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Hoseok estava com dores no corpo? Sim. Estava sendo mal olhado? Também. Mas acima de tudo, estava aliviado. Primeiro porque o sonho da noite anterior havia o trazido uma sensação boa, ele não sabia como, mas sabia que aquilo o fez bem, mesmo que no final não fosse a realidade. Segundo, que Jang não havia ido para a faculdade hoje, isso significava um dia de paz.

Ele passou todo o seu período concentrado no que os professores diziam, ou tentava pelo menos. Sua atenção fora dividida em sistema nervoso felino e Chae Hyungwon, o garoto que tinha tudo para ser real, mas na verdade era obra da sua imaginação fértil. Ele se perguntava como poderia ter sentido de uma forma tão realista todos aqueles toques, como ele podia realmente ter se sentido abraçado e reconfortado sendo que, de certa forma, nada aconteceu realmente. Além disso, era a terceira vez que tinha o mesmo sonho; "isso é comum?" Hoseok se perguntava.

Lee então decidiu que passaria na biblioteca assim que acabasse a sua aula, pois pegaria alguns livros que tratassem esses assuntos de sonhos e misticismo para ver se achava algumas respostas para as suas perguntas internas.

Quando o professor finalmente os liberou das atividades, Hoseok andou com a cabeça baixa e abraçado nos seus materiais enquanto seguia em direção da biblioteca. Alguns os olhavam com pena, porque afinal, pobre desse garoto que tinha a doença do "homossexualismo" e mesmo apanhando não virava homem de verdade, não é? Mas Hoseok não precisava disso, ele não precisava dessa hipocrisia e de toda essa pena, ele sabia que não estava doente e que não era errado ser quem era. Ele não tinha culpa de que as pessoas eram absurdamente ignorantes ao ponto de rir de uma cena de agressão e tratar como doente aquele que apenas queria amar com liberdade.

Imerso nos seus pensamentos, ele entrou na biblioteca e foi em direção do corredor que indicava os assuntos variados, onde encontraria os livros de seu interesse. Hoseok pegou três que tinham suas melhores sinopses e parou de frente para a bancada, onde apresentou os livros junto de seu cartão para a bibliotecária.

Mais livros, Lee Hoseok?

É para algo importante. – Ele sorriu fraco, batucando os dedos na madeira, impaciente.

Ela apenas assentiu e registrou os livros que o aluno havia escolhido, então os entregou de volta e o olhou no rosto.

Sabe, na nossa unidade temos um psiquiatra, talvez você queira visita-lo. A bibliotecária teve a cara-de-pau de olha-lo com toda aquela falsa solidariedade.

Hoseok trincou seu maxilar e respirou fundo.

Boa noite, srta. Chwe.

Ele deu meia volta e deixou a biblioteca com os três livros em mãos, agora iria para casa. O garoto andou em passos apressados, ignorando toda e qualquer existência dos outros universitários. Só queria poder estar em casa logo, longe de todos aqueles olhares de julgamento que parecia devora-lo.

Assim que Hoseok chegou, ele largou o fichário no canto do apartamento e se sentou na mesa, onde largou os livros e abriu o que deveria ser lido primeiro. Em poucos minutos, havia colhido inúmeras informações sobre teorias que diziam de realidades distintas dentro dos nossos sonhos, o que o deixava com sede de saber mais. Enquanto um dizia que as nossas emoções criavam cenários na nossa própria mente, o outro dizia que nós fazíamos viagens interestelares quando dormíamos e também que o espelho poderia ser uma entrada secreta para o universo paralelo. Eram tantas palavras rodando na sua mente, que nem percebeu quando apagou por cima das páginas abertas do livro que antes lia.

**

Dessa vez Hoseok despertara de uma forma diferente. Assim que abriu seus olhos, teve diante dos mesmos a expressão calma de Hyungwon que lia um livro. O garoto pálido estava tão concentrado que sequer havia notado que o outro estava acordado. O mais baixo não conseguiu conter seu sorriso ao perceber que estava sob a presença de Chae novamente, e tinha certeza de que seu coração havia batido um pouco mais forte naquele momento. Hoseok levantou o seu tronco e se colocou sentado de frente para o outro, que abaixou o livro que estava em mãos e o colocou sobre as próprias coxas.

– Você acordou. – Ele disse e abriu um sorriso mínimo. – Demorou bastante até isso acontecer.

– Quanto tempo? – Hoseok Perguntou.

– Talvez duas horas. – Ergueu os ombros. – Essa foi a quantidade de tempo que eu senti.

– A minha foi um pouco diferente.

Os dois continuaram com o seu contato visual que, para eles, valia mais do que mil palavras naquele momento. Hyungwon conseguia analisar as emoções de Hoseok quando o encarava dessa forma.

– O que está lendo? – Hoseok perguntara novamente.

– Isso? – Hyungwon ergueu o livro e sorriu ladino. – É um desses romances renascentistas.

– Vai me dizer que é Romeu e Julieta? – O de cabelos ondulados abriu um sorriso divertido.

– É aí que você se engana! Aqui estamos tratando de "A Year in the Merde", aposto que nunca ouviu falar. – Chae arqueou uma das sobrancelhas, sorrindo.

– Ok, você ganhou essa. – Ele ergueu seus braços em sinal de rendimento.

Hyungwon contou para Hoseok toda a história do livro até a parte em que ele havia parado, o mais velho estava realmente interessado nas palavras daquele garoto que parecia ser tão culto e tão inteligente. Ele estava definitivamente encantado. O interesse se tornou tão grande, que ele pediu para que Chae voltasse a ler o livro, para que pudesse ler junto dele, então os dois se ajeitaram lado a lado a passaram a ler juntos. Hoseok deitou sua cabeça no ombro do mais alto e eles aproveitaram a companhia um do outro, sem precisar dizer nada.

Eram poucas as relações humanas em que as pessoas podiam se aproveitar sem precisar, de fato, falar alguma coisa. Era raro poder sentir confortavelmente a energia de alguém apenas por ela estar respirando ao seu lado, mesmo que estejam fazendo atividades diferentes ou que não estejam fazendo absolutamente nada. Hyungwon e Hoseok eram a prova de que essas relações ainda existiam, mas infelizmente, o tempo deles era limitado.

Aos poucos, Hoseok notou que as palavras estavam se tornando embaralhadas e ilegíveis demais e isso só podia significar que o seu subconsciente estava o abandonando novamente, era hora de voltar à realidade. 

dream ↠ hyungwonhoOnde histórias criam vida. Descubra agora