AkakuroWeek2019

Carta Vazia

   Batia seus dedos trêmulos em sua coxa por cima da calça jeans em claro sinal de impaciência.
   "Quando algo der errado irá dar errado da pior forma possível e no pior momento possível."
    Aquele engarrafamento a qual estava preso era prova disso.
   Era um idiota. Um completo idiota que por não saber ser feliz agora pagava o preço agonizante de suas escolhas.  
   A aflição apertava seu peito desdo momento em que descobrira que a pessoa que fingia não amar tinha sofrido um acidente.
  "Não tem com o que se preocupar", "Tenho tempo", "Amanhã talvez eu fale com ele". Pensamentos como esses que antes voavam pela sua cabeça como algo comum, agora eram apenas mais um motivo para se auto denominar idiota. Um completo idiota.
  O tempo é infinito.
  Ele sempre vai estar aí, girando junto aos ponteiros do relógio. Mas as pessoas não são como o tempo. As pessoas são mortais, finitas. E mesmo que aparentem permanecer sempre ao seu lado, no próximo dia elas podem simplesmente desaparecer.
   E Akashi agora entendia isso, dá pior forma possível.

  //////

" - O que é isso?- o ruivo perguntou ao se aproximar do, até então, namorado que descansava sobre a sombra daquela imensa árvore a qual estava escorado.
  - Cartas.- respondeu simples como já era de costume.
  - Está escrevendo pra quem?- o ruivo continuou o questionamento se sentando ao lado do outro e encarando a folha repleta de palavras nas mãos do azulado.
   - Pra mim. Eu gosto de escrever.- respondeu sorrindo pequeno fazendo o outro repetir o ato.
   - Eu quero uma também.- continuou animado vendo o outro lhe encarar.
   - Porque?
   - Porque eu gosto de saber como se sente.- responde e vê o outro aumentar seu sorriso encostando sua cabeça no ombro do outro que começou a afagar os cabelos azulados.
    - Ok. Vou escrever uma carta pra você. Com tudo o que sinto. Eu prometo.- o azulado continuou de olhos fechados aproveitando o carinho.
   - Vou cobrar."

    //////

   Quando deixou seu relacionamento ruir até aquele ponto?
   Ainda se perguntava isso. Dia e noite, até no fatídico dia atual onde, já não aguentando mais as lentas e raras avançadas do carro, decidiu sair do mesmo se pondo a correr em direção ao hospital alimentando a mínima esperança de que seu amor ainda lhe esperasse mesmo depois de tudo que havia feito.

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   "- Você conversou com ele?- o azulado pergunta sem expressão ouvindo apenas o silêncio do ruivo a sua frente que o fez suspirar.
     - Eu te amo Akashi-kun.- continua vendo o outro lhe encarar com expressão perdida mas com sombra de esperança.
     - E é por isso que dói tanto.- finalizou e foi embora sem dar tempo pro ruivo responder. E no final, ele sequer tentou ir atrás do outro garoto."

   //////

     Agora entendia o azulado. Agora entendia o quanto amar podia doer. Agora entendia o que havia feito com a pessoa que percebeu tarde demais amar.
     E nas últimas forças de suas pernas enfim chegou ao hospital recebendo as informações da primeira enfermeira que conseguiu parar, se direcionando rapidamente para o quarto aonde o azulado estava.
    Ao chegar ao local, seus olhos rapidamente focaram na maca a sua frente onde repousava o calmo e inerte corpo do azulado.
    Pensou em respirar de alívio quando reparou que o cardiograma não mostrava mais batimento algum e o peito do outro não mais demonstrava respiração. E nem o seu.
    Seu peito apertou de tal forma que poderia se comparar ao corpo a sua frente e se aproximando a passos lentos e cambaleantes o garoto de cabelos ruivos pegou a mão do azulado.
   Gelada.
   E deixando um pequeno soluço de desespero ele reparou que descansando na outra mão inerte  abaixo de si estava um papel dobrado delicadamente.
   Com dedos trêmulos o garoto pegou o papel o desdobrando com cuidado e ao olhar seu conteúdo começou a chorar enquanto ria de escárnio de sua própria desgraça.
   Mesmo ao final de tudo o azulado ainda manteve a sua promessa.
   Em suas mãos se encontrava uma carta. Uma pequena e singela carta em branco. Vazia como os sentimentos de um certo azulado. Apenas se entregando como uma carta pela assinatura no final.
         Kuroko Tetsuya, 2002-2019.