5. Melly

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Olhei Francy incrédula enquanto tirava o meu telemóvel das suas mãos.
-Tu não fizeste isto!
A minha amiga encostou-se na minha cama descontraidamente. Não era uma situação descontraída!
Voltei a encarar as mensagens que ela tinha enviado.

Vamos fazer um jogo.

Rapaz-Problema: E que jogo seria?

Bem, digamos que um jogo das escondidas. A tua função? Descobrir-me. O que me dizes?

Rapaz-Problema: Hm, porque não usamos a maneira fácil? Diz-me quem és.

Deixa ver...
Não.

Rapaz-Problema: Tudo bem, alinho.

-Como pretendes ajudar-me a resolver isto? – Perguntei tirando a almofada (= travesseiro) em que Francy tinha a cabeça apoiada.
Ela levantou-se e encolheu os ombros.
-Vais jogar, LOL.
Levantei uma sobrancelha. Era uma brincadeira?
-Não, não, não, Franc! Não posso fazer isso.
-Porquê?
Naquele momento, o jeito descontraído da minha melhor amiga estava a irritar-me.
-Porque não quero que saibam quem a Girl of words é! Está perfeito assim, em segredo.
Francy levantou-se e ficou virada para mim, olhando-me de cima. Puxou o meu queixo.
-Amiga, tens o rapaz mais popular da escola interessado em saber quem és. A escola está praticamente toda assim. Nada garante que Joshua vá descobrir a tua identidade! Aproveita a atenção dele. E olha, se ele descobrir só tens de pedir segredo.
Dei um riso sarcástico. Provavelmente assim que soubesse quem a GOW é iria espalhar pela escola toda! A minha vida ficaria um caos!
Por outro lado uma oportunidade dessas poderia aparecer-me somente uma vez na vida. Divertir-me um pouco com o ex-capitão da equipa de futebol? Morrer eu não morreria, certo?
-Okay, vou entrar na brincadeira. Um bad boy como ele também não irá prestar grande atenção a este assunto, certo?
Peguei novamente no telemóvel, que já havia atirado para cima da mesa de cabeceira.
Fiquei um tempo com ele nas mãos. Virei o olhar para a minha amiga de cabelos lilás, que já me olhava com uma expressão interrogativa.
-Não sei o que escrever! – Disse revirando os olhos irritada comigo mesma.
-Uau, um santo caiu do altar.
Ignorando a observação dela, continuei.
-A ideia do 'joguinho' foi tua. O que escrevo, Franc?
-Dá-lhe umas pistas quaisquer. Ou umas adivinhas, sei lá.– Os olhos da minha amiga emitiram um brilho que me fez engolir em seco.– Já sei! Umas charadas!
-Eh... O quê?
Francy ajeitou-se ao meu lado e olhou para um ponto qualquer atrás de mim, imaginando qualquer coisa.
-Então, umas perguntas ou assim sobre coisas sobre 'ti' e reportagens tuas. Se ele acertar mais de metade pode encontrar-se contigo!
A minha boca abriu-se surpreendida e logo a seguir fechou-se, de frustração.
-Eu não quero que ele saiba quem sou.– Falei pausadamente.
Parecia que estava a falar uma língua incompreensível. Talvez marciano.
Francy bateu palminhas, entusiasmada.
-Joshua pode estar vendado! Meu Deus, não seria fofo?!
Revirei os olhos. Mas de repente... Até não me pareceu uma ideia horrível.
Coloquei a mão no queixo.
-Não sei... E se...
-Melly! Chega de "e se"! Pode ser tão divertido! Já pensaste? O rapaz mais popular da escola? O tudo de tudo? O Top supremo! Está interessado em ti!
Okay, como sempre a minha amiga começava a viajar demais e imaginar coisas muito além da realidade.
Eu podia entrar na brincadeira, mas eu não perdia a noção de duas coisas: 1- Joshua só quer saber quem é a rapariga de quem toda a escola tem falado e 2- Ele é um dos seres mais irritantes e problemáticos do mundo! Eu não me dou com pessoas assim.
Decidi ignorar os alertas que a minha cabeça dava e todos os contras daquela situação. Comecei a digitar.

É fácil, a sério.
Eu vou fazer-te umas perguntinhas sobre a minha pessoa e as minhas reportagens. Se tu acertares mais do que metade delas encontramo-nos.
Ah, tu terás os olhos vendados!

Rapaz-problema: Eu quero saber a tua identidade, não a tua personalidade. Não estou a tentar encontrar uma namorada.

Isso é um não?

Rapaz-Problema: Não. disse que alinho, não foi?? Podes começar o interrogatório!

Um sorriso apareceu no meu rosto sem ser convidado. A sério que Joshua topou?
Entreguei o telemóvel a Franc que leu as mensagens rapidamente e sorriu satisfeita.
Levantou-se depois de ver as horas no seu relógio.
-Tenho que ir. Falamos amanhã.
-Okay.
Levantei-me também e acompanhei-a à porta.
Olhei em volta. Plena sexta-feira e a casa estava completamente vazia. Sem sinais da minha adorável mãe.
Dirigi-me à cozinha gritando o nome da nossa empregada.
Amelia apareceu atrás de mim com uma expressão preocupada.
Sorri para acalmá-la e abracei-a. Amelia vinha a nossa casa três a quatro vezes por semana fazer as limpezas. Antes também cuidava de mim, mas deixou de ser necessário. Agora era quase como uma avó para mim.
-Amely, podes avisar a mamã que fui a casa do pai?
A velhinha com os cabelos totalmente brancos mostrou-me um sorriso simpático.
-Esteja descansada, menina. Mas chegue a horas do jantar. Sabe como a sua mãe é com a pontualidade.
-O jantar tem de ser servido às 9 horas em ponto.– Falei imitando a voz grave da minha mãe.
Amely riu e voltou a sair da cozinha e eu caminhei até casa do meu pai.

Anonymous Words || Palavras AnónimasOnde histórias criam vida. Descubra agora