A cabana

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Os olhos azuis, treinados, correram a sala do trono a procura do ocupante do assento de ouro.

Thor desdobrou as mangas da grande capa que vestia até que cobrisse seus braços por inteiro. Já ia puxar o capuz para sua cabeça quando a porta lateral fora aberta e Loki entrou.

_O que está fazendo com minha... – a voz do rei morre ao entender o que se passava – você não pode sair.

_Eu preciso ver Trovão – o loiro se apressou em dizer.

Orbes verdes se prenderam nas afrontosas íris azuis.

_Não quero brigar, Loki.

_Acontece que você não tem querer, Thor – ele murmura, andando, com a coroa pesada repousando em seu braço, até o trono, onde se senta e coloca o objeto mais respeitado de seu mundo em sua cabeça – como pode ver, sua vontade não pode passar por cima da vontade de seu rei. E a minha vontade é que você jamais passe por aquela porta.

Apenas a respiração de ambos era ouvida. Thor estava começando a sentir-se preso no castelo, mesmo que a ideia tenha partido de si mesmo, como uma escolha que o deixaria livre do clamor do povo.

_Meu rei – inicia ele, arrancando um riso soprado de Loki – eu lhe peço.

_Eu nego!

_Venha comigo.

A sobrancelha negra se levanta.

_Pergunto-me se é tão idiota quanto aparenta.

_Loki.

O rei revira os olhos, tamborilando seus dedos no apoio do trono.

_Quero falar com mamãe – o loiro sussurra, para surpresa do outro – sinto-me acolhido por nosso pai enquanto estamos aqui, mas a presença de Frigga...

_No estábulo? – ele indaga com desconfiança.

_Eu... pretendia ir até a cabana.

A cabana, num monte onde tinha a melhor vista para o rio onde os barcos dragões eram lançados com os corpos de falecidos em chamas. Sagrado para eles. Frigga arrumava tempo entre todas as obrigações de uma rainha para levar seus filhos até lá, no monte isolado.

_ Fingiremos ser plebeus e... – a voz de Thor embargada pela lembrança das palavras de sua mãe.

_E depois voltaremos a realidade – Loki completa.

_Finja comigo – pede o loiro, dando um daqueles sorrisos onde seus lábios separavam-se no cantinho.

O rei encarou aquilo como uma ousadia imensa, desviando o foco de sua visão para qualquer lugar onde seu irmão não fosse visto.

_Vamos, Loki.

_Sabe que se sairmos agora voltaremos somente ao anoitecer.

_E o que há de mal nisso? A vontade do rei não é absoluta? Pode fazer o que quiser, é isso que vem falando aos quatro ventos desde que voltei.

_Eu preciso cuidar de Hela.

_Existem uns dez servos fazendo isso agora mesmo.

_Não gosto de deixar ela nas mãos deles.

Thor suspirou, cruzando seus braços fortes. Ele andou para mais perto do irmão, traçando um caminho que o deixasse novamente as vistas dele.

_Então a levaremos conosco – afirma, parando em frente a ele.

_Eu nem sei em que condições a cabana se encontra, Hela tem apenas cinco anos, a caminhada é difícil.

_Você dificulta tanto algo que é de fácil resolução, irmão – Thor se aproxima ainda mais, apoiando sua mão no espaldar do trono.

Undisclosed Desires - ThorkiOnde histórias criam vida. Descubra agora