21. Paradise Parte I

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3kg.

5kg talvez.

Não sei ao certo, mas minha cabeça estava pesando alguns kilos a mais quando acordei na manhã seguinte ao meu aniversário. Ainda bem que fui liberada de todos os meus compromissos, porque senão teria com toda a certeza me atrasado. A dor veio logo em seguida como marteladas insistentes. 

O sol havia dobrado de tamanho? Porque tudo de repente parecia tão mais claro? Quantos carros, motos e caminhões passavam por minha janela? Por que o Bronx inteiro resolveu buzinar na minha porta? Que sensação horrorosa, acho que era ressaca.

Fui direto para a cozinha preparar um café bem forte, ouvi dizer que isso ajudava a amenizar as sensações negativas pós álcool. Ao manusear a cafeteira me deparei com minha mão esquerda enfaixada e um pouquinho dolorida. Por que eu estava com aquilo?

A resposta veio em seguida com flashes de memórias os quais me envergonhei assim que os recebi. Lembrei-me da mentira que Isaac me contara para que eu chegasse até a minha festa e a aflição que senti, lembrei-me da caixinha de música, de ter dançado com minhas amigas, de ter jogado totó, de ter conhecido Sam, do corte, do hospital, do término e do meu momento com Isaac no quarto.

Senti minhas bochechas arderem de vergonha ao ouvir mentalmente as palavras que tinham saído da minha boca antes do sol nascer: "Isaac, me beija". Como encará-lo após esse pedido bêbado e estúpido? Espero que ele não esteja me julgando por tal atitude, porque apesar de querer muito ser beijada por ele, eu nunca o pediria daquela forma se minhas faculdades mentais estivessem intactas. Mas agora não sei se uma mera desculpa de embriaguez iria convencê-lo de alguma coisa.

De qualquer forma eu ainda iria procurá-lo, precisávamos conversar. Finalmente eu estava disponível para iniciarmos (ou continuarmos) nossa história e nem mesmo minha vergonha poderia impedir-me. Já me acovardei por tempo suficiente.

Tomei um banho gelado, ingeri alguns análgesicos e me vesti. No espelho eu via uma imagem bastante satisfatória: meu cabelo hidratado recaía sobre meus ombros em cachos perfeitamente modelados e meu rosto estava iluminado e com as olheiras devidamente escondidas sob as camadas de base e corretivo. Nos lábios eu exibia um batom vermelho que deu certo trabalho para passar. No corpo eu tinha escolhido vestir uma saia midi justa branca, uma camisa azul clara e uma sandália azul marinho de salto alto. Eu pretendia estar irresistível.

Munida de toda a confiança que eu esperava que existisse dentro de mim segui para a Miller&Fletcher. Pelo horário, Isaac estaria lá assinando alguns papéis, no meio de alguma reunião importante ou checando os novos projetos. Não importa o que ele estivesse fazendo, eu iria interrompê-lo. O que eu tinha para falar era mais urgente que qualquer assunto de trabalho e estava preso em minha garganta há tempo demais para continuar lá.

Cheguei à Miller&Fletcher sendo recebida carinhosamente pelos funcionários que encontrei. Pelo visto minha falta tinha sido notada nos últimos dias. Eu também estava com saudades de passar minhas tardes por ali. Saí do elevador ansiosa e entrei pisando forte no último andar, também conhecido como o pavilhão dos homens importantes da empresa. Debra abriu um grande sorriso ao me ver, assim como Sheila e Cassie. Todas correram para me abraçar afetuosamente.

- Como é bom te ver, Julia! O senhor Miller disse que estava afastada devido aos estudos. Não imaginei que retornaria por agora. - Debra falou quando nos desvencilhamos do abraço.

- Sim, é verdade! Não voltei para trabalhar, vim falar com Isaac. Ele está em sua sala? - Falei já me dirigindo à porta daquela sala tão conhecida.

- Ele não te falou? - Debra perguntou me fazendo parar no meio do caminho. - O Sr. Miller viajou a negócios hoje cedo. 

- Como é? - Foi impossível disfarçar minha indignação.

Acordo e desacordo - EM HIATUSOnde histórias criam vida. Descubra agora