Capítulo 21

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Desperto dos meus pensamentos quando vejo uma das poucas mesas ser ocupada por um casal. Uma pequena garota de cabelos pretos, uma raridade aqui onde todo mundo tem cabelos pintados, e meu irmão.

É tão difícil olhar para ele e não poder ir até ele, não poder tocá-lo, brincar com seus cabelos e confortá-lo quando está triste. Não poder rir de suas piadas de tio e cuidar dele como sempre fiz.

Assim que a primeira cena vem na minha cabeça eu sei que é o pesadelo novamente. Estou preso no quarto. Trancado como um bicho. Mas o problema não é esse.

O que faz meu coração se apertar de dor e me faz querer arrancar o trinco da porta com os dentes são os gritos. Os gritos de Kookie. Sei que o imbecil está fazendo com ele o que fez comigo aquele dia. Eu ouvia o cinto batendo na pele dele e Kookie berrando para que ele parasse.

E eu não podia fazer nada.

Não podia ajudá-lo.

Depois de horas naquela tortura,a porta abria e eu o encontrava na sala. Frio. Com os olhos abertos. Marcas roxas pelo corpo. E morto.
Eu me ajoelhada e chorava sua morte. Era meu dever protegê-lo, cuidar dele e eu falhei miseravelmente.

Depois de ter sido agredido aquele dia de diversas maneiras o meu pior medo não era sofrer aquilo novamente e sim, que Kookie sofresse o mesmo que eu.

Acordo do terrível pesadelo, que tinha constantemente, e levanto correndo da minha cama até seu quarto. Abro a porta e lá está ele. Dormindo. Pleno. E não consigo evitar me jogar em sua cama e abraçá-lo.

ㅡ Tae? – ele abre um dos olhos e eu o aperto ainda mais.

ㅡ Shh. Pode dormir. Eu estou aqui pra te proteger. Sempre. Nao falharei dessa vez, eu prometo.

Antes que eu perceba, meus pés se moveram e estão indo em direção à mesa deles. Eu preciso falar com o meu irmãozinho. Preciso protegê-lo. Preciso cumprir a promessa que lhe fiz.

Talvez se eu tentasse lembrá-lo da Terra, talvez ele se lembre de mim. Lembre da nossa história.Enquanto caminho apressado até ele, penso no apelido que ele tanto odiava.

Quando eu o chamava de maninho ele fica irado, ele sempre dizia que era mais alto, consequentemente devia chamá-lo de mano. Segundo ele, irmãos mais novos só podem ser chamados de maninho quando são mais baixos.

Um absurdo na minha opinião que continuava chamando ele assim mesmo.

Chego até a mesa e já me jogo no assento ao seu lado, falando:

ㅡ E aí, maninho?

Ele e a garota se viram pra mim, ela parece surpresa mas dá um sorriso tímido, já Jungkook não parece tão contente.

ㅡ Olha aqui, mano, nós não somos nem amigos, quem dirá irmãos. Nunca aprendeu que pra sentar na mesa das pessoas têm que ser solicitado? – ele dá uma pausa e me olha com raiva. ㅡ Já ouviu falar da palavra educação?

Sim, já ouvi, até porque eu que te ensinei grande parte de como ser educado depois que a mamãe morreu.

ㅡ Nossa, Kookie, não precisa ser tão rude, parece que o mal educado aqui é você. – a voz da garota se faz presente  ㅡ Meu nome é Lee Ji Eun, mas todos me chamam de IU. – ela estende a mão para me cumprimentar.

ㅡ Kim Taehyung, mas pode me chamar de Tae.

ㅡ Amor, você não está entendendo, esse garoto fica me perseguindo. Ele não entende que eu gosto de você.

ㅡ Primeiro, eu não sou seu amor, nós só fomos em um encontro. Segundo, esse garoto não parece maluco que te perseguiria. E terceiro, eu estava disposta a te dar uma chance, mas vendo como você trata as pessoas, acho melhor nem me dar ao trabalho.

Ela se levanta com pressa e sai da mesa.
ㅡ Ah, muito obrigado. Olha só o que você fez. – ele se levanta com raiva. ㅡ Nem ouse falar comigo outra vez. – ele se vira e vai na direção que a garota foi.

Ótimo, com duas palavras eu consegui piorar ainda mais minha relação com o Kookie. Maravilha.

Apoio os meus braços um em cima do outro sobre a mesa, formando um travesseiro improvisado. Apoio minha testa sobre eles e começo a chorar.

Eu nunca vou ter o meu irmão de volta. Eu achei que conseguiríamos pelo menos sermos amigos, mas eu nem sei mais quem ele é.

O Kookie que eu conhecia era um garoto doce que chorava ao ver um filme triste. Ele preferia apanhar do pai do que ser cruel com alguém. Ele podia estar com muita raiva de mim, mas ele nunca, jamais me machucaria nem com seus punhos, nem com suas palavras.


Me aninho mais nos meus braços e sinto uma mão no meu ombro.

ㅡ Hey, ‘Tá tudo bem. – ouvir a voz de Jimin já me tranquiliza um pouco.

Saio do meu “ninho" e tento limpar minhas lágrimas enquanto tento controlar meu choro. Sinto as mãos de Jimin nas minhas bochechas e vejo seu sorriso me tranquilizar.

Ficamos nos olhando enquanto meu choro vai diminuindo e eu fungo o nariz, para evitar que saia catarro.

Ele me oferece um lenço de bolso e eu o recuso.

ㅡ Ah, não. Não posso assoar na sua frente. – Digo com vergonha, balançando a cabeça.

ㅡ Você pode chorar na minha frente, mas não assoar o nariz? – ele diz rindo. Então ele estica o lenço sobre a própria mão e pressiona sobre o meu nariz. ㅡ Vai, pode assoar. – ele sorri confiante.

Obedeço, ainda hesitante. Termino de assoar eu mesmo e dobro o tecido cheio de catarro.

ㅡ Essa foi a coisa mas fofa e nojenta que alguém já fez por mim. – Digo sorrindo.

ㅡ Não há de que. – ele retribui meu sorriso. ㅡ Agora vamos lavar esse rosto. Você está me devendo um encontro. – ele diz e segura minha mão, para me ajudar a levantar.

Eu juro que nunca fiquei tão feliz de saber que aquele homem era a minha alma gêmea.

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Se vocês não acharam esse o capítulo mais fofo da fic, vocês leram errado, rs rs. Se gostou, deixe seu votinho.

O anel de Símbolis #Wattys2019Onde histórias criam vida. Descubra agora