Capítulo Oito

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Blenda estava andando em direção a carruagem quando sentiu seu braço ser segurado com beligerância. Ela havia ido ao centro de Madrid com Lete, Sal e Maxwell para comprarem alguns acessórios para as gêmeas. Apesar das insistências de Max, eles não compraram nada para ela.

Já fazia mais de quatro meses que ela e Velásquez estavam juntos. Ele a cortejavam como ela fosse uma donzela, mesmo que realmente o fosse, já era uma mulher de avançada idade e não necessitava de tantas regras. Ele costumava rebater dizendo-lhe que vinte e seis anos não era velhice, mas sempre acabava vencido, com ela em seus braços, pedidos entre beijos e carícias.

Infelizmente, Maxwell era um pouco como o tio dela, gostava de mimar aqueles com quem se importava, sendo assim cabia a ela ser a controlada e impedir que Lete e Sal fizessem gastos exorbitantes e desnecessários. Ao final, elas não compraram o equivalente a metade das lojas de Madrid, mas compraram coisas belíssimas, que valiam cada centavo do valor. Blenda acabou se descobrindo amante dos chapéus tanto quanto as gêmeas, porém seu estilo era mais clássico, menos espalhafatoso, e mais... Alemão.

No entanto, ela acabou se distanciando dos outros três quando foi na livraria que localizava-se próximo ao local onde estavam. Blenda comprou dois novos livros que chegaram. Estava indo em direção a carruagem, onde Maxwell, Lete e Sal já deviam aguardá-la. Porém, pouco antes de se aproximar, alguém segurou rudemente seu braço, puxando-a sem delicadeza alguma, fazendo-a parar e olhar para o autor de atos tão indecorosos.

Olhou para o cavalheiro reconhecendo de imediato. – Schneider. – O nome escapou involuntariamente por entre seus lábios, a voz carregada de algo que ela reconheceu como um pequeno temor.

- Sentiu minha falta querida? – Indagou com um sorriso maligno. Blenda tentou puxar a mão de volta, mas o aperto era forte demais. Ela ameaçou gritar, tendo a outra mão dele lhe cobrindo a boca para calá-la. – Você escapou de mim uma vez Blenda, agora, vai voltar comigo para a Alemanha para que possamos nos casar como deveria ter ocorrido oito anos atrás. – Ela detestava ter de admitir, mas estava assustada, aquele brilho perverso no olhar de Manfred Schneider era novo. Na última vez que se encontraram isto não estava ali, um vislumbre de ciúmes e raiva sim, mas aquela caligem surgira recentemente. Não tinha como ser antigo.

Ela já estava começando a assustá-la mais severamente, quando fez a primeira coisa que lhe veio a mente: mordeu a mão dele com toda a força que poderia. Ele soltou um urro de dor, chamando atenção para eles. Aproveitando-se da situação, Blenda chamou por ajuda.

Seu grito obtivera ouvintes, pois logo Velásquez saíra da carruagem, mandando as gêmeas lá permanecerem. Ele olhou em volta e se alarmou quando viu Blenda presa por Schneider. Ele aproximou-se a passos largos, logo ficando a frente do homem, seus olhos estavam tomados pela fúria. Com certeza não muito diferente se Sir. Manfred, que não era exatamente um exemplar de sensatez.

- Solte-a. - Velásquez ordenou com a voz enraivecida.

- Nunca. Ela é minha. Sempre foi e sempre será. - Apesar da voz ter saído firme, quem olhasse com precisão, veria o desequilíbrio mental reluzir naqueles olhos. Veria a obsessão.

- Nunca! Solte-me! - Clamava Blenda um tanto espavorida, jamais se renderia. Jamais.

- Você vir... - Schneider foi interrompido por uma voz surpreendente, que Blenda não tardou em reconhecer. Uma voz de alguém que ela amava muito. Ele sempre aparecia no momento exato. Sempre estava lá quando ela precisava. Mas ainda assim, como ele poderia estar... Ali?

- Deixe minha sobrinha, Schneider. - A potente voz de seu tio estava com ares de dureza, exalando poder, ele sempre ficava assim quando era a sobrinha o referente afetado da ocasião. Sempre ficava feroz, como um lobo protegendo os filhotes.

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