Fünf

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Flashback on

 - Eu vou pra Alemanha.

 Tinham se passado dois dias desde o grande tapa na cara que levei. Dois dias que eu estava procurando uma forma de ir para a Alemanha e fazer aquele cara receber o que merece.

 - Filha, você sabe que não temos tanto dinheiro sobrando para turistar e eu não estou de férias ainda.

 - Não vamos turistas, eu vou para trabalhar.

 Instalou-se um silêncio na sala que eu sabia que era meu pai medindo palavras suficientes para me falar que eu estava louca sem me fazer enlouquecer. Ele estava sentado na sua velha poltrona, enquanto eu estava no sofá que ficava ao lado.

 - Como você conseguiu o emprego?

 Limpei a garganta e pensando em responder da forma mais natural possível.

 - Mandei meu currículo, ficaram bem interessados e eu vou.

 Novamente, a sala ficou silenciosa. Vi ele suspirar sem saber o que falar, então decidi encerrar o assunto.

 - Estou apenas te informando. Irei em poucos dias para assinar o contrato e conseguir um apartamento. Vou te mandar dinheiro todo mês para ajudar com os gastos e comprar passagem para você me visitar nas férias.

 - Com o que você vai trabalhar?

 - Secretária – respondi baixo me mexendo no sofá incomodada.

 - Secretária? – ele pergunta incrédulo – Você é graduada, mestre em Engenharia Civil e está aceitando um emprego de secretária?

 Fechei os olhos com força, sabendo que essa discussão não seria das mais agradáveis.

 - Eu me graduei para ser engenheira civil, mas nem tudo ocorre como queremos.

 - Alex, você consegue um emprego aqui na cidade...

 - Eu vou conseguir o meu emprego na Alemanha! – aumentei o tom de voz, interrompendo o mesmo discurso de sempre.

 - Secretária – ele balança a cabeça de um lado para o outro, mexendo no cabelo em um claro sinal de nervosismo.

 - Um engenheiro passa 5 anos com cálculos, aprendendo a raciocinar o mais rápido possível – respirei fundo -, por isso que consegui a vaga, o que eles mais querem são engenheiros na secretária para aumentar o rendimento.

 - Então você participou de projetos, fez o seu TCC, vai se mudar para outro continente para ser uma secretária?

 - Vou – desafiei-o a retrucar novamente.

 - Eu sempre te disse, passo para trás nem para dar impulso.

 - Não estou pegando impulso, mas em todo jogo de xadrez precisamos sacrificar algumas peças para dar o xeque-mate.


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 Eu estaria mentindo se falasse que meu pai me apoiou na mudança. Ele preferiu fingir que nada ia acontecer em tão pouco tempo, indo para o trabalho normalmente, concentrado em seus trabalhos, até o dia em que me viu enchendo as malas para a mudança.

 Ver meu pai parado apoiado na porta, com um olhar distante e os olhos cheios de lágrimas foi o meu gatilho para me jogar em seus braços pedindo para não me abandonar.

like fire • marco reusWhere stories live. Discover now