não vai conseguir segurar as coisas aqui sozinho!

- Desça, Harriet! - rosnou ele. Aquela não era a hora mais apropriada para a garota tentar se impor - É uma ordem!

- Uma ordem que eu não vou acatar!

- Harriet, segure-se! - gritou Charles ao ver uma grande onda quase em cima do barco, mas era tarde. A onda engoliu o barco por completo. Harriet sentiu a água salgada do mar descer rasgando por sua garganta e afastar seus pés da madeira clara do barco.

Ela conseguira subir à superfície algumas vezes, mas não vezes o suficiente para respirar direito. Não se ouvia nada a não ser o barulho das águas violentas que a envolviam. Nenhum grito de socorro. Nenhum chamado de sua família. Só o sussurro do mar a sua volta.

XX

Depois de um tempo que pareceu uma eternidade para a garota, ela sentiu o chão embaixo de si. Nunca ficara tão feliz ao sentir a areia molhada em contato com sua pele.

Harriet jogou os cabelos encharcados para trás enquanto se levantava. Não chovia, mas o forte vento a fazia tremer e o fato de estar completamente encharcada não ajudava muito. Seus pés, agora descalços, se incomodavam com a quantidade de areia e pedras entre seus dedos.

Perdida, ela começou a olhar em volta. Nenhum sinal do barco e muito menos de sua família. Um raio iluminou os céus, alertando-a que era necessário procurar abrigo. A pequena ilha em que ela parara não parecia ser civilizada. Só conseguia ver algumas sombras a sua frente, que pareciam árvores. Havia apenas uma pequena caverna. O trovão a seguir a apressou e ela correu para a caverna.

O desespero foi tanto que ela não tomara cuidado com as pedras no caminho. Acabou tropeçando em uma, bateu a cabeça na parede da caverna e caiu desacordada.

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