Penitência

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Taehyung nunca soube qual punição Castiel recebeu, mas temia que aquilo chegasse até ele algum dia. Seu lar era o céu, e temia ter que perdê-lo.

E ali, enquanto observava o humano juntar alguns papéis que havia deixado cair no chão, Taehyung sabia que estava cometendo um grande pecado. O amor para com a raça humana. Como um arcanjo aos vinte e dois anos, suas asas seriam as primeiras a serem tomadas. Seria exilado de seu lar — o céu — e não tinha a menor ideia de qual era a punição principal, a que não chegou a descobrir quando Castiel foi expulso do Paraíso há anos. Apenas o punido saberia, na hora do julgamento.

Mesmo assim, mesmo tendo noção de tudo aquilo, continuava a admirá-lo. As madeixas negras, os olhos tão castanhos e belos, a pele clara como as águas límpidas do éden, o sorriso tão doce e agradável que fazia seu coração acelerar de êxtase. Alimentava um carinho por ele, o humano um tanto desastrado que lutava para entrar em algo chamado faculdade. Não entendia bem aqueles termos, mas sabia que deveria ser importante. O humano parecia sempre correndo atrás daquele ideal.

A primeira vez que o viu, foi um dia depois de ter se tornado um arcanjo, alguns meses atrás. Era como um teste, mas sabia que havia sido apenas coincidência. O humano tinha clamado por ajuda celestial após perder a chave de sua casa. Ele morava sozinho, logo não sabia como conseguiria abrir a própria porta caso não encontrasse a chave.

Os anjos podiam ajudar os humanos caso houvesse solicitação, por exemplo, como aquela. Mas estranhamente, nenhum dos anjos do céu pareceu ouvir o pedido além de Taehyung. Aquilo o deixou intrigado. Com um segundo clamor de humano, ele não conseguiu ignorar.

Não podia sair do céu sem permissão, mas havia muitos modos de ajudar um morador da Terra. Uma delas, era fazendo-o lembrar do que mais desejava no momento. E com aquilo, Taehyung fez o humano lembrar onde havia deixado a chave.

Aquilo ocorreu por várias outras vezes, quando Taehyung já permanecia aguardando que o humano saísse de casa para que pudesse observá-lo. Triste era os dias em que o humano não saia de dentro da casa, impedindo-o de vê-lo. Era doloroso, doía dentro de sua alma, e aquilo o assustava. Nunca havia sentido algo como aquilo, e apenas aquele humano proporcionava tais sensações.

E estranhamente, o humano conhecia-o. Ou ao menos, parecia conhecê-lo. Em um dia, ouviu o humano clamar por seu anjo. Seu desejo foi de ir até ele, como se para responder o chamado. E foi. E desde então, aquilo havia seguido assim. Era o anjo dele, tinha certeza. Como se houvesse sido predestinado. Fazia companhia a ele na Terra, ocultando sua imagem, deixando apenas uma leve presença sua para que o humano sentisse-o.

Mas desde o início ele soube que estava cometendo um pecado. Nem mesmo deveria ter favoritismo por um ser da Terra. Aquilo era contra os princípios celestiais. E, parado no meio do círculo enquanto aguardava sua punição ao ser descoberto, Taehyung sentiu-se como Castiel. Sem arrependimentos.

— Irmão Taehyung, meu pequeno prodígio — Miguel ditou baixo, as duas mãos sobre os ombros de Taehyung. Ele havia sido um grande instrutor para si, ajudou-o a conseguir passar dos dois níveis de devoção, conseguindo então, as asas. Não queria ter que decepcioná-lo. — Por que te perdestes em pecados?

Taehyung suspirou, insatisfeito. Não havia sido sua culpa. Descobriu que o sentimento que sentia dentro de si ao ver o humano era chamado de amor, e aquilo já estava em si. Só não tinha percebido antes porque o humano nunca o chamara.

— Perdoe-me irmão Miguel, não tive controle dos meus próprios atos — respondeu calmo, observando Miguel negar desacreditado.

— Me perdoe por ter que decidir sua punição, meu querido prodígio — Miguel disse, a voz era baixa, em um lamento. Taehyung sabia que mesmo que todos os arcanjos e anjos os estivessem vendo naquele momento, não podiam mais escutar as suas vozes. Seria dito sua última punição. — Amar uma criatura da Terra é amar o pecado. E isso é inaceitável no céu. Você, como um jovem arcanjo, deveria ter tomado cuidado. Será mandado para a Terra, suas asas serão guardadas para sempre, ou até que se redima dos próprios pecados e seja perdoado.

— Não cometi nenhum pecado — Taehyung disse sincero, como se aquela verdade estivesse implorando para ser dita.

Miguel ignorou seu comentário, continuando.

— E como punição por ter pecado contra o divino, você será obrigado a ficar do lado do humano a qual diz que ama, tornando-se um, sem poder nem mesmo auxiliá-lo quando ele precisar de ajuda. Tudo o que fará será observar, nada mais. Como Castiel, você nunca poderá amar o humano pela qual traiu seu lar.

Taehyung sentiu o coração apertado, sentindo-se entristecido. Não poderia mais nem mesmo ajudar o humano que amava? Que cruel. Seu coração doía, e imaginava se Castiel havia sentido a mesma coisa ao saber da sua punição.

— Irmão Miguel...

— Perdoe-me, Taehyung — Miguel respondeu, afastando-se. E aquilo já era conhecido por Taehyung. Miguel levantou a mão até o rosto, em direção a Taehyung, ditando as palavras do seu exílio em seguida.

E em segundos, Taehyung sentiu como se todas as suas forças fossem sugadas. As asas libertaram o peso de suas costas, aquele da qual tanto orgulhava-se. Seu corpo cansou-se em seguida, e a última coisa que viu e ouviu, foi o humano que amava, chamando-o.

Fallen Angel | taekookOnde histórias criam vida. Descubra agora