Festa de Primavera

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Essa tem história... Faz parte de um conjunto de temas que surgiram em um momento de profunda revelação e inspiração musicais, retratando amor, uma angústia intrínseca que estranhamente gostava de sentir e, acima de tudo, esperança. Boa parte das ideias que integram uma pasta mental chamada "Grandes Projetos" são oriundas dessa época. Sou grato por tudo. É pelo tudo que estas maravilhas existem. Não seria quem sou se não tivesse abraçado a música nesses momentos. Assumo o valor da arte na minha vida. Bem, agora vou começar.
Tudo começa em meados de 2017: introspecção, uma mente nublada, um ouvido absoluto a caminho e assuntos mal resolvidos. Era uma pessoa bem triste na época, sentia-me deslocado, injustiçado pela vida, e pela fraqueza que não havia percebido que não possuía de fato. As pessoas, eram boas companhias, família, amigos, minha mãe... Isso se tornou mais fácil com eles, com ela. Mas no fundo ninguém tinha a capacidade de me livrar dos meus fantasmas e da sensação de que poderia ter sido mais presente nesses momentos, nos quais tanto me prendia. Agora, sobre a música.

Surgiu em uma noite de chuva, 22h30, por aí, quem sabe.
Em um momento onde suas faculdades mentais estão todas voltadas a uma realidade irreal, a um lapso temporal criado a partir de um desejo mal guiado, a vida passa a ser menos interessante e, no instante em que se acha a porta para este mundo paralelo, é como se os elementos de ambos os lados se misturassem. É quando o real e o fantasioso tornam-se indistinguíveis.
Em meio a tanta sinestesia, avisto no céu da mente uma trilha rosa, nebulosa e etérea, de simbolismo temporal, com a qual me comprometi a nunca esquecer desde a primeira vez em que a vi, no banheiro. Após isso, uma melodia em Mi menor foi surgindo aos poucos em minha mente e, como uma religião, me submeti a registrá-la. O piano é uma bela escolha para tal. A melodia é intensa, apesar de simples. A música, porém, no momento estava sem rabo nem cabeça. Começava do nada, e terminava da mesma forma. Do segundo trimestre ao início da primavera, a música hibernou.

Dados sobre a música: nesta época ela recebia o nome de Trail of a Sweet Spring, fazendo referência à trilha que vi mentalmente, "Spring" por se tratar do momento em que o lapso de realidade aconteceu (que foi em uma primavera), e pelo meu momentâneo desejo irracional de querer dar nome em inglês às coisas.

Quatro anos após a ruptura do mundo real, a primavera anuncia-se mais uma vez. A incerteza do amanhã fez com que eu pensasse e visse a vida com uma doce e enérgica melancolia: a mesma que me fez levantar com vigor e genialidade musicais incessantemente durante toda a estação.

Em meio a tantas obras sendo iniciadas e registradas, certo dia, olhei para fora pela janela do quarto, e lá estava a introdução da minha música.

Piano sublime,
Trazendo em si o anúncio do vento,
E em Sol, o retrato de uma única noite.

Sim, por ora, a ideia retrata um único dia.

Elucubrando por quatro anos, nota por nota é planejada minuciosamente. No que penso para compô-la? No momento, apenas na noite propriamente dita. Fora da realidade, porém real. Deixaremos esta parte da história aqui por enquanto, preciso falar de outra coisa para continuar, avançando no tempo, e voltando novamente.

Voltando aos bastidores, houve um momento decisivo para o rumo que esta música tomaria. Decidi voltar à realidade, e por fim ao lapso.
Indecifrável era o resultado final. A tensão aumentava. Em vez de a angústia dar lugar à adrenalina, ambas cresciam, de mãos dadas. Humanamente incontáveis os momentos em que vivi numa espiral de introspecção, na busca por uma resposta, eis que ela chega. Por algum período de tempo que não sei dizer, mas poderia palpitar uma semana, absolutamente nada fez sentido. Guardei minhas ideias cristalizadas em uma mala, e fiz uma viagem sem volta à vida real, onde não sabia mais meu lugar no mundo, afinal, estava fora dele há muito tempo. Enfim, um ciclo terminou, e junto dele, tudo, seja bom ou ruim. Não sentia nada, não queria nada. Por um momento achei que minha essência havia se gaseificado junto de tudo que se foi; o que nem ao menos havia tido princípio. Encerrando por aqui, voltemos lá pra cima.

Após toda a mudança no backstage -  como pudemos ver - e algumas reflexões acerca do sentido da obra, decidi continuá-la, porém, diferentemente do que se possa pensar e talvez um pouco difícil de entender: sem querer apagar a sua essência.
Agora, em minha nova fonte de inspiração:

Um jovem do vilarejo, ansioso pela Festa de Primavera da qual é convidado, guiado pelas luzes dos lampiões, chega em trajes de gala ao Grande Castelo Branco. A noite, escura, silenciosa e fria, age como uma passiva conhecida na história, até então.
Tomado pelo pressentimento de glória e levemente cauteloso por via da homeopática e levemente fincante solidão que fazia parte de seus dias, o jovem se depara com o abrir das portas do salão, e encontra-se profundamente maravilhado ao olhar para cima e ver lindos, luminosos e grandiosos lustres clareando por completo o salão de festas. No momento, todos dançam a tão valorizada valsa, em pares. O jovem se desloca até a mesa de alimentos, e apenas vê tudo acontecer, sentindo-se acomodado, e ao mesmo tempo, esperançoso por um eventual par. Por poucos instantes, troca algumas palavras pingadas com seu amigo, que se despede com um sorriso e um afago no ombro. Mais alguns momentos se passam a olhar os pares da valsa. Um leve frio na barriga surge, que logo cessa, pelo mesmo nada que origina-o.
Os momentos subsequentes o encaminham a voltar-se à mesa, virando-se contra a dança, mas algo acontece. O jovem sente uma presença, se desvinculando da multidão em movimento. Eis que se vira, e o que avista renova os ares da festa: uma linda moça, de vestido branco. Simples, se comparado ao restante dos figurinos, todavia, com um sorriso magnificente, que a outras alternativas é ofuscante, e igualmente desconcertante. A bela moça o convida para a valsa, e a música ganha energia, agora, com seu conjunto de cordas sobrepostas na repetição enérgica do que havia sido tocado antes no piano solitário. Depois de tantas alterações, tanta história, tantos sentimentos, mágoas e personificações, consolida-se de fato o que hoje é conhecida como Festa de Primavera.

Dados sobre a música: suas inspirações possuem firmamento atualmente: a moça não é mais fictícia e a noite não é mais incerta de alegria. A noite ainda está dançando, e para melhor. É esse o sentimento por trás do desenvolvimento da música agora.

A trilha, de fato, se partiu.
A música, não representa mais um só dia e sim, incontáveis e nada específicos. Para tal assim deve ser. Vejamos qual será o resultado final desta ideia.

Até há não muito tempo, eu gostava de dar continuidade à ideia exclusivamente no período da primavera, por razões simbólicas e sinestésicas.

Descrição musical:
Compasso: ternário simples (3/4, super conveniente)
Tom: Sol maior (introdução) e Mi menor (tema principal)
Andamento: moderato (introdução) e allegro (tema central)
Gênero: indefinido e orquestral (inspirado pela música neoclássica)
Tempo de duração: sete minutos e quinze segundos

Sinto que faltaram muitos detalhes, mas queria contar tudo em apenas um dia.

Fim.

Link da introdução da música: https://drive.google.com/file/d/1eTc4DgjbjXz1MzV45UzB5XoOrmckr49K/view?usp=drivesdk

Parte 1 concluída.

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