Quando contei a Henrique que estava esperando um filho dele, não esperava que fosse aceitar o fato tão facilmente. O mínimo que esperava era que pedisse um teste de DNA, coisa que ninguém nem ousou sugerir. Muito menos esperava que ele já fosse se sentir preocupado com meu estado de saúde ou o do bebê, até porque nem tínhamos falado sobre isso. Até porque nunca tivemos uma relação assim.
Na segunda-feira, no entanto, recebi uma mensagem sua no Whatsapp, dizendo que tinha pegado meu número com a prima. Nem havia pensado que precisaríamos nos comunicar de alguma forma. A verdade é que eu não tinha a mínima vontade de me comunicar com ele. Henrique sempre me causava sentimentos muito ruins e não queria ter que ficar mais incomodada pela gravidez do que já estava.
Ele foi sucinto em suas frases, no entanto parecia interessado em saber se já havia ido ao médico, se tinha feito algum exame do pré-natal e se já havia feito um ultrassom ou ecografia para ver se havia mesmo algo dentro de mim. Suas palavras, não minhas. Palavras que pareceram bastante ambíguas, o que me fez pensar que ele talvez estivesse sugerindo que eu não tinha alma ou coração. Não seria a primeira vez. Era uma de suas temáticas preferidas quando estávamos no Ensino Médio, sabe, dizer que eu era um robô sem sentimentos. O que era bastante ridículo, considerando o quanto eu sentia raiva dele. Raiva era um sentimento, ou não?
Além disso, ele tinha muito mais características de um robô do que eu. Quer dizer, ele dificilmente fala, estava sempre sério, talvez até tivesse algum transtorno de personalidade como psicopatia. Até porque era só comigo que ele se transformava naquele ogro idiota. Como as outras pessoas do mundo, era muito simpático e sorridente, o que, aos meus olhos, parecia um claro indicativo de algum problema.
Goram muitas as mensagens. Sério! Ele estava falando mais comigo naquelas semanas do que no resto de nossas vidas. Me perguntou se me sentia bem, se sentia o bebê, se tinha plano de saúde ou se precisava que pagasse a consulta e os exames. Falei que estava bem, apesar de alguns enjoos e o cansaço, que não dava para sentir ainda e que meus pais pagavam meu plano de saúde desde que havia terminado a faculdade.
A verdade é que ele estava sendo bem prestativo e fofo, mas eu estava tentando não pensar que dentro do robô ogro sem sentimentos havia, no fim das contas, alguma bondade. Sabia que mais cedo ou mais tarde seu verdadeiro eu se mostraria e voltaríamos a bater boca como antigamente.
Dois dias depois, como previsto, suas mensagens pareceram muito menos simpáticas quando, pela terceira ou quarta vez, quis saber se já havia marcado o médico para começar a fazer os exames e saber se estava tudo bem com o feto. E, ao descobrir, mais uma vez, que nem havia ligado para marcar a consulta, pareceu bem mais o idiota que eu conhecia desde criança. Foi quando passei a distinguir os dois homens que habitavam o pai de meu filho: o Henrique Idiota, aquele que vivia discutindo comigo, sendo arrogante e metido, que me deixava irritada e com vontade de esfregar sua cara no asfalto, versus o Henrique Fofo, aquele que aceitara tão fácil que seria pai e que ainda ficava preocupado com nosso bem estar.
Só que o Fofo não estava mais presente e era bem provável que a culpa fosse minha mesmo. Havia me esquecido de marcar a consulta por ter muito trabalho a fazer. Certo, talvez não tenha sido apenas por isso. Eu estava com medo de ver que realmente havia uma criança crescendo dentro da minha barriga. Mas quem me culparia? Eu não tinha planejado que aquilo acontecesse.
Depois de me xingar de inconsequente, dizendo que seria uma péssima mãe, me deixando com muita vontade de mata-lo, ele pareceu se acalmar, embora em nenhum momento tenha pedido desculpas pela ignorância. Então me perguntou se precisava de uma indicação de Obstetra e se queria que perguntasse a suas duas cunhadas, já que elas eram mães.
Por um lado, fiquei bastante incomodada com o fato de que mal fazia quatro dias que havia descoberto sobre a gravidez, mas que já havia revelando a toda sua família, o que demonstrava mesmo que para homens a situação era muito mais simples. Garanto que ninguém ficou com pena e até o parabenizaram, mesmo sabendo que não tinha nenhuma relação comigo.
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Tudo A Seu Tempo (degustação)
Chick-LitAndressa foi criada para ser uma mulher independente e ter muito sucesso em sua carreira, por isso casar e ter filhos não está em seus planos. No entanto, depois de ser traída pelo namorado e beber todas em um aniversário, acaba ficando grávida just...