CAPITULO 2

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  O interior da estalagem estava em perfeita harmonia com as vigas e os painéis do teto, próprios do século dezesseis. As mesas e as cadeiras do salão de entrada deviam ser de carvalho antigo do mais genuíno e os ornamentos eram estranhos. Tapetes da Turquia vermelhos e azuis coloriam o chão de pedra, tornando-a mais confortável.

Uma porta envidraçada, através da qual Anastasia divisou dois senhores tomando cerveja, separava o bar do salão de entrada. Ao dirigir-se para lá, viu Christian Grey descer a escada ao lado do balcão de recepção.

— Quase não a reconheci por causa do traje — disse ele pensando nas roupas que Anastasia usara no dia anterior. — Você parece muito mais jovem, vestida assim, do que da primeira vez em que nos vimos.

Ela lembrou-se então de que estava com o rosto lavado. Havia dias em que se pintava, e outros em que não usava absolutamente nada. Dependia do estado de espírito. Se soubesse que iria encontrá-lo certamente teria caprichado na maquilagem.

— Venha comigo — disse Grey segurando-lhe o braço e caminhando em direção ao bar. — Que deseja beber?

— Vinho branco, por favor.

Depois de deixá-la confortavelmente instalada numa mesa, ele foi até o balcão e encomendou a bebida.

— Vinho branco para minha convidada, e uma cerveja para mim.

Sua voz grave combinava de certa forma com sua altura e compleição.

Enquanto esperava ser atendido, mantinha-se numa postura elegante e altiva, sem se encostar no balcão. Usava calça de flanela cinza e um paletó de tweed em espinha de peixe com retângulos de camurça nos cotovelos. A camisa era de um tecido enxadrezado muito fino e a gravata, de lã vermelha. Embora Anastasia não morresse de amores por aquele homem, tinha de admitir que se vestia com muito bom gosto.

Ao voltar para a mesa, Christian Grey fez um convite inesperado.

— Quando meus amigos em Winchester souberam da minha visita à Abadia, recomendaram-me este lugar como sendo excepcional em termos de comida. Por que não fica mais um pouco e almoça comigo?

— Obrigada, mas tenho de voltar. Minha mãe ficará preocupada se eu demorar muito.

— É só telefonar.

Após viver vários anos na Espanha onde eram poucos os estrangeiros que possuíam telefone, Anastasia ainda não estava acostumada a usar esse expediente com freqüência.

— Tenho uma idéia melhor — disse ele —, eu mesmo telefonarei. — Levantou-se rapidamente, seguro do que queria, e foi até a recepção.

Anastasia nunca encontrara antes pessoa tão confiante e que se comportasse como se todos ansiassem por sua companhia. Em seu caso particular, entretanto, ele estava redondamente enganado. Não era o homem que a fizera ficar, e sim a célebre cozinha de O Véu da Freira.

Assim como o pai, ela era amante da boa comida e apreciava iguarias delicadas e caras. Patience era uma brilhante cozinheira, mas nunca teve o gosto requintado do marido. Preferia sempre uma boa comida caseira simples e bem-feita.

Enquanto tomava o vinho gelado, Anastasia pensou outra vez em Christian Grey. Estranhava o fato de ele estar hospedado naquela pensão, quando podia simplesmente almoçar e jantar, e depois regressar ao seu apartamento londrino.

Ao vê-lo de volta, procurou imediatamente satisfazer sua curiosidade.

— O tempo está péssimo em Londres — ele explicou. — Enquanto não melhorar, prefiro continuar no campo, gozando os encantos da primavera.

Christian Grey, meu dominadorOnde histórias criam vida. Descubra agora