Foi o jantar mais esquisito da minha vida. E tenho certeza que Henrique concordava sobre o quão embaraçosa era aquela situação.
Para começar, meus amigos nem chegaram a comentar o fato de que eu estaria presente em sua casa quando o convidaram. Logo, quando o primo de Carolina entrou no apartamento, sem ter ideia do que o esperava, e me viu sentada no sofá com provavelmente a cara mais estranha do mundo (e, posso até dizer, sentindo falta de ar e suando, mesmo estando 15ºC na rua), todo mundo percebeu seu choque. O sorriso com o que cumprimentou a prima morreu imediatamente. E a expressão que se formou em seu rosto, não sabia dizer se era vergonha, repulsa, confusão ou até mesmo curiosidade. Definitivamente não era alegria.
Ele sabia que alguma coisa estava estranha. Sabia que não o chamariam no mesmo momento em que eu (a não ser que houvesse outras pessoas, o que não era o caso). Fazia cinco anos que os dois namoravam e até então tínhamos nos encontrado apenas uma ou duas vezes ao ano, quando um de meus amigos fazia alguma festa e convidava todo mundo. E certamente que o máximo de conversa que havíamos tido nesses momentos era um cumprimento curto e simples, sem nenhuma gentileza ou animação.
O raro de tudo isso é que, mesmo sabendo que não nos dávamos bem, ninguém achou estranho o fato de que estávamos conversando sem nos exaltarmos (no sentido de trocar insultos) no aniversário de Igor. E ninguém achou esquisito sairmos ao mesmo tempo do lugar (como imagino que tenha acontecido).
Depois de passar pela porta, cumprimentando Igor com uma intimidade que não fazia ideia de que existia, minha amiga resolveu dizer, tão péssima em sua interpretação que era de se admirar que tivera coragem de abrir a boca:
— Lembra da Andressa, né, Ique?
Meu Deus, Carolina! Menos!, pensei. Já era bastante óbvio que a gente se conhecia, não precisava se fazer de burra!
Ele me lançou um sorriso tão ridiculamente falso e constrangido que cheguei a estremecer por dentro e por fora. Henrique não estava nem um pouco a vontade. E também poderia dizer que não estava contente em me ver. Imagina quando soubesse por que estava ali!
Queria mesmo não imaginar, no entanto minha mente não deixava isso acontecer. Não seria nada fácil aquela conversa e isso estava me matando.
— Eles se viram há pouco tempo, Cá. – disse Igor, parecendo um ator muito mais confiável, o que só fazia sua namorada parecer a única responsável por aquele encontro inesperado e ridículo. – Lembra, no meu aniversário, há um mês?
Observei Henrique engolir em seco e me olhar por poucos segundos, logo desviando, como para ter certeza de que eu não contara nada sobre nossa noite de loucura. E ele estava pensando nela.
Igor, incrivelmente adulto naquela noite (algo bastante incrível, considerando sua falta de maturidade na maior parte do tempo), resolveu oferecer ao amigo uma taça de vinho, que já estava aberto, porque Carolina também tinha ficado nervosa com toda a história. Ele rapidamente aceitou, provavelmente já esperando que precisaria.
Naquela noite, o casal de namorados falou sem parar, contando mil histórias, como se estivéssemos a par de tudo, como se sempre saíssemos os quatro. Apenas respondíamos a suas perguntas uma vez ou outra, mas não havia nenhuma interação entre nós dois. Inclusive, evitamos ao máximo ter que olhar um para o outro. Assim, até agradeci por termos sentado no mesmo lado da mesa porque, embora eu sentisse sua presença muito perto, não precisava olhá-lo diretamente.
A garrafa de vinho terminou bem rápido, e quando vimos, já havia uma segunda na mesa. Minha amiga parecia ser a que mais havia bebido. Henrique, por outro lado, mal havia encostado em sua taça.
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Tudo A Seu Tempo (degustação)
ChickLitAndressa foi criada para ser uma mulher independente e ter muito sucesso em sua carreira, por isso casar e ter filhos não está em seus planos. No entanto, depois de ser traída pelo namorado e beber todas em um aniversário, acaba ficando grávida just...