XII - Reencontro

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Faziam semanas desde que tiveram notícias oficiais de Lohan, fazia uma semana desde que Fenrys Elentya havia chegado ao palácio de inverno. Uma semana desde que não sabia ao certo o que estava acontecendo com ele.

Tentava ao máximo de manter longe da princesa de olhos de asas de corvo.  No entanto, era como se ela o provocasse como forma de diversão, brincando com o desejo que começava a borbulhar nele. Era errado, ele sabia, e sabia também que devia ser tudo coisa de sua cabeça cheia de imaginação. Fenrys nunca iria se dar ao trabalho de provoca-lo.

Caminhou até a escrivaninha abarratoda de livros de história espalhados  sobre sua mesa. Dezenas e dezenas de livros falando das mais variadas culturas, abertos em páginas amareladas cheias de gravuras pintadas em tinta negra, as palavras elegantes em diversas línguas diferentes lhe encarando.  

Soltou um longo suspiro e se deixou cair sobre a cadeira de encosto alto. Ergueu as pernas e apoiou-as na mesa, cruzando-as na altura do tornozelo.

Seus olhos correram pelas capas de couro até caírem sobre o diário com capa de couro que insistia em manter. Talvez estivesse escrevendo para que as próximas gerações lessem? Não sabia ao certo, mas era uma boa forma de manter a mente limpa dos pensamentos pesados.

Agarrou a pena e a mergulhou na tinta escura pousada sobre o tampo de madeira da escrivaninha.

Quando tocou a superfície do papel e a tinta espirrou, ouviu uma batida suave na porta.

Muito oportuno.

Levantou-se com um gemido baixo, passando uma mão pelos cabelos escuros e foi até a porta de eucalipto, pousando uma mão sobre a maçaneta.

Ao abrir a porta uma criada surgiu a sua frente, uma das que cuidavam da cozinha.

Ela sorriu, torcendo as mãos uma na outra. Era jovem, com um rosto comum e olhos castanhos, cabelo negro encaracolado e pele da cor da mais pura neve. As roupas cinzentas e sujas de criada não lhe caiam bem, de forma alguma. Mas aqueles cortes e cores não caiam bem em ninguém.

—Milorde — começou ela, baixando os olhos para os próprios pés. — há alguém esperando por você nos jardins do palácio. Deixaram esse bilhete há poucos minutos.

Lhe estendeu um pequeno pergaminho amarelado que mantinha enrolado nos dedos.

Franziu a testa, pegando o pergaminho e abrindo a boca para questionar, no entanto, a garota das cozinhas já estava no meio de uma reverência e se virava para seguir pelo corredor escuro.

Já havia passado das 22h e não fazia a mínima ideia de quem poderia estar lhe esperando nos jardins. Ninguém na corte gostava o suficiente do filho bastardo do rei para marcar um encontro no meio da noite. Ninguém além de Estela Orleans.

Soltou um longo suspiro e fechou os olhos, esfregou as têmporas e voltou os olhos uma última vez para sua escrivaninha de estudos. Sobre o tampo, aberto em uma página sobre legitimidade real, estava um livro daaerense.

Seguiu para o corredor e fechou a porta atrás de  si mesmo, ouvindo o clique da fechadura soar no silêncio da noite.

Os jardins estavam silenciosos, banhados pela luz da lua. As flores se erguiam dos canteiros em direção aos céus, as pétalas brilhando em suas cores de inverno feito diamantes incandescentes.

Rumou entre os canteiros de arbustos verdes e pinheiros anões, olhando em todas as direções. Não havia ninguém, nenhuma alva viva entre as folhas verdes.

Parou, enfiando as mãos nos bolsos, a impaciência começando a florescer nele. Nao duvidava nem um pouco de que aquilo tudo pudesse ser uma brincadeira de mal gosto, atrai-lo para o jardim para tirá-lo de seus afazeres. Afinal, se não decidisse até o final da semana o que faria com os traidores rebeldes o problema seria passado para um dos lordes membros do conselho do rei.

Trincou o maxilar, virando e seguindo pelo camimho que havia vindo. Não tinha tempo nem disposição para esperar que quer que fosse.

Mas então, ouviu uma voz grave e familiar demais se erguer a suas costas. Todos os ossos de seu corpo pareceram tremer confirme ouvia as palavras dançarem no ar frio da noite.

—Aonde vai, irmãozinho?

As suas costas, com um sorriso aberto e olhos negros feito carvão, estava Lohan Halist. A roupas estavam gastas e cobertas de sujeira, como se ele tivesse cavalgado pelas montanhas dias a fio, o que provavelmente era verdade.

O príncipe de um passo a frente, os cascalho chiando sob o peso de seu corpo.

—Você cortou o cabelo. —Ele declarou ao irmão, as sobrancelhas se erguendo.

Ekene prendeu a respiração, olhando fundo nos olhos negros de Lohan, analisando cada linha e traço de seu rosto, o rosto dos Halist, fino e anguloso, delicado e nobre como o botão de uma rosa vermelha. Ficava tentado a ansiar tudo aquilo, no entanto, Lohan fazia parecer tudo tão glorioso e magnífico que a ideia de estar em sua posição lhe dava vontade de vomitar. Nunca alguém poderia ser tão perfeito quanto Lohan parecia ser, e Ekene sabia muito bem que ele não era, sabia sobre cada um dos erros do irmão.

Respirou fundo, as mãos se fechando em punhos cerrados. E então, seguiu até o irmão, parando a alguns passos dele. Olhos azuis de oceano encarando olhos negros de escuridão.

Um sorriso brotou em seus labios.

Então, antes que Lohan pudesse dizer alguma coisa, o punho de Ekene acertou seu queixo, fazendo-o recuar alguns passos, uma das mãos esfregando o local que mostrava um corte leve sobre o lábio inferior.

—Isso foi por você ser um babaca, Lohan.

Halist - A Canção das RosasOnde histórias criam vida. Descubra agora