New Life

I'm So Happy!

~~~~ Carol ~~~~

Gabriel me olhava com um misto de preocupação e receio. Respirei fundo e fechei os olhos por alguns segundos, tentando organizar meus pensamentos para que fosse capaz de dizer tudo de forma apropriada. Minha cabeça também estava uma loucura, ainda não tinha processado os últimos acontecimentos.

- Bom, meu irmão conheceu o Guto na aula de judô da escola, quando tinha sete anos. Uns garotos estavam implicando por ele não saber falar português (Guto é americano e tinha acabado de chegar ao Brasil) e, como Pedro é um ano mais velho e falava inglês, o ajudou. Desde então, são melhores amigos.

- Uhum... - Biel concordou e esperou que eu prosseguisse.

- Seu pai viajava muito a trabalho e a mãe ia junto. A matriz da empresa é nos Estados Unidos, então eles ficavam mais lá do que aqui e o Guto acabava passando um tempo considerável na minha casa e isso nos aproximou.

- E por que os pais dele o trouxeram para o Brasil então? - O garoto me perguntou.

- Para ficar mais perto da avó... E ela foi a razão de toda essa história começar.

- Como assim?

- Dona Wanda é viúva e saiu da América por conta das lembranças. Seu marido morreu servindo o país em alguma guerra e ela contava as aventuras do avô para o Guto. Mostrava fotos, os uniformes que ele usou, as medalhas de condecoração que recebeu, etc. Acabou que o sonho do neto passou a ser ir para a guerra e completar a missão de seu antepassado.

- Que doideira!

- Pois é... Os anos se passaram e continuamos os três muito unidos. Só que o Pedro terminou o colégio antes de nós dois e foi fazer faculdade fora. Eu sofri demais, sempre fomos super apegados, acabei emagrecendo horrores, não saía de casa, meus pais ficaram desesperados. E o Guto me deu todo o suporte nessa época, fez o papel de irmão. Para você ter uma ideia, eu só conseguia dormir se fosse com ele, comer só o que ele me dava e era a única pessoa com quem eu conversava... a Ju morria de ciúmes! - Essa lembrança fez um sorriso brotar em meu rosto.

- Sei...

- Um belo dia, alguns meses depois, quando eu já estava bem melhor, ele recebeu uma carta de aceitação do exército americano, o convocando para uma missão no Iraque. Eu fiquei louca, não queria deixá-lo ir, primeiro porque ele não havia me contado sobre o alistamento e depois, estava com medo de algo ruim acontecer. Nós brigamos feio, ficamos semanas sem nos falar e Guto foi embora... Eu não me despedi, mesmo todo mundo afirmando que me arrependeria depois e nem falei com ele desde então, muito menos permiti que alguém me desse notícias. Sim, fui egoísta e infantil. - Suspirei.

- Isso explica muita coisa.

- Vê-lo novamente, são e salvo, foi algo especial demais para mim. A ficha ainda não caiu, provavelmente vou chorar mais alguns litros quando isso acontecer.

Gabriel se aproximou e me abraçou forte, depois, deu um beijo no topo da minha cabeça.

- Estou aqui por você, para o que for necessário. Sobe, conversa com ele, descansa e, se precisar, me liga que eu venho correndo. - Respirei agradecida.

- Obrigada por tudo! Me sinto segura quando está por perto, foi bom ter você ao meu lado nesse momento.

Olhei para cima encarando seus olhos. Biel espalmou meu rosto e beijou minha boca com tanto carinho que estremeci dos pés à cabeça.

Ele foi embora e eu voltei para o elevador. Respirei fundo algumas vezes, apertei o botão com o número oito e subi até meu apartamento. Abri a porta e caminhei até a sala. Guto estava sentado no sofá, mexendo no celular e, assim que me viu, lançou um sorriso fraco.