Francy olhava para mim de maneira estranha. Não sabia se ria ou ficava preocupada. Eu estava na mesma situação.
- Hoje é Terça-feira.– Falei andando de uma ponta à outra da sua sala de estar.
- Terça-feira.– Confirmou.
-Achas que será muito mau se eu desmarcar? Quer dizer, quão chateado poderia Joshua ficar, certo?
Ela sorriu fraco.
-Muito chateado. Vá lá, Mel. Pensei que já tinhas percebido que ele não é assim tão mau.
Como é óbvio, Franc tinha lido as mensagens que Joshua e eu andávamos a trocar e eu não tinha como discordar da sua observação. Apenas pelas suas mensagens notava-se perfeitamente o seu ótimo sentido de humor. Era brincalhão e não parecia sério. Sei lá, não parecia ser a pessoa que eu tinha retratada na minha cabeça.
E a sua preocupação com a irmã mais nova? Era adorável!
Lembrei-me da tarde em que fui a casa do meu pai, quando o encontrei completamente ao acaso. Os olhos dele tinham uma energia que eu nunca tinha percebido, quase impossível de explicar. Os seus olhos verdes pareciam de uma magnitude que me tirou a fala e isso assustou-me e deixou-me ainda mais apreensiva. Se aquela situação já não me agradava, agora parecia quase impossível.
No que te meteste, Mellysa Smith?
Sentei-me no sofá controlando a vontade de roer as unhas.
Depois (e durante) do pequeno questionário que eu fiz a Joshua percebi que ele não podia ser assim tão mau, ou eu estava a ser muito tapada. Uma coisa era certa: Eu não iria admitir os meus pensamentos nem a Franc e muito menos a ele.
Se pudesse tirar isto da minha cabeça...
Quando voltei "ao planeta Terra" vi os dedos de Francy moverem-se à frente do meu rosto.
-Terra chama Melly?– Falou.
-Uhm? D-desculpa. O que é que disseste?
Ela sorriu divertida.
De repente a sua expressão mudou e o seu olhar focou no chão.
Pigarreou antes de falar.
-Eh, Mel? O-oque achas do Clark?
-Não sei. Sei que é demasiado para Jennifer.
-Sim, mas...– As suas mãos brincavam uma com a outra nervosamente.
- O que se passa?
- É que... Ontem eu e ele beijámo-nos. Ele já me andava a "rondar" há algum tempo e então aconteceu...
- E o outro rapaz com quem te andavas a encontrar?
- Um idiota.– Disse sem rodeios.– Mas é que... Eu estava meio que envolvida com Dave.
- O Tunner?
Ela assentiu afirmativamente.
Mordi a língua. Não sabia bem o que lhe responder.
– Vish, esse triângulo tem tudo para dar errado.– Disse com sinceridade.
– Eu sei! Mas é que... Eu não gosto do Clark, okay? Mas talvez pusesse usá-lo para provocar o Dave, sei lá.
Franzi a testa. Que ideia absurda!
Foi exatamente isso que lhe disse.
Francy deu um suspiro irritado; sabia que eu tinha razão.
Continuámos a fazer os trabalhos de matemática e passámos o resto da tarde a estudar para o teste da próxima semana.Já estava deitada há algum tempo, mas estava muito agitada para dormir.
Enquanto pensava o meu telemóvel vibrou, com uma mensagem de Joshua.Rapaz-Problema: Estás a dormir?
Não
O que é que queres?Rapaz-Problema: Já falamos há algum tempo, podias tentar ser menos rude, não?
Rapaz-Problema: Adiante, queria só confirmar onde nos vamos encontrar amanhã. Não te esqueceste, pois não?Queria ahah
Eh, não sei. Pode ser no parque das mil flores. Lá há uma espécie de cabana vai dar para alguma privacidade.Rapaz-problema: Amei. Privacidade é muito útil 😏
Se ele estava a pensar em fazer alguma coisa, que tirasse o cavalinho da chuva. Franc ia comigo para garantir que tudo correria bem e que a minha identidade não fosse comprometida.
Ignorei as restantes mensagens. Se eu respondesse demasiado depressa Joshua poderia perceber que estou ansiosa e isso estava fora de questão.
Estava quase a adormecer quando...
-MELLYSA GREGORY DANIEL SMITH.– Gritou a minha mãe entrando pelo quatro disparada .
Vish, agora estou tramada.
-O que fiz desta vez?- falei revirando os olhos.– Não sei se percebeste, mãe, mas são... Quase meia noite. Se me pudesses deixar dormir...
-Porque é que não tens ido às aulas de canto? Ou às aulas de francês? E as aulas de viola?– Começou a inumerar com os dedos.
Respirei fundo e disse pausadamente:
-Porque não gosto.
Lembrei-me de uma conversa que tive com Joshua em que lhe contei das mil e uma coisas que a minha mãe insistia que eu fizesse e ele me incentivou a enfrentá-la.
Senão viverás uma adolescência aborrecida. Foi isso.
E ele estava certo. Os meus dias eram entediantes. Se fosse para desperdiçar tempo da minha vida, ao menos que fosse com algo que gostasse, não?
A senhora Smith olhou para mim perplexa, sem saber como reagir.
Acomodei-me na cama e sussurrei: "Fecha a porta quando saíres".
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Anonymous Words || Palavras Anónimas
RomanceUma palavra que descrevesse Melly? Desajustada. Inadaptada. Mellysa não era diferente dos milhões de adolescentes da sua idade. Bem, talvez fosse. Os seus sábados eram passados entre manuais escolares e romances clichê. Tudo no lugar. Tudo sobre con...