Esperança: Introdução - Parte 3

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Os dias transcorridos até 2 dois meses após o aniversário de meu amigo consistiram de uma pura, intensa e incessante euforia. No dia da festa ganhei o contato dela: "Se tiver alguma festa, me chama". Bem, o que eu fiz? Haha, você acertou.

Nesses dois meses onde eu pude manter contato, convidá-la para fazer alguma coisa e simplesmente viver a vida, acabei não fazendo nada. Por dentro queria quase a qualquer custo mandar um "oi" e arriscar. Vontade não me faltou: tinha de sobra. Infelizmente (ou com certeza que felizmente) não posso dizer o mesmo da coragem. Em minha cabeça se passava o receio de incomodá-la, chamando ela por nada, apenas por chamar, sem assunto. Mas era exatamente disso que se tratava: apenas chamar. Por alguma razão isso não me era óbvio na época, que, na verdade, estava apenas me esperando.

No ano seguinte, estaria eu a voltar a estudar no mesmo colégio de antes, com meus amigos novamente. Finalmente. Isso queria dizer que eu passaria a frequentar locais próximos dos meus amigos, dela. Depois disso tudo, cheguei a passar por ela na rua algumas vezes. Em uma delas, ela, inclusive, me deu "oi". É vergonhoso me lembrar que meu bloqueio fez com que eu nem olhasse pra ela. Depois de dois meses ela ainda esperava, com ânimo, pra conversar comigo, e isto não aconteceu.

Durante os mais de 3 anos em que vivi no martírio desses momentos, só agora percebo que não fui eu o único a sofrer alguma coisa com isso. Tudo bem, tenho quase certeza de que fiquei na pior nessa, mas não fui o único.

A respeito deste período de dois meses: é delimitado por uma barreira realmente existente, diferentemente de meu bloqueio mental. Ela começou a namorar. Ironicamente, isto foi compartilhado no Facebook exatamente no dia em que tomei coragem pra chamar ela. Acontece.

Sabe, tente imaginar a sensação de perda, de ter algo arrancado de dentro do peito, de ter que admitir que fui eu quem permitiu que isso viesse a acontecer, que fui eu quem deixou ir. 2015 começou com esses ânimos e na escola, ainda mais. Ela estudava no mesmo colégio que eu, e eu a via toda a semana, em pelo menos um dia.

Por mais que depois de todos os momentos à flor da pele, de toda a tristeza, introspecção, abstrações e espera eu tenha finalmente dito pra ela o que sentia, sinto que ela nunca soube nem teve noção da grandeza de todo esse sentimento. Todavia, o tempo das coisas serem ditas já havia partido. Não voltaria mais. Já se foi; já partiu.

Faço uma breve pausa aqui. Estou escrevendo para continuar a minha música, que fala sobre muitas coisas. O processo criativo requer envolvimento, e isto é algo bem profundo. É um sentimento muito forte, e o progresso precisa de sobriedade.

Aproximadamente 6 horas depois:

É curioso pensar em como a vida se deu desde o momento em que a conheci. O sentimento que criei por ela ao longo dos tempos me levou a caminhar por onde jamais imaginei poder percorrer algum dia. Ao mesmo tempo em que a tristeza foi tão grande em muitos momentos, sempre resisti e acreditei na vida, e isto tornava qualquer cenário possuidor de uma certa beleza. A sutileza dos verões quentes em família, dos invernos e os passeios a Gramado com os amigos, os outonos onde a desejava em meus aniversários e as primaveras... Onde a cada 3 de novembro, esperava por um novo recomeço. Todos esses momentos são tão doces, francos e bonitos, mesmo que vividos apenas por mim. Eu vejo tudo isso agora. Não sei exatamente o que estou sentindo.

Eu simplesmente agradeço por absolutamente tudo o que aconteceu, e pela forma que as coisas tomaram. Tive de passar por tudo isso para finalmente ser recompensado pela vida, de uma forma maravilhosa. Deixarei isto claro agora.

Acontece que, seguinte: eu ganhei meu primeiro instrumento no meu aniversário de 15 anos, relativamente pouco tempo depois de ter conhecido a Amanda (03/11/14 - 06/04/15). Recém havia começado a experimentar o gosto por tocar. Durante boa parte do primeiro ano, eu não sabia praticamente nada. "Teoria Musical" pra mim era um pesadelo tedioso. Até o final de 2016, minha sensibilidade (sentimental, não motora) foi aumentando, diante de todo esse contexto dos meus sentimentos por ela, então, com isso, tocava naturalmente pensando nela, ao mesmo tempo em que me perguntava o que me esperava depois do ocaso, e sobre o quanto duravam as luzes da noite. Nisso, criava algumas melodias, riffs, coisas curtas, apenas padrões, em sua maioria. Possuem muito potencial, porém são coisas muito simples, cruas, novatas.

Mas no momento em que a Amanda estava por se formar e eu, no primeiro ano, fui tomado por uma angústia entristecedora, pois se já havia tanto para dizer sem poder, imagine nunca mais vê-la. Em meus intensos devaneios, onde chamava a atenção dela, me imaginei tocando minha própria música para ela escutar, no dia em que fosse se formar. Me imaginava tocando com um violão e amplificador, escondido em algum lugar. Com isso, comecei a compor uma música.

No momento em que comecei a mexer com a minha ideia, fui gradativamente sendo tomado por um forte pressentimento de que algo fosse acontecer, como se eu sentisse que esta música pronta fizesse parte do propósito da minha vida; como se fosse ele. Foi então que mergulhei na música e em meus sentimentos, e a cada progresso que fazia com ela, percebia que eu definitivamente não teria como saber até onde isso chegaria. E o ponto disto é: esta é a mais importante das minhas músicas. Somente me derramei totalmente na música, porque tinha muito o que dizer. Foi esse intenso sentimento por esta pessoa tão especial pra mim que me fez realizar um esforço fora do normal para conseguir me expressar, pois, afinal, se me faltaram palavras onde deveriam haver, agora disponho de notas. Foi com esta música que descobri minha identidade musical, com ela que amadureci, até porque eu mal sabia fazer um Lá maior na época em que comecei a compô-la. Se não fosse por tudo isso que vivi, se não a tivesse conhecido, ou melhor, se tivesse ficado com ela, esta música não existiria, consequentemente não teria me descoberto, ficaria na casa dos riffs crus, provavelmente, e não seria nem a pessoa e nem o músico que sou hoje.

Esta música abriu as portas para as ideias mais geniais que já passaram pela minha cabeça, como a Festa de Primavera (2017 - presente), título indefinido #1 e Dilema, um misto entre metal neoclássico e música espanhola simplesmente aterrador, que ainda não saiu de minhas abstrações. Enfim, quero dizer que: Eu descobri meu propósito neste mundo, que é fazer música, e sou totalmente e profundamente grato, por toda a minha existência, por ter descoberto o meu talento. Isso tudo se deve a tudo que vivi, e ao fato de ter conhecido esta pessoa. Tenho um carinho imenso por ela, não há como não ter. Se antes o sentimento por trás era o amor e a incessante busca por sua correspondência - tendo em vista que tive a chance -, agora é uma lembrança doce de uma vida que foi vivida com muito amor, lembrança cheia de consideração e repleta de ternura. Este amor e esta gratidão vivem em cada nota que componho, pois devo tudo isso a ele.

Gostaria de um dia agradecer a ela por tudo. Porém, o momento disso ainda não chegou. E sinceramente não sei se ou quando chegará, da mesma forma como é com cada um dos meus projetos.

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