q u a t r o

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Londres; 08 de julho; Por volta de 2:14 da tarde.

- Prontinho. – disse ao finalizar o curativo de uma tatuagem na panturrilha que fiz para uma moça no auge dos seus vinte e um anos.

- Eu simplesmente amei! Sério, tá lindo! – ela falava com empolgação.

- É só o meu trabalho, mocinha. – abri um imenso sorriso, tirando a luva de látex preta que é de uso obrigatório.

A observei levantar-se da maca, indo em direção ao espelho, ainda me elogiando. Será que ela sabe a dimensão da minha felicidade ao escutar essas coisas? E é para isso que sempre me reformulo, busco e estudo bastante. Engano as pessoas acharem que é só pegar uma agulha e sair furando. Existe todo um planejamento, foco e disciplina em torno de um grande profissional, apesar de achar que a perfeição não exista, por mais que nós sempre busquemos o nosso melhor.

Acompanhei-a até à saída do estúdio e voltei à recepção, checando com bom humor a minha agenda. Havia mais dois clientes, sendo que o próximo em quinze minutos. Com esse tempo livre, decidi conferir as notificações no meu celular.

Vamos lá, duas mensagens aleatórias de Bea, outra de Jade me convidando para sair e três ligações perdidas de Harry. Respondi os torpedos respectivamente desta forma:

"hahahahah n me lembrava mais dessa história, Bea. o cara deve estar se sentindo mt mal por isso hein. Angie."

"Oii Jade! Poxa vida, esse pub é ótimo, já ouvi falar mt dele apesar de nunca ter ido. Mas enfim, n tô na vibe de sair hoje :'( deixa pra próxima, ok? bjs! Angie."

Em seguida, pensei se mandaria uma mensagem também para Harry ou retornaria a ligação. Optei pela segunda opção. Disquei e tocou uma vez, duas, três...

- Angel? Graças a Deus hein! – ele atendeu ao telefone meio esbaforido. Pensei em que diabos esse homem está fazendo?

- Eu tô trabalhando, ué! Sustentando o meu pão. – respondi, enquanto olhava para o relógio de pulso e via que faltavam apenas oito minutos para o próximo cliente. – Você tá bem? Parece que...

- Estou morrendo? – escutei sua risada. – É que eu tava correndo, me exercitando, só isso.

- Entendi, mas enfim, o que o grande astro pop faz entre as chamadas perdidas de uma mera mortal? Responde rápido porque eu vou ter que desligar.

- Dá pra você parar de ironia, por favor? – pausa. – Nada. Era saudade só.

- Ahh para, impossível! – não consegui não rir. – Vamos, Harry! Sério... Fala logo.

- Eita, calma! Deixa eu recuperar o fôlego, posso? – mais uma pausa. – Eu queria te mostrar uma coisa aqui em casa. Prometo que não vai demorar muito.

- Ai, juro que não tava querendo ir pra lugar nenhum hoje.

- Poxa, Angel. – silêncio.

- Harry? – acho que falei de modo muito grosseiro. Droga. Eu e minha insensibilidade.

- Desculpa, então, foi um erro. A gen...

- Não, imagina! O erro foi meu. Eu vou sim! – não sei se é pior quando eu falo merda ou quando tento resolver a merda dita anteriormente.

- Ótimo! Então eu te busco no trabalho às dezenove horas, pode ser?

- Tá bom, pode deixar. Beijos. – Nos despedimos.

Terminei o meu turno e não precisei esperar muito para que o seu carro aparecesse na porta do estúdio. Adentrei, cumprimentando-o e partindo para a sua casa. Confesso que estou curiosa para saber o que ele tanto quer me mostrar, já que parecia nervoso ao falar comigo pelo telefone, apesar de ter tentado não transparecer isso ao burlar sorrisos que ecoaram em meu ouvido de forma desconcertante.

Em Meio à Escuridão (BTD) || H.S. || K.S.Onde histórias criam vida. Descubra agora