⊱ CAPÍTULO XII ⊰

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Episódio: Rose's Name

Naquela noite, o clima do jantar foi ainda mais esquisito – como se isso fosse possível.

Os olhos negros de Desmond encaravam Harry com mais intensidade, como se atentos a todos os detalhes do jovem, sondando-os e gravando-os. O cacheado gostava de ser o centro das atenções, mas ficava nervoso sob o olhar do tio, pois este vinha acompanhado de muitas e muitas coisas não ditas.

Quanto ao silêncio, deixara de ser incômodo e, ao menos para Harry, parecia quase que confortável – não fosse o peso das tantas perguntas que ele carregava consigo, é claro.

Em verdade, se tal ato fosse socialmente aceito, ele amarraria o tio em uma cadeira e o interrogaria até que todos os segredos daquela família estivessem expostos. No entanto, sua boca permaneceu em sintonia com o absoluto silêncio do ambiente, silêncio este que não condizia com a batalha que acontecia em seu interior.

De um lado, havia a razão lhe dizendo para falar alguma coisa. A lembrança que inundava sua mente era a dele mesmo, na carruagem dos Styles, deixando de questionar os pais sobre o que estava realmente acontecendo enquanto ainda podia fazê-lo. Aquilo acabou mal. Harry acreditava em ensinamentos provindos de experiências passadas, afinal era a única explicação plausível para que coisas ruins acontecessem com boas pessoas – o aprendizado. No entanto, do outro lado de si, havia a intuição lhe dizendo que aquele não era o momento para perguntas. Os livros de psicologia explicam a intuição humana cientificamente – o cérebro tem a capacidade de reconhecer previamente determinados traços de uma situação em particular e então enviar alertas informando-nos se é uma boa ou má investida. Harry acreditava muito em seus estudos, então, por óbvio, também acreditava nessa supercapacidade cerebral.

Quando Desmond deixou a mesa se despedindo, o jovem se deu conta que a intuição havia ganhado aquela batalha interior, pois sua oportunidade de perguntar qualquer coisa foi perdida por ora.

– Boa noite, Sr. Desmond – despediram-se os empregados em prontidão na sala de jantar.

Naquele momento, Harry notou algo ligeiramente incomum: o hábito de chamar os senhorios pelo primeiro nome era comum entre os empregados de Fell's Church. As regras tradicionais de etiqueta implicam necessariamente no tratamento pelo sobrenome, mas Harry não se lembrava de ouvir "Styles", sendo pronunciado sequer uma vez naquela casa – seja relacionado a ele ou ao tio.

"Os nórdicos são seres peculiares", repensou ele.

-x-

Liam havia feito com que Harry lhe prometesse que escreveria, mas antes que de fato tivesse tempo de fazê-lo, o curandeiro já havia enviado a primeira carta ao amigo e os empregados deixaram a correspondência sobre a penteadeira de Harry ao subirem até seus aposentos para a limpeza do espelho – este felizmente já se encontrava impecável outra vez, como se mensagem alguma tivesse sido escrita em sua superfície outrora.

O cacheado observava atentamente a letra caprichada de Liam, refletindo por muito tempo sobre o que responderia ao amigo – o curandeiro pedia para que Harry o visitasse em breve, no endereço do remetente, que se localizava no mesmo vilarejo do hospital – New Cambridge. Ele não queria admitir ao amigo que fora proibido de deixar Fell's Church como uma criança e, ao mesmo tempo, não queria mentir para alguém que o ajudara tanto. Dessa forma, apenas deixou a carta onde havia a encontrado, pois teria que pensar em algo.

Mystical (l.s)Onde histórias criam vida. Descubra agora