Sechs

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But sharks are swimming in the sea.
Just follow my yellow light
And ignore all those big warning signs.


- Eu preciso trocar esse despertador logo – resmunguei enquanto tateava a pequena cômoda que ficava do lado da cama enquanto a música chegava ao fim, anunciando o meu primeiro dia oficial no trabalho.

- Cade esse cacete? – levanto o tronco rapidamente e bato de cabeça no "armário" que era acoplado à cama e ficava BEM perto da cabeceira.

Levo a mão até à cabeça que ainda dói, não consigo entender o porquê de colocarem um armário junto da cama.

Enquanto me levanto e calço a pantufa para ir em direção a cozinha, começo a repassar os últimos acontecimentos:

- Cheguei em Berlim a dois dias e peguei um voo para esse fim de mundo;

- Ontem fui pela primeira vez ao estádio do Borussia Dortmund e fui apresentada para a equipe e os jogadores;

- Comprei comida suficiente para não passar fome;

- Dormi.

Hoje não estou tão estressada quanto os dias que passaram, toda a equipe estava forçando uma falsa expectativa sobre tudo, não aguentava mais aquelas vozes masculinas falando no meu ouvido, cada vez que eu piscava tinha mais testosterona na sala dos servidores.

O apartamento que aluguei foi por buscar em sites de aluguel quando ainda estava na minha casa, ele realmente é pequeno.

Uma sala principal que é o cômodo que se vê quando se entra, um quarto, um banheiro, uma cozinha e um pequeno cômodo que tem espaço para colocar uma máquina de lavar. Parecia uma casa de boneca – o tamanho.

Enquanto colocava o cereal na tigela e pegava o leite, comecei a gravar um áudio para o meu pai e resumir um pouco o que aconteceu e que "me mandaram para Dortmund!".

Notei que a sua última visualização já tinha algumas horas, deve me responder ao decorrer do dia.

Enquanto termino o meu café da manhã, passo os olhos rapidamente pela timeline que se resume em política, vídeos de animais, notícias de futebol e fatos históricos.

Quando termino, lavo rapidamente a louça e vou para o quarto tomar um banho e colocar a roupa e ir ao meu tão sonhado trabalho.

O único uniforme exigido de mim é a camiseta pólo roxa da empresa, com a logo bordada perto do peito e uma calça simples (sem leggins de onça), escolho uma calça jeans preta, uma bota de cano baixo e um casaco preto para não congelar quando voltar pela noite.

No cabelo só ativei um pouco os cachos úmidos com um creme e deixei secar naturalmente, em últimos casos eu prendo ele lá mesmo. Meu óculos de grau já estavam na bolsa que deixei na mesa da sala, saio do apartamento e vou em direção ao ponto de ônibus, procurando nas conversas o ônibus que preciso pegar.

Fichário, estojo, celular, agenda e crachá.

Com a minha identificação no pescoço, entro no CT do Borussia, onde está uma parte da equipe.

Por que estamos no CT sendo que a obra será no estádio mesmo? Não sei. Apenas que a equipe quer ficar o máximo de tempo perto das "estrelas" aproveitando os 10 minutos de fama, sendo que ninguém liga para nós.

- Olá Alessandra– diz o novo fisioterapeuta de forma simpática em alemão, errando o meu nome mas não parece que foi por querer.

- Olá Victor, e o correto é Alexandria – digo pacientemente em inglês, já que o mesmo não parece alemão nem muito confortável com a língua local.

- Perdão, agora não esqueço mais – brinca e solta uma pequena risada, vendo que eu estava com alguns documentos em mãos -, já te colocaram para trabalhar?

- Ah, hoje vai começar as reuniões com os engenheiros e eu sou a encarregada de escutar, não falar, escrever de uma forma simples o suficiente que os jogadores e equipe técnica entenda o que vai acontecer e concordem.

- Uma faz tudo e professora?

- Basicamente.

- Eu vou ficar fazendo massagem nos reclamões e escutar eles falando da vida complicada de jovem rico e famoso – revirou os olhos castanhos.

- Boa sorte.

Com isso, se instalou um pequeno silêncio no cômodo que estávamos, eu esperando o resto da equipe que estava atrasada e ele o seu colega, enquanto começo a ler no meu kindle um capítulo de Christine do Stephen King.

- Você não é muito de falar, não é? – pergunta quebrando o silêncio e interrompendo minha leitura bem.

- Ainda estou me acostumando com a minha atual situação e até mesmo a língua – levanto os olhos do pequeno aparelho preto que estava em minhas mãos – e sou fechada mesmo.

- Bem, meu colega está vindo pra cá agora e já vou para a minha sala analisar as fichas, já que ainda não tenho as chaves das salas – diz se levantando e me estendendo a mão -, mas espero a senhorita para almoçar conosco, vamos comprar algo no café que fica aqui perto e almoçar aqui, porque precisamos cuidar das crianças.

- Vou sim, só bater na porta da secretaria quando forem ao café – respondo com um pequeno sorriso, sabendo que minhas bochechas se elevavam um pouco com o ato e apertando a mão do mesmo.

Melhor socializar com o cara que fala inglês e ri dos jogadores que me isolar por meses num canto - penso enquanto voltava à leitura esperando os atrasados.

- Guten Morgen - escuto uma voz forte depois de um bom tempo em silêncio, levanto a cabeça com o cenho franzido em direção à voz, vendo um grupo com quatro jogadores passando perto de mim.

Como não prestei atenção na voz e não sei quem falou, decido cumprimentar todos igualmente.

- Guten Morgen – tento deixar o sotaque sulista de lado e falar o mais claro possível.

- Acho que falar em inglês vai facilitar para todos, tenha um bom dia – responde Götze soltando uma leve risada, abanando a cabeça com os outros e indo em direção ao campo.

Vou falar em português da próxima vez se o meu alemão está ruim.

Quem aquele anão tá querendo falar do meu alemão? Vou fazer a mesma recepção que o Sérgio Ramos fez no Salah na final da última Champions para ele aprender a fechar a boca. 

- Senhorita Albernaz – escuto uma voz chamando e vejo um homem, com aproximadamente quarenta anos, camisa social cinza e alguns fios grisalhos com o crachá de outra cor, informando que se tratava de ser um dos engenheiros.

- Senhor Castello – leio seu crachá e estendo a mão para cumprimentar de forma educada, o mesmo aperta com firmeza e me olha com olhar debochado, achando piada eu estar ali.

- A senhorita sabe o que deve fazer, sem palpites, apenas escutar e organizar para apresentar para os chefes.

- O meu contrato diz que posso palpitar sim, sou formada igual você e, mesmo não estando exercendo diretamente a minha formação aqui, tenho direito de falar – ergo a sobrancelha enquanto falo, o velho manco acha mesmo que vai me intimidar?

- Você é a secretária, eu, o engenheiro – diz virando-se e indo até a terceira porta que ficava no corredor à direita.

Mais um na lista para queimar na fogueira junto com o Franz, vai desejar nunca ter falado comigo com essa falsa superioridade.

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⏰ Last updated: May 12, 2019 ⏰

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like fire • marco reusWhere stories live. Discover now