05 ☠️ A procura

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Thulio

Continuei procurando e perguntando por Mharessa em todos os lugares possíveis, mas ninguém parecia ter visto ela, ou se viu, ignorou completamente o meu desespero.

Passei a noite limpando privadas, xixi no chão e a sujeira de garrafas quebradas espalhadas pelo bar, esse seria meu dia novamente. Não era o melhor dos trabalhos, mas eu precisava daquele dinheiro para encontrar a minha irmã e iria amanhã bem cedo fazer isso.

Quando o expediente acabou, corri até a pousada e arrumei todos os meus pertences em uma mala, precisava sair dali o quanto antes e resolvi fazer aquilo antes do sol nascer. Porém, uma ligação me interrompeu. Será que era a Mharessa? Torcia para que fosse.

- Mha?
- Olá, Thulio Ávila!
- O que você quer?
- Meu dinheiro! Sei muito bem que fugiu de natal com sua irmãzinha, e se você não me pagar o que prometeu, eu vou abrir a boca e a polícia irão achar os dois logo, logo! Creio que não queira isso, não?
- Eu não tenho dinheiro, me deixa em paz!
- Não interessa! Dê o seu jeito!

A voz que nitidamente era de uma mulher, desligou.

Senti raiva. Onde eu arranjaria três mil reais? O preço pelo silêncio daquela mulher só aumentava e eu não sabia mais como pagar, estava encurralado. Terminei de arrumar minhas malas e segui estrada à fora, a pé. Precisava procurar a minha irmã e quanto mais dinheiro eu economizasse, melhor.

Andei por horas, incansavelmente. Decidi parar um pouco e sentei no meio fio da estrada para descansar, precisava disso. Mharessa deve estar tentando chegar em Natal, então eu precisava tentar seguir seus passos. Se eu fosse ela, onde estaria agora? Não conseguia pensar! Minha irmã era imprevisível.

Depois de descansar, peguei um cigarro da mala que carregava e acendi com um isqueiro, traguei a fumaça, soltando-a devagar. Aquilo me trazia uma sensação esquisita de alívio. Quanto mais o tempo passava, mas me sentia sem sentido. Eu queria ver a minha irmã, ela era tudo que eu tinha.

Eu sempre estive perdido, mas acontece que só agora percebi: minha vida dependia apenas da existência delas. Agora que não tinha mais a Helena e a Mharessa, tudo parecia perder o sentido.

Eu queria, queria mesmo ser como antes; pensar positivo, rir dos problemas e encarar as dificuldades com esperança, só que qualquer resquício do que era antes se foi totalmente. Mharessa sempre me dizia que eu não era mais o irmão que ela conhecia, que brincava com ela quando pequeno e ela estava certa. Eu me sentia quase um morto-vivo, perambulando por aí sem objetivo algum na vida, a não ser comer e sobreviver. Isso tudo é uma droga! Não queria me sentir assim, mas não consigo seguir em frente. Apenas não consigo.

Continuei andando até meus pés doerem, comprei uma pipoca bokus para comer e segui meu caminho. Não importava o quanto estava cansado, precisava continuar andando e foi o que fiz, até o sol começar a se por. Sentei na calçada da esquina de uma rua que eu não conhecia e senti meus pés arderem. Doía muito, tanto que eu só senti a dor completamente quando sentei para descansar. Eu estava exausto e nem mesmo tinha ideia de onde estava, nem em que direção ia.

Meu celular tocou em meu bolso, atendi rapidamente na esperança de ser a Mharessa.
- Você está fugindo de mim, garoto? Irá pagar caro por isso!
- Quem é você? Por que me persegue assim?
- Alguém que sabe do seu segredo, você sabe muito bem. Se não cumprir o que pedi, vai sofrer as consequências garoto.

Então ela desligou novamente. Eu precisava sair dali, o mais rápido que podia, e foi isso que fiz. Peguei um ônibus para natal no mesmo instante, esperando para ter a sorte de encontrar a minha irmã logo.

***

Desci numa rua próxima a minha antiga casa, que lembrei ser justamente a rua onde a Júlia fazia balé. Decidi passar lá e ver se a Júlia ainda estava, para minha sorte, ainda viam alunas a sala de dança, as janelas eram de vidro e era possível ver de fora. Júlia estava lá. Esperei até que a aula terminasse para falar com ela.

Em poucos minutos, ela saiu sorridente da aula, era algo que gostava muito, de fato. Ver aquela garota sorridente e de bem com a vida me fez lembrar da pessoa que fui um dia.
- Thulio?! - falou, parecendo realmente surpresa em me ver. - O que faz aqui? Está tudo bem?
- Mais ou menos... preciso te perguntar algo, mas pelo visto você não sabe nada, né?
- Do que?
- Da Mharessa. Ela fugiu da pousada onde estávamos e até agora não sei pra onde ela foi, pensei que talvez ela pudesse ter voltado e te procurado.

Ela arregalou os olhos, surpresa.
- Meu Deus, a gente precisa encontrar ela! Pode ter acontecido alguma coisa, meu Jesus! Ela te deixou algum bilhete?
- Sim... - Peguei o bilhete do meu bolso e abri para entregá-lo a ela. Espero mesmo que ela não desconfie do nosso segredo, após ver as palavras de Mharessa.
- É estranho... parece que ela se sente culpada por algo, tem ideia do que seja?

Engoli em seco, estava nervoso. Como diabos eu explicaria tudo a Júlia? Nós Precisavamos de ajuda, mas envolvê-la no meio dessa confusão estava fora de cogitação.
- Na verdade, eu não sei - foi o que falei.

Júlia franziu o cenho, parecia desconfiada.
- Bom, acho que se quisermos encontrar a sua irmã, precisamos saber o porquê ela foi embora assim... não acho que tenha sido por querer voltar aqui, apenas. Afinal... porque saíram da cidade?
- Prefiro que não saiba disso, Julia. É perigoso. Agora eu preciso ir. Se souber de notícias da Mharessa, pode me ligar?

- Tudo bem, mas se precisar de ajuda lembra que eu estou aqui, tá?

Passei meu número a ela e me despedi. Se minha irmã não havia voltado a Natal, onde mais poderia ter ido? Eu não podia desistir de encontrá-la, precisava de pistas, mas cada vez mais, perdia minhas esperanças.

Mais Forte do Que Pensamos  (COMPLETO) Onde histórias criam vida. Descubra agora