eight

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O relógio marcou dez horas da manhã, e isso para Hoseok significava mais uma hora sem dormir. Com os olhos fundos e grandes rodelas arroxeadas em volta dos mesmos, ele fitava o nada enquanto fingia prestar atenção na aula que o seu professor dava. Os ouvidos tinham informações sobre a história da medicina veterinária, mas a sua mente viajava no amado e as palavras da que antes o garoto chamava de mãe rodavam em um looping na cabeça dele.

Ele não se arrependeu de não ter ficado para o café no dia anterior, de não ter perguntado sobre a motivação de Hyungwon, de não ter perguntado quando exatamente aconteceu. Hoseok apenas queria fugir, fugir da realidade que o assombrara e de algo que ele jamais aceitaria tomar como verdade.

O ondulado levantou de repente, precisava urgentemente lavar o rosto e tentar, inutilmente, afastar os pensamentos. Caminhou em direção a saída da sala de aula, sentindo a respiração falhar outra vez e um nó tomar a sua garganta seca. Ele sabia que iria acabar sentado no banheiro chorando outra vez, só não queria tornar isso mais humilhante para si.

Lee entrou no banheiro e respirou fundo, então seguiu em direção ao lavabo e apoiou as mãos sobre o mesmo enquanto fitava o próprio reflexo no espelho. Não adiantaria estourar outro vidro, afinal, mesmo que quebrasse mil espelhos, jamais apagaria a própria imagem.

– Olha só... Parece que o acaso nos juntou de novo.

Uma risada sarcástica, podre e infelizmente reconhecida ecoou pelo banheiro masculino. Hoseok já sabia como aquilo acabaria e ele não iria lutar.

– Você está surdo? – Jang perguntou rudemente.

Hoseok, no entanto, não o olhou e, muito menos, o respondeu. Ele só queria que Jang acabasse com aquilo logo, já estava cansado do teatro de entrada.

– Suponhamos que esteja... – Ele riu outra vez. – Como eu posso fazer para esse gatinho miar?

O ondulado virou a sua atenção para o que era mais alto, pela primeira vez. O desprezo e a indiferença tomavam conta do seu rosto.

– Você vai acabar logo com isso, ou vai perder a oportunidade de bater no seu viadinho favorito? – Hoseok riu anasalado, com deboche.

Jang o fitou por longos segundos, sem dizer uma palavra sequer. O mundo agradecia a cada segundo em que essa anomalia ficava calada, era o que Hoseok pensava.

– Desistiu? Ótimo. – O mais baixo deu de ombros. – Aqui, se eu fosse você, eu iria logo. O seu namoradinho vai ficar com ciúmes.

Tão confuso quanto Jang, apenas as pessoas que o vissem de fora. Hoseok não estava agindo assim exatamente só porquê estava exausto o suficiente para não se importar com o corpo um pouco mais desfigurado, ele também tiraria proveito, da forma dele. Tudo o que o ondulado queria, era cair em um sono profundo o suficiente para ver Hyungwon, se essa era a única forma de encontra-lo, sendo real ou não. Talvez, o atleta ficasse irritado o suficiente para apaga-lo dessa vez.

Foi como ele esperava. No momento em que Hoseok finalizou a sua sentença provocadora, o outro homem desferiu um soco no seu rosto, sem pensar duas vezes. O ondulado estava tão alheio que sequer deu atenção às suas palavras ásperas que diziam sobre a sua sexualidade. Foram mais dois socos, talvez alguns chutes... Hoseok não sentia mais nada, principalmente porque em determinado momento bateu a cabeça na quina da pia e apagou em um desmaio, como já imaginava que seria.

**

Hyungwon lia um livro quando Hoseok despertou. O garoto pálido estava sentado no chão com as pernas em formato de lótus, sua expressão estava serena, como sempre. Quando ele finalmente notou a presença do ondulado, que agora estava acordado, sorriu. Ele fechou o livro de romance e o colocou ao lado do corpo, assim pôde tocar a bochecha do outro com leveza.

Algo dessa vez estava diferente.

Hoseok estava quase lúcido. Ele sabia naquele momento que Hyungwon só era real em um plano e que, ele não havia o contado sobre o fator principal. Antes de dizer qualquer coisa, ele afastou a mão do mais alto com delicadeza e se colocou sentado no chão.

Por que você não me contou? – Hoseok perguntou.

Hyungwon suspirou. Ele também sabia sobre o que Hoseok estava dizendo.

– Eu não podia...

O clima, que antes era tão puro e sereno, desta vez estava tenso e triste. O campo continuava verde e as flores continuavam cheirosas, mas a aureola de Hoseok e Hyungwon não coincidiam com o ambiente.

– Eu não posso ter você desse jeito... Eu preciso de você de verdade, Hyungwon. – O ondulado disse, sentindo os olhos marejarem.

– Você me tem, passarinho... – O garoto pálido respondeu, então tocou com o polegar a lágrima que escorria pelo rosto do outro.

– Eu não tenho... – Hoseok sussurrou.

O garoto dos lábios cheios engoliu em seco. Ele não queria ter que pedir algo assim, mas precisava. Antes de se pronunciar, o mais alto pediu perdão à toda e qualquer entidade existente.

– Então venha para mim. – Disse, enfim. – Não é tão difícil.

– Você está dizendo para eu...

Hyungwon apenas assentiu em resposta. 

dream ↠ hyungwonhoOnde histórias criam vida. Descubra agora