No more friends

Um possível reencontro

Michigan – Estados Unidos
Verão ameno de 2019

Depois de três anos que eu havia me formado no ensino médio, enquanto andava no centro da minha cidade, encontrei uma pessoa que foi uma das minhas melhores amigas quando estávamos na escola. Essa pessoa era Stella Muller, a menina que durante os três períodos de ensino médio foi a nossa representante de turma.

Nos encontramos por acaso e sem intenção. Eu andava distraída pela calçada e ela, ao vim em minha direção, parecia apressada e totalmente desligada de tudo e todos. Porém, quando ela me viu, me reconheceu instantaneamente e automaticamente, nos abraçamos depois que ficamos felizes com aquele encontro inesperado.

Os anos se passaram, mas Stella continuou a mesma. A única diferença aparente nela era a cor de seu cabelo — era loira no ensino médio, e agora estava com os cabelos escuros. Seu jeito de falar era o mesmo, sua risada e até o seu senso de humor era o mesmo de antes. Porém, ao me encontrar, ela me disse exatamente o oposto.

Disse que eu era 'outra pessoa' — e eu até que concordei.

No ensino médio, principalmente no primeiro ano, eu era uma pessoa bem "esquisita" digamos. Não gostava de me arrumar, não me cuidava muito e sempre fui bem relaxada quanto a isso. Vaidade nunca foi o meu forte quanto a minha aparência.

Porém, de um tempo pra cá eu resolvi mudar e foi isso que chamou a atenção de Stella. Eu mudei, eu me cuidei, me arrumei e hoje em dia eu realmente sou outra pessoa se for comparar com quem eu era há três anos. Demorou para isso acontecer, mas finalmente, cheguei lá.

Fomos para o canto da calçada para não atrapalhar a passagem de todos, e assim, começamos a conversar. Perdemos o contato desde que nos formamos e Stella se mudou, então ao nos encontrarmos, tínhamos muitas novidades para contar. Contei as minhas, e logo em seguida, Stella começou a me contar as suas.

Começou a falar sobre as mudanças de sua vida e logo em seguida, lembrou-me de que seu aniversário de 21 estava chegando. Perguntei se teria alguma comemoração em tom de brincadeira, porém ela assentiu que sim e logo me convidou.

E, ao estar comigo e falar de seu aniversário, ela teve uma ideia. Ainda faltavam três semanas para que ela trocasse de idade, então Stella decidiu que durante esse tempo tentaria contato com todos de nossa antiga turma do ensino médio. Os convidaria e assim, faríamos um reencontro depois de tanto tempo em seu dia especial.

Seria realmente importante pra ela.

Curti a ideia desde que Stella a teve, e prometi que a ajudaria a encontrar todos. Trocamos nossos números rapidamente – pois ela estava realmente com pressa e atrasada – e depois disso, nos despedirmos e seguimos nossos caminhos.

Já dentro do ônibus a caminho de casa, comecei a pensar sobre aquele reencontro bem inesperado. E pensando nisso, pensei também na ideia de Stella e comecei a imaginar o quão legal e divertido seria se aquele encontro desse realmente certo.

Eu não sabia muito que poderia fazer para ajudar. Eu não tinha contato com muita gente desde aquela época, sempre fui mais afastada e Stella sempre foi a mais próxima de todos — a mais falante também. Mas confesso que ao ver sua animação, me ofereci para ajudar mesmo assim.

Naquele mesmo dia do encontro, já na parte da noite, Stella me enviou uma mensagem pelo Whatsapp. Começamos a fazer uma lista de nossos antigos amigos — que eram mais chegados a ela do que a mim — e assim, fomos pensando em como fazer tudo aquilo dar certo.

A ajudei como prometi e fiz o possível sobre o pessoal da escola. Depois disso, o assunto mudou e ela me contou mais alguns detalhes de sua festa de aniversário como, por exemplo: o dia, horário e onde seria.

E ao final de um tempo de muitas mensagens trocadas, que eu e ela resolvemos nos despedir. Ainda havia tempo para resolver tudo, então não tínhamos motivos para estarmos apressadas.

Confesso que a ideia de estar junto a todos que eu conheci na época que eu ainda era bem diferente, através de Stella, me deixou animada. Porém, fiquei nervosa também. Não tinha contato com todos há um bom tempo e não sabia o que esperar quando vissem minha mudança.

Porém, tentei não deixar isso me preencher de timidez. Eu queria muito ir àquela festa e isso seria bom. Eu mudei, mas foi pra melhor. E por mais que eu fosse me sentir insegura junto a todos e todas, foquei em outros assuntos e finalmente, tirei aquele assunto da cabeça para poder pegar no sono.

Três dias depois

Stella voltou a me enviar mensagens no celular. Supus que ela traria novidades e isso foi realmente o que aconteceu. Ela me fez sorrir ao contar que tinha encontrado a maioria das pessoas que tinham estudado conosco. Foi pelas redes sociais e telefone, assim que ela fez.

Não perdeu tempo em me dizer que tinha convidado-os e que eles também se animaram. Porém, como já era de se esperar, alguns deles já avisaram que não poderiam ir neste dia, pois teriam compromissos ou coisas do tipo. Mas, disseram que enviariam um cartão ou que ligariam para Stella na data.

Por sorte, isso não desanimou Stella — nem eu. A maior parte dos convidados tinha confirmado presença e era essa a parte mais importante. Continuei ajudando minha amiga com mais alguns detalhes e depois disso, apenas fiquei esperando o dia marcado chegar — pois faltavam poucos dias.

Com tudo já bem resolvido com Stella, apenas foquei em minhas obrigações e tirei essa história de minha cabeça por um tempo. Mas foi na véspera do aniversário de minha amiga que eu parei para pensar no seguinte: com qual roupa eu iria até a festa?

Sem muito tempo para pensar em algo diferente e sem muita vontade de ir procurar algo em meu closet que me agradasse, decidi tirar um tempo para ir ao shopping encontrar o look perfeito para a ocasião.

Resolvi ir sozinha, até porque se eu convidasse alguma outra amiga, com certeza eu ficaria ainda mais cheia de dúvidas depois de provar roupas diferentes. As opiniões sempre me deixaram um tanto dividida, então decidi fazer isso sem companhias.

Pensei que seria difícil. Eu realmente queria estar muito bonita para aquela noite no aniversário de Stella e pensei que nenhuma roupa me agradaria tão fácil. E se tinha algo que eu também era contra, era comprar um look inteiro que estaria na vitrine de uma loja qualquer por ai.

E foi exatamente o que aconteceu.

O look consistia em uma blusa florida num tom de azul claro e rosa. O manequim usava uma calça jeans totalmente branca com os fechos dourados num tom leve e nos pés, usava sandálias de fivelas num tom claro — um nude, digamos.

Caminhei pela loja procurando onde estava os tamanhos de cada uma daquelas peças que eu acabei gostando e assim, finalmente fui experimentar pela primeira vez.

Me olhei no espelho depois de já estar vestida e soltei um sorriso. É, não havia mais dúvidas sobre meu look perfeito para aquela noite. Coloquei tudo pendurado em meus braços e assim, fui ao caixa da loja. Enfrentei uma pequena fila, mas logo estive liberada para sair de lá.

Saí e por um tempo, caminhei satisfeita pela calçada com minha bolsa na mão. Porém, parei para pensar em algo importante que eu ainda não tinha me dado conta: o que eu daria de presente a Stella?

Parei de andar, me virei naquela direção mais uma vez e resolvi voltar até aquela loja. Certamente haveria boas opções de presente e eu tinha certeza de que Stella se agradaria de algum deles.

Uma bolsa pendurada no ombro da manequim me chamou a atenção depois de uma breve caminhada naquela loja. Era discreta e num tom feito o da sandália de fivelas que comprei. Tinha detalhes dourados, muitos bolsos e era algo que eu sabia que ela iria gostar.

E mais uma vez, voltei àquela fila de onde eu tinha acabado de sair. Chequei minhas redes sociais enquanto isso e logo que minha vez chegou, finalmente resolvi minha última pendência antes da festa de aniversário de Stella.

E agora, realmente, só o que me restava fazer era esperar o momento certo. Era só aguardar o momento de me arrumar, sentir aquele nervosinho na barriga, pegar o presente de Stella e finalmente ir até ela em sua festa de aniversário — onde estaria boa parte da minha turma do ensino médio.