Duas semanas depois do ocorrido, achei que nunca mais meu dinheiro. Cassiani havia sido solto, mas ninguém me atendia no número que me deu. Às vezes só chamava, outras nem tinha sinal. E cada dia ficava mais preocupada de não receber meus honorários. Até porque já havíamos conversado e Cassiani prometera me entregar pessoalmente quando saísse.
Naquele dia, precisava mais uma vez ir ao presídio pegar a assinatura de um garoto que havia sido preso com drogas e que outro preso havia me indicado. Nem o conhecia ainda, mas já havia conseguido encontrar todo o processo com os dados que me enviara pelo Whatsapp. Sim, porque eles conseguiam se comunicar com o lado de fora muito fácil atualmente. Provavelmente era mais fácil falar com alguém que estivesse lá dentro do que com Carolina, que era a rainha de me deixar no vácuo por horas.
Entrei na sala e me aproximei do garoto que parecia ser o tal Diógenes. Ele era magrelo e mulato, como a maioria dos meus clientes. E jovem. Provavelmente tinha menos de vinte anos. A maioria tinha. E era esse tipo a maior parte dos meus clientes: garotos negros na faixa nos vinte pegos com drogas ou armas de fogo.
Sentei no banco diante de Diógenes, sorrindo amigavelmente e largando a pasta e a caneta na mesa.
Foi quando senti o perfume horrível.
Não me entenda mal, o garoto não estava fedendo a suor e sujeira. Por incrível que pareça, eles sempre estavam impecáveis quando vinham me ver. Era uma regra. Não era apenas porque era sua advogada, era por ser mulher. Dia de visita era dia de tomar banho, fazer a barba, cortar as unhas e se perfumar.
O maldito perfume ou desodorante, entretanto, tinha um cheiro pavoroso, doce e enjoativo, como chá de limão e mel. Tão enjoativo que precisei parar para respirar fundo umas cinco ou seis vezes. Porém, ao invés de me sentir melhor, o enjoo se tornou ainda mais forte.
Precisei correr até a lixeira mais próximo para vomitar, mas consegui segurar a tempo de não passar essa vergonha. Quando voltei até o garoto, ele me olhava com uma expressão assustada. Achei melhor dizer apenas que estava com uma indigestão, não queria ofendê-lo. Ele tinha se arrumado todo para me receber!
Diógenes assinou a procuração e me desejou melhoras enquanto eu me segurava para não ter outro ataque, respirando o mínimo possível pelo nariz e tentando não fazer cara de nojo, coisa que era minha especialidade. Assim que entregou toda a papelada, quase voei de volta para o carro o mais rápido possível, me distanciando daquele cheiro insuportável. Sentei no banco do motorista, ainda com a porta aberta, e respirei fundo, esperando que passasse. Levei pelo menos dois minutos para voltar ao normal.
Quando enfim me senti melhor, pensei em tentar mais uma vez telefonar para o número da esposa de Cassiani. Peguei o celular para discar e de repente um lampejo de memória surgiu em minha mente: o dia em que atendera ao telefone dentro do carro, no posto de combustíveis. A mulher havia me ligado do número da cunhada, o que significava que havia um outro número para discar. E eu tonta havia esquecido.
Fazia duas semanas, mas, rolando as últimas chamadas, consegui recuperar o número pela data e hora da ligação. Sem perder tempo, disquei e esperei alguém atender.
— Alô. – disse uma voz feminina e jovem do outro lado.
Não parecia ser a esposa dele.
— Oi, aqui é doutora Andressa, advogada do Cassiani. – falei, mesmo assim.
— Ah, doutora, graças a Deus a senhora ligou. – disse a garota. – Perdemos seu número e o Cassiani tá desesperado atrás da senhora. Ele precisa muito falar com a senhora.
Comecei a falar, mas pareceu que ninguém mais estava ouvindo. Ouvi vozes ao fundo, sem conseguir identificar o que diziam.
Depois de alguns segundos, a voz grave de meu cliente surgiu do outro lado da linha:
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Tudo A Seu Tempo (degustação)
ChickLitAndressa foi criada para ser uma mulher independente e ter muito sucesso em sua carreira, por isso casar e ter filhos não está em seus planos. No entanto, depois de ser traída pelo namorado e beber todas em um aniversário, acaba ficando grávida just...