03. Passado, presente e futuro

1.4K 160 11
                                    



Os dias se seguiram dentro do padrão de normalidade. Muito serviço, alguns desentendimentos com Isaac e o mistério da loira da foto perturbando minha mente. Mamãe contribuiu muito pouco com o desvendar da história, apenas confirmando coisas que eu já desconfiava:

- Julia, você andou xeretando os pertences dos patrões?

- Não mãe, juro! Foi exatamente como te contei... era tudo lixo, Isaac mandou eu descartar a sacola, eu só dei uma olhadinha buscando algo que me servisse.

- Mesmo sendo lixo, não é certo trazer para casa algo que não foi dado a você. – Mamãe cochichou na cozinha.

- Eu devolvo, prometo, mas por favor me conta algo sobre Isaac e essa mulher. – Fiz cara de cachorrinho pidão.

- Você não desiste mesmo, quando encasqueta com alguma coisa... – Mamãe riu. – O que eu sei é que Isaac e Anastácia namoraram desde o colegial, depois ficaram noivos e planejavam casar no próximo ano, só isso. Satisfeita? Agora pare de me torrar a paciência e vá terminar de lustrar as pratas.

- Ah mamãe, disso eu já desconfiava, quero saber mais. Como era a relação dos dois? Por que terminaram? Eles se amavam de verdade?

- Agora quem está curiosa sou eu... por que você se importa tanto com isso se sente "ranço" do senhor Isaac como mesmo diz?

- Eu... eu não me importo. Só estou curiosa e queria saber como um cara esnobe daquele conseguiu manter um relacionamento por tanto tempo.

- Isso está me cheirando a outra coisa, mas não vou dizer o nome. – Mamãe fez gracinha.

- Se for "indiferença" o que a senhora quer dizer, pode falar, mas se for outra coisa é melhor não. Acho que ouvi o Sr. Miller te chamar, mamãe. – Eu disse emburrada.

- Concordo com a sua mãe, vocês fariam um casal bonito. – Matilda, a auxiliar da cozinha me deu uma piscadela.

Revirei os olhos. Que mania chata das pessoas nessa casa ficarem insinuando que existe algum sentimento entre mim e aquele ser desprezível, só quero me manter distante dele. Não é que ele não seja bonito, atraente, tenha porte, "borogodó", uma voz rouca charmosa, um corpo atlético, um sorriso fascinante, um olhar enigmático, isso ele tem. Mas é que ele é um pé no saco que vive para encher minha paciência e atrapalhar meu serviço. Ontem, esse babaca começou a fazer flexão no meio da sala enquanto eu ajudava James a mudar os móveis de posição. Ele tem um quarto maior do que meu apartamento no Bronx e uma academia dentro da sua cobertura e tinha que escolher logo a sala como local de atividade? Ele faz isso de propósito, por isso dei uma leve pisada em seu dedo mindinho. Ele logo saiu, mas senti que viria vingança por aí.

Pensando na fera, eis que Isaac surgiu na cozinha todo bem vestido, de terno e gravata como se fosse sair para fazer algo muito importante. Ele veio na minha direção e me entregou uma lista de compras, depois falou:

- Julia, compre essas coisas para mim imediatamente.

- Por que eu? Estou ocupada agora. Você não pode ir? James não pode? Ninguém nessa casa pode? Eles não podem fazer entrega?

- Não, todos os carros estão fora, eu vou participar de uma videoconferência agora e a entrega demora muito com esse trânsito caótico dessa cidade. Preste bem atenção nos produtos e nos locais de compra, não quero nada diferente do que está aí.

- E como eu vou se todos os veículos dessa residência estão ocupados?

- Nem todos, minha bicicleta está na garagem, você pode utilizá-la, além de não pegar trânsito não vai poluir o meio ambiente. Mas tenha cuidado, trate-a bem.

Acordo e desacordo - EM HIATUSOnde histórias criam vida. Descubra agora