Capítulo 40

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As memórias daquela noite pareciam borrões em minha memória. Lembro-me vagamente do que aconteceu após a morte de Jimin.
Me lembro da polícia entrando, Jackson se desesperando e me usando de refém.

O cano gelado do revolver na lateral do meu crânio. A tristeza era tanta que quase queria que ele atirasse. A polícia tentou negociar com Jackson, mas ele não se importava com mais nada. Então ele me soltou, me fazendo cair no chão e disse:

“Já que minha alma vai ser extinta, que seja pela minha mão”

E atirou em sua garganta. Eu estava de costas então não vi a cena, que aconteceu num piscar de olhos, mas certamente vi suas consequências. Seu corpo, agora sem cabeca, com seus pedaços espalhados por todos os lados.

Eu só conseguia ver sangue, restos de cérebro e de repente, vômito. Meu vômito, junto às minhas incontáveis lágrimas. Eu já havia chorado tanto que meus olhos ardiam como fogo.

Fui levado para o hospital onde me deram soro e uma cama para descansar. Meus amigos foram me visitar mas eu me recusei a vê-los, só queria chorar até desidratar. Pesadelos. Tantos que não conseguia fechar o olhos por mais tempo que uma picada.

Quando não eram pesadelos, eram compilados de flashbacks de Jimin e eu. Nosso primeiro encontro, nosso primeiro beijo, nossa primeira briga...

Eu só queria meu Jimin de volta.

Se ele estivesse aqui, com certeza iria me abraçar e dizer que ficaria tudo bem. Mas não vai, porque ele não está aqui e nunca mais estará.

Ouço a porta abrir e enfio minha cabeça no travesseiro novamente.

ㅡ TaeTae... Sou eu. – ouço a voz de meu irmão.
Continuo com a cara no travesseiro, encharcando-o com minhas lágrimas.
Sinto o peso dele sobre a pequena cama. E o toque dele sobre meu ombro.

ㅡ TaeTae, eu sei que você está se sentindo péssimo mas já se passou uma semana... Vamos só sair um pouco? Pegar um ar fresco... comer alguma coisa...? – ele diz hesitante.

ㅡ Não, eu nunca mais vou sair daqui. Não tem mais sentido. Me deixa aqui, Jungkook. – Digo pra fora do travesseiro.

ㅡ Taehyung, também não é assim, você tem a mim, a seus amigos. Você me ajudou tanto quando a mamãe morreu... me deixa te ajudar também?

Tiro a cara do travesseiro, sinto-me e seco minhas lágrimas.

ㅡ Eu não sei se consigo, Kookie. Está tudo tão confuso, tão ruim. Parece que essa sensação excruciante no meu peito nunca vai passar. Como vou viver sem ele? – Digo quase gritando.

Ele me abraça e eu choro no seu ombro até pegar no sono.

》》》

ㅡVamos, Tae. Você não pode perder isso. – Yoon diz me cutucando.

Acordo mal-humorado e quase grito:
ㅡ Perder o que?

ㅡ Jungkook não te falou? Eu sabia que aquele pivete não ia te falar. Hoje vai ocorrer as cerimônias de cremação, de Jimin e Mark.
Fecho os olhos já começando a chorar de novo.
ㅡ Eu não vou... Eu não posso...

ㅡ Não só pode como deve, Taehyung. Eu sei que é difícil, Mark era meu melhor amigo, também dói, mas você vai se arrepender se não se despedir dele. – ele me olha sério. ㅡ Todos vamos estar ao seu lado, Tae. – ele aperta minha mão de leve.

ㅡ ‘Tá, eu vou. – Digo secando minhas lágrimas. ㅡ Eu vou pelo Jimin.

Já arrumado, com um terno preto que Suga me trouxe, encontro com os meninos do lado de fora do hospital, sem querer entreouvimos parte da conversa de Namjoon com Jin.

ㅡ Mesmo assim, ele também merecia um funeral.  

ㅡ Já não é suficientemente triste ter dois caixões, Jin? – Namjoon diz sério.
Não consigo evitar esconder minha raiva e respondo:

ㅡ Você queria que aquele monstro tivesse um funeral, Jin? – grito pra ele e ele se vira.

ㅡ Não, eu...

ㅡ POR CAUSA DELE, O AMOR DA MINHA VIDA ESTÁ MORTO E EU NUNCA MAIS SEREI FELIZ. E você quer que tenha uma cerimônia bonitinha para todos se despedirem dele? – digo com desgosto.

ㅡ Não é isso, Taehyung. Céus, dá para me escutar? Eu não estava falando de Jackson.
ㅡ Ah, não? E de quem estava falando então? Mais alguém morreu durante a minha ausência? – Digo com raiva.

ㅡ Na verdade, sim. O meu psicólogo, Jinyoung. – ele diz triste.

Fico constrangido pelo meu chilique.
ㅡ Me desculpa, eu...

ㅡ Você se lembra dos crimes gravíssimos, Taehyung? – Jin diz surpreendentemente calmo.

ㅡ Mais ou menos, eu não sou muito bom em cidadania... – Digo coçando a nuca.

ㅡ Bom, os crimes gravíssimos são homicídio intencional, estupro ou abandono de filhos. E a punição para eles é não só a extinção da alma do criminoso, como a de sua alma gêmea.

ㅡ Espera um pouco, está me dizendo que pelo fato de Jackson ter matado Jimin, sua alma gêmea, que era o Jinyoung também morreu?

ㅡ Não só morreu, Taehyung, os dois foram extintos. Nenhum dos dois jamais renascerá. – ele diz com lágrimas nos olhos e Namjoon o abraça.

ㅡ Eu sinto muito.

ㅡ Todos perdemos, Tae. Jinyoung era tão bom, me ajudou tanto e agora ele se foi, para sempre.

》》》

Em outra vida eu deveria ser ator. Durante toda a cerimônia eu não derramei uma lágrima. Por dentro eu me sentia podre de tanta tristeza, de tanto ódio por Jackson, ainda mais agora sabendo que ele tirou mais uma vida.

Sinto a raiva me consumir e não consigo aguentar, corro para o meu quarto no hospital e começo a chorar. Mas existe uma raiva queimando dentro de mim, até que começo a jogar tudo pelo quarto, jogo os porta-retratos no chão, o travesseiro na parede, pego o quadro é o atiro pela janela como se fosse um boomerang.

Mas não é o suficiente. Começo a socar a parede tentando desaparecer com essa raiva. Penso em Jackson novamente e em como queria que ele estivesse vivo, só para que pudesse lhe dar uma surra.

Fico pensando em suas palavras aquele dia:
ㅡ Era pra você. – ele diz alto. Seus olhos estão inchados e sua voz arrastada. ㅡ Você devia ter morrido, não ele.

ㅡ Jackson, por favor, larga a arma. – Digo de forma calma, enquanto pressiono mais Jimin e percebo que ele desmaiou. ㅡJimin? – me aproximo dele, dando leves batidinhas em seu rosto e percebo sua respiração fraca. ㅡ Jackson, por favor, ele precisa ir ao hospital.

ㅡ Quer que ele vá para o hospital? – diz de forma sádica. ㅡ Ótimo, é só chamar sua querida mãe e pedir para trazer meu Mark de volta.

ㅡ Jackson, você sabe que eu não posso. Não tem mais como, ele morreu.

ㅡ Você veio da Terra e está me dizendo que não tem como alguém voltar a vida? Me poupe.

Será que ele estava certo? Será que minha mãe poderia reverter uma morte? Provavelmente. Então eu começo a gritar:

ㅡMÃE! MÃE! OU DEVERIA CHAMÁ-LA DE DEUSA ESTELAR, HEIN? EU SEI QUE VOCÊ ESTÁ ME OUVINDO! – me ajoelho no chão, cansado. ㅡ Por favor, mãe! Não basta você ter me deixado com aquele lunático? Você tinha que me tirar o Jimin? O que eu te fiz? Você só me ferrou a minha vida inteira! É isso que vai continuar fazendo? ... EU QUERO ELE DE VOLTA, POR FAVOR, TRAZ ELE DE VOLTA!

Olho para os lados e não vejo nada. Ela não vai aparecer. Ela não se importa, nunca se importou. Então vamos acabar logo com isso.
Avisto um enorme caco de vidro de um dos quadros que quebrei. Vai servir. Se isso não chamar atenção dela pelo menos vai acabar com tudo. Respiro fundo e traço uma linha vertical no meu pulso com o caco.

Agora é tudo ou nada.

Venha me salvar, mãe.

🎀🎀🎀

Se gostou do capítulo não esqueça de deixar seu comentário e votinho. Até sexta.

O anel de Símbolis #Wattys2019Onde histórias criam vida. Descubra agora