Capítulo 3

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A madrugada passou tranquila e os pacientes estavam estáveis e dormindo. Nós aproveitamos para descansar um pouco enquanto não amanhecia. A equipe médica estava espalhada pelos cantos do centro médico quando o sol nasceu, da minha mesa podia ver os raios entrando pelas frestas da porta, era hora da ultima conferida dos pacientes antes das altas. A equipe se dividiu e cada um cuidou de examinar os pacientes que tinham atendido durante a noite, nós preferíamos que o paciente ficasse por conta de apenas uma equipe para não gerar confusão. Fui distribuindo as altas e de longe avistei a capitã, já sentada no leito olhando pra mim, ansiosa pra que eu chegasse logo com a sua alta. Ela me deu um sorriso de canto de boca e pude jurar que vi um brilho incomum naqueles olhos extremamente pretos, retribui o sorriso  e continuei meus atendimentos. Não demorou muito pra que chegasse na vez dela.

- Bom dia Capitã, como está hoje? - perguntei enquanto aferia sua pressão.

- Muito bem, na verdade, quase não sinto mais nada -  ela dizia enquanto olhava para o horizonte.

- O humor aparentemente está melhor também, não é mesmo? - disse dando uma risada silenciosa.

- Ei, eu já pedi desculpa por isso - e de repente ela estava muito perto do meu rosto e me encarava - foi a concussão.

- S-sim, foi a concussão - eu disse enquanto me afastava sem jeito.

- Pronta para voltar ao serviço? - eu disse enquanto terminava de preencher a papelada da alta.

- Mais do que pronta, não vejo a hora - ela disse se levantando do leito. 

- Está liberada - entreguei o papel da alta pra ela.

- Alguma recomendação? 

- Evite pancadas na cabeça e tome um desses caso sinta dor com o intervalo de 6 horas. Qualquer persistência na dor ou sintoma não usual me procure aqui - disse enquanto entregava um frasco com analgésicos pra ela.

- Certo! Obrigada pela estadia e pelos cuidados, qualquer problema sei quem procurar - disse enquanto esboçava um sorriso de canto de boca. Apertou minha mão e saiu porta afora enquanto dizia um tchau.

Tinha sido uma noite turbulenta, a equipe do dia acabara de chegar para fazer a troca de turnos, porem eu teria que ficar, me reuni com a equipe, expliquei sobre tudo que havia acontecido e combinei de que sairia no meio da tarde para poder descansar, afinal estava a quase 36 horas acordada.

Cheguei no alojamento por volta das duas da tarde, tomei um banho e dormi, estava pregada. Acordei assustada as nove da noite com meu celular gritando absurdamente no meu ouvido, era Genji, estava preocupado que sumi desde o ataque na noite anterior e não dei mais notícias. Expliquei tudo que tinha acontecido e não me demorei muito ao telefone, acordar no susto me deixava de mau humor e eu não estava com paciência pra conversar. Me levantei, tomei um banho e me arrumei para sair pra comer. Cheguei na praça de alimentação e estava quase vazia, uma pessoa ou outra sentada aleatoriamente comendo algo. Pedi minha comida e enquanto não ficava pronta olhava ao redor procurando o melhor lugar pra me sentar e lá estava ele, uma pedra grande, num canto afastado, aberto ao céu estrelado e com bastante vento. Minha comida ficou pronta, paguei e fui pro local escolhido, me sentei de costas pra praça de alimentação e enquanto comia observava as estrelas e o mar de pedras que tinha ao horizonte.

- Olá doutora, Ângela, não é isso? - disse a capitã enquanto se sentava ao meu lado enquanto eu quase infartava de tanto susto.

- Meu Deus, eu quase entornei toda a minha comida! - eu disse me recompondo.

- Me desculpe mais uma vez - ela disse enquanto ria.

- Tudo bem capitã e sim é Ângela, mas pode me chamar de Mercy, é como eu fiquei conhecida nas operações. 

- Ok, Mercy. Meu nome é Fareeha, mas pode me chamar de Pharah, capitã é muito sério quando estou fora de combate - ela arrumava os cabelos para atras da orelha enquanto também se ajeitava pra comer.

- Não comeu com o pelotão hoje? - questionei.

- Tive um pouco de dor de cabeça, tomei um de seus remédio logo após a missão e apaguei, acordei só agora. Quase perco o horário da janta.

- Se essas dores continuarem eu vou precisar ver isso. Promete não resistir em ir me ver se isso continuar? - olhei fixo em seus olhos pra mostrar eu estava falando sério.

- P-prometo - e eu vi ela corar.

- Certo, agora me responde algo que me deixou curiosa? - tentei amenizar a conversa.

- Sim! - e ela agora olhava pra comida enquanto levava uma garfada atras da outra até a boca.

- Você tem alguém na família que se chama Ana Amari? - eu vi ela parar e me olhar com o canto dos olhos.

- Não sei, talvez... minha mãe! - e ela deu um sorriso torto e voltou a olhar pra comida.

- Você é filha de Ana Amari? - ele afirmou com a cabeça - Eu trabalhei com sua mãe neste mesmo alojamento a 19 anos atrás, sempre fez um trabalho absurdamente incrível e foi uma das minhas instrutoras.

- Eu entrei pro exercito por muito do que aprendi com ela e hoje sou capitã por que todo meu conhecimento veio dela, mas ela não se sente tão confortável comigo trabalhado no que ela trabalhou a vida toda, ela sabe os risco e se preocupa demais. Mas é o que eu amo fazer e não deixo que nada me atrapalhe. - ela disse tudo isso sem tirar o olho da comida e achei melhor não prolongar o assunto.

- Sim eu também vejo da mesma forma - pensei em falar do que havia deixado pra traz e sobre Genji, mas por algum motivo não me senti confortável, então não o fiz.

Ficamos ali por um longo tempo, terminamos de comer e engatamos em conversas sobre diversos temas, falamos sobre gostos e coisas da vida e percebi que estava encontrando uma amiga. Já combinávamos de fazer algumas coisas no tempo livre e nos horários de almoço e janta. Era bom ter alguém assim por perto, eu sempre ficava muito isolada nos alojamentos e não tinha muito com quem me divertir, resolvi dar uma chance pra que dessa vez fosse diferente. Eu estava animada e curiosa pra saber o que essa nova amizade me traria e também se eu me acostumaria a não ser tão formal e solitária em missões, pois eu sabia que a partir daquele dia Pharah estaria presente nos meus dias enquanto eu estivesse no Egito. E talvez, até depois.

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