5. Questões

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— O que você tem na cabeça?! Como estava com ele no meio disso, feliz com isso ainda? — Minha mãe gritava com Gabriel.

Eu contei tudo para meus pais, agora minha família está reunida na sala envolta dele, e ele sentado confuso no sofá. Odeio essas reuniões em família para dar bronca, sofri muitas vezes de minha vida com isso, mas agora é necessário.

— Mas, mamãe, caçar é o que homens fazem! — Ele diz enquanto sua expressão corporal quer dizer "isso não é óbvio?".

— Eu fui um mal exemplo de homem pra você? — Meu pai cruza os braços e balança cabeça. — Já meu viu atirando em animais de rua e em um idoso?

— Mas, pai...

— Mas? "Mas" você deveria ter dito quando aquele moleque ergueu uma arma contra animais e um velho. Talvez eu devesse atirar no Pac. — Ele diz. Pac é nosso cachorro.

— Não! — Meu irmão grita pulando do sofá com as mãos na cabeça.

— Pois é. — Minha mãe conclui o sermão. — Não maltrate animais, Gabriel.

— E idosos. — Naomi se intromete, tirando um dos fones do ouvido.

— Já estamos resolvidos? Vou falar com o Ted. — Meu pai tira o óculos e arregaça as mangas. Agora ele deixou de ser o Joel, o pai de família legal e descontraído, para ser o Sr. William, o ainda pai de família mas sério e rígido.

— Vou contigo. — Digo, aproveitando a oportunidade para investigar. Pego meu celular e vou com meu pai.

  A gente sai pela porta e se dirige à casa dos Allison. A casa deles é quase a mesma coisa da nossa, com uma mudança de detalhes e de cor (a nossa é branca e azul claro, a deles é branca e cinza). Meu pai toca a campainha e espera, logo Ted abre a porta com um sorriso no rosto.

— Joel? O que quer? — Ele indaga. Coçava o seu cabelo castanho claro enquanto apertava os olhos com a claridade da rua.

— Quero saber o que seu filho mais novo tem na cabeça de levar o meu para matar animais e agredir um idoso. — Meu pai vai diretamente ao ponto.

— Ah... Coisa de criança. Vai me dizer que nunca brincou com um estilingue na infância?

— Sim, já brinquei, mas não atirei contra animais e pessoas por maldade. — Responde.

— Maldade? Crianças não são más. — Ele retruca. Ted olha para o meu pai com um sorriso leve, assim como o que estava em seu rosto quando ele abriu a porta. Então, do nada, Enzo vem de dentro da casa e para ao seu lado. — Elas são reflexos do que seus pais ensinam e são. Não se preocupe com seu filho se você acha que é um bom pai... Você é?

— O que? — Meu pai se enche de raiva, cerrando os punhos com força. Questioná-lo sobre sua dignidade de pai é algo que não se deve fazer.

— Hahaha. Relaxa, Joel. — Ele abre ainda mais seu sorriso e passa a mão na cabeça de seu filho. — Meu filho não fará novamente, prometo. Não é, campeão?

— Sim. — Enzo responde com um sorriso forçado no rosto.

— Isso é o que eu espero. Vamos, filha. — Ele vira as costas para a casa deles e anda com passos largos e apressados até a nossa.

  Entramos em casa, então meu pai suspira, tentando fazer sua raiva esvair. Juro que se não fosse por mim, ele tivesse socado Ted ali mesmo. Gabriel olha para o meu pai do sofá e vai até ele abraça-lo, enquanto minha mãe apenas olha de longe. Eles sabiam que não se deve perguntar "o que foi?" enquanto ele estava assim.

— Eu avisei, essa família é estranha. Desde o primeiro dia, eles já me assustaram. —Interrompo o clima. — Aquele... Ted ficou me olhando pela janela, pai. Sempre soube que boa pessoa ele não era.

— Filha, não começa com isso de novo. — Ele murmura.

— O que? Que história é essa? — Minha mãe indaga. Ninguém sabia dessa história além de mim e do meu pai.

— Aquele cara forçado ficou me olhando pela janela... Aí depois bateu na porta e meu pai conheceu ele.

— E seu pai o chamou pra dentro de casa? — Ela se surpreende, e vira para ele cruzando os braços. — Joel, vamos conversar.

— Vish, vamos. — Naomi vem puxando Gabriel e eu para cima. — Deixe eles.

  — Vamos. — Concordo e me deixo ser puxada.

Sei que, durante a noite inteira, meus pais discutiram, mas se reconciliaram como sempre. Já eu, passei a noite inteira conversando com Naomi sobre coisas como investigar a família Allison, mas ela apenas respondeu com: "Isso é coisa de criança". Eu não ligo se é coisa de criança, então não vou deixar de investigar, afinal, antes criança do que ser uma adolescente chata.

Hoje é um novo dia. Hoje vou descobrir algo.
  Ao meio dia, eu estava em pé na porta da casa dos Allison.

O Medo Mora ao LadoOnde histórias criam vida. Descubra agora