4. Joshua

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A repórter fantasma deixou de me responder assim que disse que queria saber a sua identidade, dizendo que me contactaria novamente em breve, isso há três dias. Conveniente.
Podia perguntar mais alguma coisa à rapariga de cabelo lilás que chefiava o jornal, mas algo me dizia que não valeria de muito.
Recostei-me no sofá gasto do meu humilde (vulgo, pobre) apartamento (vulgo, cubículo).
Às vezes ainda me perguntava porque tinha saído da minha confortável e grande casa para um apartamento com apenas três divisões. Era até uma sorte o banheiro estar em condições! Depois lembrava-me da ausência do meu pai e das discussões por causa dele, cada vez mais insuportáveis.
Mexi no cabelo, um tanto nervoso. Bem, a palavra correta seria ansiadade. Algo na maneira como a jornalista escrevia deixava-me curioso. Ela ia contra o que todos os alunos achavam quase proíbido: falar mal sobre os 'populares' e confrontá-los. O que era exatamente o que ela estava a fazer, principalmente com Jennifer que perseguia Clark sempre que podia.
Não era estúpido? Palavras nunca foram realmente importantes para mim. Talvez pelo facto de nunca ter ouvido coisas realmente importantes.
Comigo era assim: ou um par de socos ou uma pequena discussão debaixo dos lençóis. E estava ótimo.
Por algum motivo essa tal de G.O.W. parecia passar ao lado dessa realidade – o que até era raro nos adolescentes da atualidade, não?
Umas batidas insistentes vindas da porta tiraram-me dos meus pensamentos.
-Ainda não acredito que vieste para esta... Zona.– Disse assim que abri a porta.
-Clark, entra por favor. Mi casa es tu casa.–Completei com um leve tom sarcástico.
O meu melhor amigo atirou-se para o sofá e sorriu.
-Planos para hoje?
Encolhi os ombros e acenei negativamente.
-Então, Edwin! Sexta-feira à noite e não vais nem ao bar ao fundo da rua?
Revirei os olhos.
-Népia. Desta vez passo.
Clark levantou as sobrancelhas, como que a pedir uma justificação. Que eu não tinha; queria ficar quieto. Pelo menos uma sexta-feira.
-Tudo bem. Podemos contar contigo para amanhã? Estávamos de preencher aquele muro já faz um bom tempo.
-Claro. Não falto por nada.
Esfreguei uma mão na outra, o que fez Clark rir.
Enquanto tocávamos guitarra – uma paixão que parecia ter-mos criado quase ao mesmo tempo – o toque insistente do telemóvel do loiro ao meu lado tirava-me a concentração.
-Não vais atender? – Perguntei por fim, depois de voltar a errar uma nota.
Clark encolheu os ombros antes de responder.
-É a Jennifer. Ela não sabe bem entender o significado da palavra "acabou".
A sua expressão não era de mágoa, dor ou tristeza. Era simplesmente de tédio.
O baile segue. Pensei.
Passou-me pela cabeça referir Dave e perguntar-lhe como se sentia em relação a isso. Por outro lado, rapidamente lembrei-me que, embora fôssemos amigos desde que me entendo por pessoa, Clark e eu apenas falávamos sobre sentimentos em casos extremos. Como morte, conspiração ou se ele desse em cima de (=flertar) Janet.
-Aquela miúda do jornal...
-A secreta?
-Não, a chefe. Ela não te pareceu interessada no Tunner? – Perguntou Clark referindo-se a Dave.
Levantei as sobrancelhas.
-Isso interessa?
Pousei a guitarra no chão enquanto ele olhava por breves momentos o nada, nalgum ponto atrás de mim.
-Lembraste do jogo de ontem?– Acenei para confirmar antes dele continuar.– Acho que o Tunner dedicou-lhe os dois golos que marcou.
Tlim. Fez-se luz na minha cabeça.
Clark podia não ser de se apegar a nenhuma rapariga, mas não deixava barato ser feito de idiota.
-Hmm, estás mesmo a pensar em...?
-Ela é bonita, não é? Tunner gosta dela, Jennifer parece não a suportar. Então, porque não?
Aquela ideia não me tinha agradado nada. O pouco que falei com ela, sobre GOW, deu para fazer-me entender que ela é realmente uma boa miúda (=garota). Diferente das que Dave e Clark costumam levar para a cama, que são apenas... vulgares?
Franzi o nariz mostrando o meu desagrado com a ideia.
-Pensa comigo.–Insistiu ele.– Se ela realmente gostar do Tunner então não quererá nada comigo. Talvez nem haja um beijo. Só preciso que Jennifer e Tunner pensem que sim. Brincaram com o tipo errado!
Cocei a parte detrás do pescoço e encolhi os ombros.
-Faz o que bem entenderes. Vê se não a magoas. Ela tem cara de que não tem problema nenhum em vingar-se se algo acontecer. E... Sei lá, até que parece fixe (=legal).
Clark riu como se eu tivesse feito uma piada muito engraçada. Mas eu estava a falar bem a sério.
Depois de retomarmos o 'ensaio' foi a vez do meu telefone tocar.
Suspirei e peguei nele disposto a desligá-lo e ignorar a mensagem. Até ver quem a tinha enviado.
Por alguma razão o meu coração pareceu contrair durante mais tempo que o necessário.
Apressei-me a responder à miúda secreta do jornal antes que ela voltasse a demorar ano e meio a responder.

Repórter fantasma: Vamos fazer um jogo.

Aeee, outro capitulozinho para vocês <3
Espero que toda a gente esteja a gostar rsrs
See you no próximo capítulo, people!

Anonymous Words || Palavras AnónimasOnde histórias criam vida. Descubra agora