A caixa de papelão vermelha

112 29 397
                                    

-Helenaaaaa! Sai de dentro dessa caixa vermelha menina. Você um dia ainda morre asfixiada.

A caixa de papelão encapada de papel crepom vermelho ficava bem ao lado da cama da Paulinha- aquela loira enferrujada dedo duro - embaixo do palhaço de cabelos laranjas e olho azuis pendurado na cabeceira de madeira de jacarandá entalhada de flores e anjos. Dos céus?

No começo, era tanto medo daquele palhaço que ela mal conseguia pregar os olhos.

Dormia dentro da caixa de papelão toda exprimida e só pelo buraquinho podia respirar e espiar os passos de quem se aproximasse.

Mas como iria desprezar o presente daquela senhorinha que ia todos os domingos visitá-la?

Ah! A Dona Mirena. Ela vinha sempre com um cesto de vime cheinho de guloseimas embrulhadas em um pano xadrez preto e branco para as crianças.

Dizem as más línguas -grandes que ela havia  perdido uma filha quando era nova e nunca mais engravidou.

Dizem também que seu esposo arrumou outra por conta disso.

<Ô povo fofoqueiro>

Agora o palhacinho já tinha até um nome:

Pipoca. E ele não falava mal de ninguém.

Helena segurou a respiração entre os pulmões fingindo-se de morta e esperou pela Sra. Eloísa sentindo o suor percorrer por entre seu vestido de bolinha vermelho e branco- poá, também presente de Dona Mirena.

Contorceu todinha em cócoras até não mais aguentar e saltou de uma vez de dentro da caixa com as mãos pra cima como uma mini criminosa.

- Bhuuuum! Eu só estava brincando dentro do coração! - saiu Helena ofegante pelo medo da coça

Ops! Esta imagem não segue nossas diretrizes de conteúdo. Para continuar a publicação, tente removê-la ou carregar outra.

- Bhuuuum! Eu só estava brincando dentro do coração! - saiu Helena ofegante pelo medo da coça.

- Minha Nossa Senhora Aparecida que você me mata de susto menina doida! Isso é só uma caixa de papelão que você pintou de vermelho e pendurou essas fitas brilhosas - e puxava com força chacoalhando a caixa quase arrancando a decoração de um dia inteiro de Helena.

- A Senhora tem razão! É só uma caixa de papelão mesmo. E abafada viu?

Será que ela iria apanhar dessa vez? - pensou pingando em suor pulando de salto para fora do coração. Do coração não, da caixa de papelão.

- Você me inventa cada uma!

- Dona Eloísa, posso lhe fazer uma pergunta?

- Diga Dona Helena, cara de Jumenta. - até engraçada diante daquela astúcia da menina.

Helena quis desistir de perguntar, mas não podia engolir a pergunta já na ponta da língua porque sofria de indigestões. Então soltou como se fosse um gargarejo:

- O maaaa maaa maaarido da se se senhora não tem casa não?

- Que pergunta idiota é essa menina aborrecida? Deu pra gaguejar também? - não mais irritada do que incomodada aproximou-se da garotinha com os braços cruzados e olhar apreensivo.

O PICADEIRO E UM CORAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora