Epílogo

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Um oceano frio e escuro. Ela estava com um maiô vermelho, extremamente justo e chamativo, coisa que Maia nunca usaria. A marca não brilhava, tudo estava escuro, como um quadro preto e branco em que o mistério domina.

- Você está perfeita. - Ele suspirou enquanto estava apenas de sunga preta.

- Acho que você está exagerando mas não vou contrariar. Você está perfeito. Você é perfeito. - Disse com tristeza. Não podia impedir seu coração de estar triste. Sabia o que ia acontecer e por mais que fosse justo, ela não podia não ficar triste.

- E eu não acho que essas palavras se adequem a mim. - Ele riu. Mas logo murchou quando olhou em volta e raciocinou. Tudo estava escuro e triste, como o coração deles. Haviam falado do trato algumas vezes antes mas nunca a sério e sabia que agora era a hora. - O que eu não daria para sermos normais.

- É tudo o que eu mais quero. Ser normal. Ir ao cinema, ver um filme ruim e jogar boliche.

- Poderíamos sair pra comer, fazer brownies ou ir numa livraria.

- Seríamos só adolescentes de 18 anos aproveitando antes da faculdade. Indo em cafés e bailes.

- Iríamos beber escondidos em algum bar e passear de mãos dadas durante a noite.- Enquanto ele falava, um nó dolorido se formava no fundo da sua garganta, já Maia chorava mais do que achava humanamente possível.

- Se eu me sentisse mal ou magoada, poderia correr atrás de você, te achar e te abraçar. Seus braços seriam meu porto seguro onde eu poderia deitar e esvaziar a cabeça.

- E eu te acolheria quantas vezes precisasse. - Ele também já estava chorando. Eles sabiam que não seria fácil, mas não imaginaram que seria tão difícil.
Maia não conseguiu pronunciar mais nada. As lágrimas não paravam de rolar pelo seu rosto e cair naquele oceano de tristeza. Seus soluços ecoavam por tudo e ela só desejava poder acordar e vê-lo do seu lado, com o cabelo desarrumado, rosto inchado e com os braços abertos para ela deitar sua cabeça e se sentir sã e salva.
Mas isso não ia acontecer. Ela iria acordar e perceber que tudo foi mais um sonho. Lentamente, uma brisa começou a jogar seus cabelos.

- Você não quer um futuro comigo? Podemos fazer isso dar certo. - Ela finalmente perguntou o que não saia da sua cabeça há semanas.

- Pessoas nos machucaram tanto fisicamente quanto psicologicamente por esse amor que é bom demais para perder. Nossa infância e adolescência foram afundadas em depressão e remédios. Eu quero uma vida com você e é por isso que devemos fazer esse trato. Desde que nos conhecemos, é só nós. Quase como se não tivéssemos escolhas, entende? Esse tempo vai ser para nos focar em nós mesmos e decidirmos nosso futuro. Quero que fiquemos juntos por amor, não por estarmos acostumados com a presença um do outro.

- Isso é realmente amor? Quer dizer, você prometeu me amar, prometemos estar junto independente das coisas e olhe em que pontos chegamos.

O vento aumentou e ficou violento porém sem fazer som. As ondas balançavam de um lado para o outro e se houvesse uma embarcação ali, certamente estaria no fundo do mar.

- Não ouse por um segundo sequer duvidar dos meus sentimentos por você, isso não é justo. Eu te amei e te amo tanto quanto posso, tanto quanto é possível e você sabe disso. Sabe muito bem que se eu tivesse que escolher entre a minha vida e a sua, eu morreria sem pensar duas vezes. Você acha que isso é fácil pra mim? - Ele tentou respirar em meio aos soluços. - Acha que eu também não sofro quando acordo sem a certeza se você é real ou se é coisas da minha cabeça? Eu te amo mais do que é humanamente possível e só a ideia de terminar me apavora. Como vou viver três anos sem você? Como vou ser feliz sem aquela que me faz sorrir?

Ela sabia que não ia adiantar, afinal eles sempre ficavam distantes e sem conseguir se tocar, como se fossem feitos de fumaça mas ela nem se importou naquele momento. Precisava tentar. Fechou os olhos, implorou "Me deixem abracá-lo. Eu imploro, me deixe tocá-lo pela primeira e última vez" e olhou na direção do seu amado que tinha as duas mãos cobrindo o rosto, tentando esconder as lágrimas e abafar os soluços. Ela respirou fundo, enchendo os pulmões de ar e correu entre os ventos que a jogava para os lados como se sua vida dependesse disso - ela sentia que dependia. Suas pernas foram vorazes contra as rajadas de vento, porém finalmente seus corpos chocaram e ela passou os braços em volta dele.

- Eu te amo.

- Eu te amo. - Ele a apertou e tentou sentir o calor do corpo dela. As cores começaram a voltar lentamente e Maia finalmente entendeu o que tudo aquilo significava. Eles até poderiam ficar separados mas nunca deixariam de se amar. Pois o amor transcende a distância, a razão e todas as demais coisas.

- Somos eu e você...

- Juntos pra sempre. - Ele terminou o mantra.

- Isso não é um adeus. Pense em como um até logo. Quer dizer, ainda vamos continuar nos vendo, eu espero. - Ele sussurrou enquanto colocava seu rosto nos cabelos dela. Eles finalmente pareciam dois corpos e ele nunca teve tanta certeza de que ela era real. Eles eram reais.

- Não se esqueça de mim. - Ela pediu sinceramente.

- Jamais.

- Te vejo nos meus sonhos.

- Estarei esperando. - Maia sorriu e fechou os olhos sentindo se dissipar como fumaça e voltando a consciência.

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