capítulo 6

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— Mãe olha meu desenho, — disse Beatriz alegremente me mostrando seu caderno de desenho que tinha ganhado de Alexandre. — Essa sou eu e você está aqui de biquíni, a gente tá na praia.

Faziam 5 dias que eu estava nesse quarto e só saia dele para fazer mais testes. Fui furada várias vezes para retirada de sangue, obrigada a fazer fezes em um potinho, enfiada em uma máquina de tomografia, e vários outros exames que não saberia nem os nomes. Beatriz me visitava todos os dias, mas sempre acompanhada por guardas armados, Juliana e Laura revezavam as visitas. Era muito bom ter a companhia delas, Laura ficava quieta muitas das vezes me encarando e sabia que ela sentia um pouco de medo de mim, ela me olhava com desconfiança toda vez que eu me aproximava de Beatriz. Não podia julgá-la, nem eu mesma sabia se eu era perigosa.

— Você anda comendo bem filhota?

— Sim, a comida da tia Margarida é maravilhosa. Ontem teve macarrão com frango e salada de tomate — ela se aproximou, senti seu cheirinho de mel e quis lhe encher de beijinhos, perto do me ouvido ela sussurrou — Ela sempre me dá um potinho de yourgute, mas ela disse que era segredo, então bico fechado.

— Tá certo, não falarei nada.

— Todos adoram Bea, — disse Juliana sentando ao meu lado — Ela é o centro das atenções no refeitório e por onde anda.

Saber que tratavam Beatriz bem e que gostavam dela era um alívio, não sabia o que tinha lá fora e muito menos aqui dentro dessas paredes. Não conseguia perguntar nada para Juliana, sempre tinham pessoas olhando. Um guarda ruivo veio dizer que a hora da visita havia acabado, abracei Beatriz e Juliana com aperto no peito, toda despedida me deixava com vontade de chorar, vi elas partindo sentindo uma tristeza de ficar sozinha de novo nesse lugar. Porém logo depois da saída delas a Doutora Estela entrou no quarto, com uma serenidade que me deixava nervosa, ela se sentou e dirigiu a palavra a mim.

— Olá Anita, os resultados dos seus exames são bem bons, aparentemente seu cérebro não teve alterações no lóbulo frontal.

— Isso e bom né? Quer dizer que não sou igual a um zumbi.

— Sim é bom, porém o vírus afetou parte dos lobos temporais, que são responsáveis pela audição, você tem alguma dificuldade em ouvir?

— Não, na verdade as vezes escuto os passos nos corredores, mesmo vocês ainda estando longe do quarto.

Ela anotava tudo em uma prancheta e olhava para uma câmera que ficava no quando do teto no quarto. Eu só notei ela porque todas as vezes que a Doutora me visitava ela olhava para câmera, como se estivesse alguém do outro lado, com quem ela estava em uma conversa silenciosa.

— Os testes de sangue deram negativo para o vírus, mas refaremos eles a cada semana, a mordida já cicatrizou o que é bom, vimos uma diferença em seus músculos, as fibras deles estão mais concentradas, eles tem a mesma consistência de fios de náilon, fortes, por isso você teve tanta força no dia que atacou meus homens.

— Isso significa que não vou nunca mais precisar de um homem para abrir um vidro de conserva?

— Exatamente — disse a Doutora segurando a risada, primeira vez que via ela rindo — e nosso último resultado de exame são dos seus órgãos internos — Nessa parte fiquei atenta, não pelo vírus, mas pelo câncer que minha mãe teve no fígado, vendo-a naquela cama sempre tive medo de um dia ter também — eles estão todos saudáveis.

— Bom, todos os resultados foram digamos positivos né? Então poderei sair daqui e ficar com minha filha?

— Vamos com calma. — Ela fez sinal para o guarda que a acompanhava, ele abriu a porta e entrou um enfermeiro, baixinho e cabelos encaracolados, em suas mãos uma maleta preta, ele a entregou a Doutora e se posicionou ao lado do guarda.

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