Uma futura escritora

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- Ontem foi um dia bom aqui no orfanato.

- O quê aconteceu para alegrar  esse seu coraçãozinho?

- É que teve um concurso de poesia e eu ganhei acredita?

- É claro que eu acredito!

Já passavam das dez horas da noite e Helena ainda estava acordada no meio de suas fantasias com o palhaço Pipoca.

Neste momento ela pulou da cama e pôs-se a rodopiar recitando a poesia em movimentos com as mãos acima dos sonhos das crianças que dormiam.  Na ponta dos pés tentou alcançar o céu como se soltasse no ar o passarinho da sua poesia...

>Voa pássaro amarelo, até o horizonte mais belo

Faça o coração da criança, sentir mais esperança

Que a mão do homem não levante para bater

Que a natureza não morra sem você perceber

Voa pássaro amarelo com tristeza no coração

de saber que no futuro, só existirá um escuro no mundo a flutuar<

E caiu sobre o chão com o corpo encolhido em abraço  como se o buraco negro houvesse lhe engolido naquela sua encenação mirim eloquente.

Quando levantou-se o palhaço já havia sumido e deixado algumas pétalas de rosa em cima de sua cama. 

Ali ela debruçou as preocupações do dia e tentou não pensar no fato do pai não ter ido vê-la nos últimos meses.

Tentou se esquecer da angústia de nenhuma família levá-la para casa.

Tentou manter seus pensamentos nos planos de ser uma grande escritora,  afinal, ela havia ganhado o primeiro lugar com direito a medalha e honra.

Dormiu então feliz com a certeza de um futuro promissor, embora ninguém viesse para lhe salvar na terra.

Em seu íntimo foi tomada pela força de acreditar ainda mais em seus sonhos, na firme certeza de que alguém lá em cima já havia trilhado profeticamente todo o seu caminho. 






O PICADEIRO E UM CORAÇÃOOnde histórias criam vida. Descubra agora