Esperança: Introdução - Parte 2

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Como vimos antes, os vetores das circunstâncias me apontaram o caminho que me ensinou a admirar a beleza das coisas, mesmo que indiretamente. Creio que meu anseio pelo estilo de vida do passado e a minha consequente sensação de deslocamento me fizeram viver mais intensamente, no presente; pois, se em um momento, não há nada de novo e está tudo bem, não há um contraste muito evidente - não tem problema a ser resolvido.

A sensação responsável pelos meus olhares, pensamentos e intenções mudou repentinamente, no momento em que soube que iria rever meus amigos, depois de aproximadamente 9 meses. Se antes eu já me encontrava no presente, agora era capaz de sentir a textura amarelada do tempo. Eis que chega o dia.

Lembro-me bem... meu cabelo não passava do ombro, tinha uma cara mais... "lisa", por assim dizer. Há tempos não me ajeitava com o gosto de que estava a experimentar. Eu estou usando a camiseta que usei naquele dia, neste exato momento, enquanto escrevo a caneta o que lê agora. É maravilhoso. Lembrar é uma virtude.

Em meio aos contatos que tive com o aniversariante a respeito da festa, percebi, depois, que havia esquecido de seu endereço. Usei a fase do entardecer para procurar por conta sua casa.

-Sabe? Aquele entardecer que em poucos minutos, já se despede.

Quando já estava perto de anoitecer, decidi ir à casa de um desses quatro amigos que não via há tempos, para me ajudar com o caminho. E tenho que dizer: como foi bom me perder. Conversamos super satisfatoriamente enquanto íamos de encontro com a festa. Digo que foi bom eu ter me perdido pois, este amigo que me ajudou a chegar lá é testemunha de Jeová, então não poderia comemorar o aniversário. Nunca entendi isso, como também nunca zelei por entender. Enfim, chegamos.

É incrível, pois neste exato momento, parece demais que isto ainda não aconteceu, ainda não: é como se fosse acontecer ou hoje, ou amanhã. Ao mesmo tempo, parece que aconteceu há um ou há dois dias. Neste retiro de inspiração me vejo imerso nesta corrente de poeira nublada, que faz deste dia da minha vida ser meu passado, meu presente e meu futuro, em um só. Estou temporalmente, geograficamente e sentimentalmente dentro da minha música.

Para continuar, voltaremos ao ponto em que chegamos no local da festa. Chamei, entrei pelos portões, já estava noite. O quintal tem gramado, árvores, é grande e bonito. A primeira pessoa que me chamou a atenção foi outro destes 4 amigos: Vitor. Sempre pacífico, super gente boa, me cumprimentou, e saímos conversando, trocando uma ótima ideia e piadas, como se nós nunca tivéssemos deixado de nos vermos. Sabe, acredito que em partes o que me faz ter tanta ternura com as pessoas e os momentos se dá por eu ser introspectivo. Eu esmigalho conjuntos de fatores subjetivos a respeito do que vejo; reflito, reflito, e reflito, como acabei de fazer, ao levar em consideração um conjunto de abstrações que me fizeram optar pela vírgula, para separa o último "reflito". A intenção se conserva.

Voltando:

Como disse, sou introspectivo. E naquela época, também era extremamente tímido. Não queria conversar com mais ninguém a não ser meus dois amigos. Tinha mais umas 20 opções.

Feito isso, me sentei no banco da parede, e fiquei assistindo à todas as pessoas e às luzes que me rodeavam. - Eu fecho os olhos e vejo isso.

Em dado momento tocou Anna Julia, do Los Hermanos. Todo mundo cantava e pulava, enquanto eu andava, ansioso e fechado, entre todos. Enfim, naquele banco esperei, sei lá o quê, mas esperei. Quem sabe tentar me acostumar em não fazer nada até o final da festa. Mas esta, porém, era uma visão insegura demais pra se ter consenso com a vida. Algo inesperado aconteceu. Já ouvi falar que os melhores encontros são queles pelos quais não esperamos. Não acho que deva ser uma verdade absoluta, mas neste caso, foi exatamente isto.

Ela chegou até mim e se apresentou. Seu nome é Amanda.

Admito que, sinceramente, eu não sabia o que fazer. Só tinha uma amiga na minha vida, e mesmo com ela eu era tímido.

Lamentável, visto que queria muito evidenciar meu interesse na hora.

Ela perguntou meu nome, e me convidou pra dançar no mínimo 4 vezes. Arrisco 6 vezes. Recusei todas, pois se mal sabia falar, quem diria dançar, e dançar funk (risos).

Lamentável.

Estava louco, por fazer algo a respeito, por ela, mas nada fiz. Esta situação explica muito bem o trítono presente no D/F# do jogo de cordas da Festa de Primavera. Sim, esta é a legítima Festa de Primavera, com seu início em um piano singelo e singular, sem cobrar nada. O mesmo vale para a repetição do piano com variações e o conjunto de cordas, evidenciando o acréscimo de um sabor imprevisto na vida, no instante onde tudo aconteceu e, simultaneamente, deixou de acontecer. Atualmente, esta música está inserida no repertório de uma orquestra, que passará a ressonar esta história por onde se apresentar. É isto que esta música carrega. Minha voz está nela, e finalmente ela será ouvida. Sou extremamente grato por isso.

Observação: a música Festa de Primavera está circunscrita na história de Esperança. Festa de Primavera ressoa toda a história de um único dia. A Esperança, por sua vez, conta uma história que se estende por mais de 3 anos, tendo seu início marcado, simbolicamente, neste mesmo dia, porém, com outra perspectiva.


Continua no próximo capítulo.

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