Capítulo 2 - As Ruínas de Cair Paravel

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Areia.

Muita areia.

Tudo a volta de Harriet, quando ela acordou, era areia. E vento.

Já demoraria para conseguir enxergar, com a areia nos olhos a situação piorava. E muito.

Cambaleando, Harriet saiu da caverna sentindo o sol forte em contato com sua pele arranhada, indicando que já se passara do meio-dia.

- Quem é você? - perguntou uma voz desconhecida e, aparentemente, sem corpo. - Como chegou às terras de Nárnia?

Harriet olhou para todas as direções que ela julgava possíveis para encontrar a pessoa, mas não a encontrou. Talvez tivesse entrado água demais em seus ouvidos e agora estava ficando louca.

- Não se faça de idiota, filha de Eva! Estou aqui embaixo, como já deveria ter percebido! - exclamou a voz e, mesmo sem entender o porquê de estar obedecendo a uma voz não corpórea, Harriet direcionou seus olhos para baixo, encontrando o maior rato que ela já vira em sua vida, com uma pluma na cabeça e uma bainha amarrada na cintura. Harriet soltou um grito agudo, que doeu seus próprios ouvidos. Mal conseguiu dar um passo para trás e caiu, sentindo pequenas pedras machucarem ainda mais suas costas. O rato - aquilo era mesmo um rato?! - subiu em seu pescoço, desembainhando sua espada e apontando-a para seu rosto. Ela tentara, mas não conseguiu segurar sua risada. Ela estava enlouquecendo: além de estar tendo uma alucinação, estava rindo na cara dela também. O rato irritado forçou sua espada contra o claro queixo da garota, fazendo com que ela parasse de rir.

- Você é um rato! - exclamou Harriet, afastando a minúscula espada com a mão. Em um movimento rápido, o rato fez um corte considerável em sua mão. Mais assustada ainda, a garota começou a gritar - Ai! Você é um rato! Ratos não fazem isso! Nem na Austrália e nem em outro lugar do mundo!

- Vou lhe perguntar mais uma vez... - sussurrou o rato - Quem é você, como chegou a Cair Paravel e de onde você é?

- Mas... - começou ela, depois vendo o rato aproximar a espada de seus olhos - Certo, certo! Sou Harriet O'Neil, eu dormi em uma caverna em uma ilha pequena e não sei como vim parar aqui e eu sou da Inglaterra! Agora saia de cima de mim!

O rato pulou para o chão, permitindo que a garota se levantasse, gritando um nome que ela não conseguiu identificar. Em segundos, um homem de elmo montado em um cavalo apareceu na entrada da caverna.

- Escutei alguns gritos e já estava vindo para cá antes que me chamasse, Ripchip, e... - começou o homem descendo do cavalo, antes de ver Harriet - Quem é essa garota? Lembraria-me de tê-la visto antes se já tivéssemos nos cruzado.

- Chame mais um cavalo - pediu o rato calmamente, guardando sua espada na bainha - Vamos levar essa garota ao rei Caspian.

- O que essa garota tem de especial para ser levada ao rei? - perguntou o homem confuso. À primeira vista e à segunda também, a garota parecia um mendigo: suas roupas, além de não serem nada comuns, estavam cheias de areia e toda sua pele à mostra tinha machucados e arranhões, sem contar no corte na mão direita. Mas mesmo assim, ele tinha que admitir, ela tinha certa beleza e com certeza essa não era a razão para o rei querer vê-la.

- É o que vamos descobrir! - respondeu Ripchip, fazendo um sinal para que o homem se apressasse, depois se virando para a garota, com a voz calma e doce, como se tivesse se esquecido do acontecimento de instantes atrás - Vamos levá-la ao rei, filha de Eva.

- Eu não sou filha de Eva - disse Harriet, forçando sua voz para não gaguejar. Agora sentia medo: o que ela fizera para ser levada ao rei? Só podia estar sendo confundida com outra garota, afinal: - O nome da minha mãe é Helena.

Ripchip começou a rir e Harriet pensou que o rato tivesse lido seus pensamentos, descoberto que ela não tinha nada de importante e tivesse decidido jogá-la de volta ao mar.

- Filhas de Eva não são necessariamente filhas de uma mulher chamada Eva - explicou o rato - Filhas de Eva são garotas como você. São humanas.

Antes que Harriet pudesse perguntar mais alguma coisa, como a razão por ter que ser levada ao rei, o cavaleiro voltou com mais um cavalo marrom. O rato agilmente subiu no pescoço do animal.

- Espero que saiba andar a cavalo - disse ele. Harriet bufou aproximando-se.

- É claro que eu sei! - resmungou ela.

- É só deixar o controle comigo - informou o cavalo, se virando para a garota que gritou andando para trás, tropeçando e caindo novamente. O cavaleiro desceu para ajudar a garota que parecia gostar do chão.

- Eu ia descer para ajudá-la a subir - disse ele puxando-a pela mão - Não esperava ter que ajudá-la a levantar também.

- Tudo aqui fala?! - exclamou Harriet depois de já ter montado no cavalo.

- Estamos em Nárnia! - disse Ripchip rindo e assim eles começaram a viagem até o tal rei Caspian.

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