Capítulo 6

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Uma parte de mim, aquela parte piegas, romântica e estupidamente boba que habitava meu ser, já me imaginava de vestido branco entrando em uma igreja ao som da marcha nupcial, acompanhada de meu pai, enquanto Bernardo me esperava no altar chorando de emoção ao me ver tão linda e feliz. É claro que ele estaria chorando. Se existia algum homem no mundo que chorasse mais que ele, eu desconhecia. Era só começarmos a brigar ou eu ameaçar terminar a relação para que seus olhos começassem a ficar molhados. Foi realmente incrível ele não ter feito isso naquele dia, no shopping. Acho que estava sem reação.

Eu era, certamente, o homem daquela relação. Ao menos nesse quesito.

Ainda bem, no entanto, que essa parte sentimental e sem sentido de meu subconsciente parecia estar adormecida naquele momento. Ou talvez tivesse falecido ao ser esfaqueada pela traição de meu ex-namorado.

Se tivesse ouvido aquela pergunta dois meses antes, quando achava que estava tudo ótimo e que ficaríamos muito tempo namorando, que talvez estivéssemos até morando juntos em alguns meses, teria me sentido a mulher mais feliz do mundo, mesmo achando cedo demais para tanto. Mas, sinceramente, sendo a pessoa realista que era, aquela proposta não teria acontecido de verdade tão cedo.

Mesmo sendo romântica e acreditando no amor como acreditava, nunca pensei que algum dia seria pedida em casamento. Quer dizer, isso ainda acontecia nos dias atuais? Parecia ser algo saído de uma novela (de preferência uma telenovela latina estrelada pela Thalía e passando pela décima vez no SBT!).

Sempre pensei mais que entraríamos em um acordo, como se a partir de certo ponto do relacionamento os dois combinassem que estava na hora de oficializar o relacionamento, não sem antes passar pela parte de se conhecer, namorar e morar junto. Tudo tinha uma ordem, um tempo certo para acontecer.

No entanto, havia me esquecido o quão sentimental e romântico Bernardo era, sempre fazendo grandes declarações ou grandes surpresas. Sempre fazendo com que eu quisesse abrir um buraco no chão e pular para um reino desconhecido onde não precisasse passar por tanta vergonha. Por que precisava tanto que todos soubessem o quanto me amava? Não fazia o menor sentido.

Ele me pedira em namoro na frente da faculdade de direito, diante de todos os estudantes, com um buquê de flores. Como eu diria que não? Como eu não me apaixonaria?

Parecia lindo, exceto que agora entendia que tudo era parte de um plano maligno para me fazer acreditar que de todas as idiotices do mundo que poderia fazer, trair nunca seria sua escolha.

Ao ouvir a pergunta, um sorriso bobo foi se formando em meu rosto, depois uma risadinha nervosa. Coloquei a mão sob a boca para esconder meu desespero. Mas não se engane, eu não estava planejando responder positivamente. Em segundos estava gargalhando sem conseguir parar, com dificuldades para respirar.

— Isso é um sim? – perguntou, parecendo realmente contente. – Isso é felicidade?

Aquilo só podia ser algum tipo de piada. Ou isso ou nunca havia percebido o quão lerdo era Bernardo.

Sua falta de compreensão fazia com que a situação fosse ainda mais engraçada. Eu não conseguia não ser debochada naquele momento, ainda que soubesse que ele estava sendo sincero e que acreditasse mesmo no tamanho de seu amor.

Talvez por conhecê-lo tão bem é que soubesse melhor do que ninguém o quanto aquele amor era falso e apenas de aparências. Bernardo só não queria perder a namorada advogada, bonita e de família rica.

Ao menos era o que deveria fazer meu coração acreditar ao invés de focar na parte em que ele ainda estava apaixonado e completamente arrependido.

— Claro que não! – falei, em meio às risadas. – Não vou me casar com você, Bernardo. Levanta daí! Não seja ridículo!

Meu ex-namorado metido a mocinho galã de novela das seis finalmente resolveu se levantar, sem entender o que estava acontecendo.

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