Capítulo 7 - A biblioteca

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Caspian acertou em sua previsão. Assim que Ahava terminara de cuidar de Harriet, ela foi atrás do homem para iniciar seu sermão. Demorara quase meia para fazer a mulher entender que a garota havia caído sozinha.

- Do mesmo jeito! – resmungou ela exaltada – Harriet é uma garota, não deve ficar por aí manuseando espadas!

Depois de mais algumas exclamações nervosas, Ahava voltou para seus afazeres, informando-o que ele já podia vê-la. Era aquilo que ele queria ouvir.

Correu pelos corredores e logo estava frente à porta da garota. Assim que bateu na porta, Caspian ouviu uma grande movimentação no quarto, um barulho de algo caindo e um "ai" abafado. Assustado, o homem entrou no quarto, encontrando Harriet desajeitadamente deitada em sua cama, com uma mão nas costas.

- Santo Deus, Caspian! – exclamou ela, assim que o viu fechar a porta – Podia ter avisado que era você! Pensei que fosse Ahava. Quase perdi meu pé!

- Você poderia me explicar o que diabos você estava fazendo? – perguntou Caspian, ainda confuso. Harriet se virou para ele.

- Ahava me mandou ficar deitada, mas eu estava cansada de ficar nessa cama, então sentei na janela – começou ela, alisando uma mecha de seu cabelo com as mãos – Ouvi você batendo na porta, pensei que ela tinha voltado, caí depois de tropeçar no tapete e o resto você viu com seus próprios olhos.

Caspian riu, sentando-se ao seu lado. Sentia-se sentando perto do desastre em pessoa.

- Acho que devíamos obedecê-la por alguns dias – sussurrou ele, encarando o teto alto do quarto – Suas costas ainda doem?

Harriet negou com a cabeça, passando a fitar o chão. Tinha que tocar naquele assunto, mas tinha medo do que ouviria. Queria saber o paradeiro de sua família, mas algo dentro de si temia ter que partir daquele lugar que ela se sentia tão bem.

- Alguma notícia da minha família?

O ar ficou pesado no cômodo, como já era esperado pela garota.

Caspian engolira em seco, enquanto tentava achar as melhores palavras para aquele momento. Não gostava do que sentia. Sentia-se inútil por não poder ajudá-la, por não poder tirar aquele medo e desespero tão expostos em seus olhos. Queria confortá-la, assegurar que nenhum mal poderia a atingir.

- Me desculpe, não – disse ele por fim. Podia jurar que vira o brilho dos olhos da garota se esvair, algo no fundo de seus olhos se quebrar – Nárnia é grande, pode demorar um pouco...

- Talvez... – começou Harriet, evitando olhá-lo nos olhos – Talvez eles não estejam em Nárnia, Caspian.

O rei se pôs de pé em um salto, assustando Harriet, que chegou a pensar que Ahava voltara. Ao ver a porta fechada, se virou para Caspian, parado a alguns passos a sua frente.

- Não quero que pense nisso – disse Caspian firme, se esforçando para não parecer uma ordem, embora fosse – Vamos esperar alguns dias. Apenas como última opção você retornará ao seu mundo.

Onde ele estava com a cabeça? Não poderia obrigá-la a ficar. Sequer a Nárnia ela pertencia, ele sequer era seu rei. Ela não o pertencia. Ele não era dela. Sentindo que seu sangue estava se concentrando em seu rosto, Caspian se encaminhou para a porta, deixando a garota confusa para trás.

- Boa noite, minha cara – disse ele, colocando mais força que o necessário na maçaneta, pronto para abandonar o cômodo. Mesmo confusa, Harriet suspirou antes de se pronunciar. Não entendera o que acontecera, mas não havia nada que pudesse fazer:

- Boa noite, meu rei.

- Não é apropriado você utilizar esse termo se referindo a mim – comentou ele a contragosto, sem olhá-la – Não sou seu rei, você não é narniana.

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