15. A Noitada Parte II

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Dormi muito mal durante a noite depois dos últimos acontecimentos, por isso acordei um pouco indisposta e menos animada para o estágio. Tudo piorou quando tive que me despedir de mamãe que estava indo a Boston, visitar Laura, sua amiga do Brasil. Mamãe pretendia passar 10 dias por lá, o que me deixava feliz por ela, mas também triste por ficar sozinha durante todo esse tempo.

Entrei no metrô muito melancólica para fazer qualquer outra coisa que não fosse encostar na janela e ouvir minha playlist depressiva do SpotiFy até chegar na minha estação. Ao som de Linger - The Cranberries eu pensei em Isaac e em tudo que sentia por ele, pensei em como ele me fazia sentir eu mesma e também em como me fazia sentir uma pessoa diferente ao mesmo tempo. Eu sabia que ele gostava de mim, mas apenas como uma grande amiga que ele nunca tivera e eu não tinha certeza se aguentaria estar nesse posto por mais tempo. Assim que fui apertar o "stop" quando cheguei à minha estação, me deparei com mais uma mensagem de número desconhecido:

"Vocês gostam de brincar não é? Eu também, se prepare para o que virá e não conte a ABSOLUTAMENTE NINGUÉM sobre as mensagens ou irá sofrer graves consequências"

Revirei os olhos de saco cheio, não tinha a menor paciência para brincar de Pretty Little Liars. Se essa pessoa achava que estava me amedrontando, ela estava muito enganada, precisava de muito mais do que mensagens toscas para colocar medo em Maria Julia Martins. Resolvi me dedicar ao trabalho e deixar tudo isso para lá.

Cheguei ao The Coppola e fui recebida com entusiasmo por Justin. Ele parecia ser o cara mais de bem com a vida da face da terra, nem mesmo meu mau humor era capaz de se manter de pé perto de tanta positividade e simpatia.

- Bom dia, Julia! Como você está? - Falou Justin ao me cumprimentar com um abraço, algo pouco comum entre superiores e subordinados nos EUA, mas que pelo visto era costume de Justin.

- Tudo em ordem e você?

- Estou ótimo! - Ele sorriu e eu sorri de volta reparando melhor em sua aparência.  Justin era naturalmente um hipster de primeira, provavelmente ele não sabia disso, mas seu cabelo escuro preso em coque, barba de lenhador e roupas alternativas o entregavam. Ele também tinha um braço fechado de tatuagens, alargadores nas orelhas e um piercing no septo nasal, era muito bonito e aparentemente solteiro. Se eu não tivesse tão envolvida com Isaac era capaz de vê-lo de outra maneira.

Para a minha surpresa a manhã de trabalho fora maravilhosa, a cozinha tinha o poder de me fazer esquecer dos problemas e me concentrar no que eu mais amava fazer: boa comida. Justin em todo o tempo estava por perto me supervisionando e me ensinando maneiras melhores de preparar os alimentos. Pela primeira vez fiz uma sopa de ouriços, achei que não ia conseguir limpar o bicho, mas Justin literalmente segurou na minha mão para me orientar. No final deu tudo muito certo. Logo em seguida fui incumbida de fazer um risoto de casca de abóbora. O entreguei ao garçom e pouco depois ele retornou dizendo que o cliente gostaria de falar comigo. Senti meu corpo gelar, o cliente podia me elogiar, mas também podia me criticar e atirar o prato na minha cara.

Me dirigi até a mesa doze, parei atrás do homem sentado, respirei fundo e falei:

- Olá, sou a Julia Martins, a cozinheira responsável por seu prato, em que posso ajudá-lo?

- Oi Julia. - O homem se virou e eu me surpreendi quando o reconheci, era Isaac. - Você pode me ajudar sentando para comer comigo.

- Não posso, Isaac. - Revirei os olhos - Ao contrário de você, eu tenho muito o que fazer. Era só isso? Posso voltar para a cozinha? - Dei meia-volta.

- Espera - Isaac segurou em meu braço - Só peço 2 minutos do seu tempo.

- Fala logo - Cruzei os braços.

Acordo e desacordo - EM HIATUSOnde histórias criam vida. Descubra agora