Capítulo 10 🍉

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Tudo o que eu menos queria era isso: que Ingrid estivesse presente quando eu demostrasse qualquer tipo de sentimento por Eduardo, porque, me conhecendo, eu sei que em alguns dias tudo isso vai ter ido embora. Toda essa agitação, esse sorrisinho no rosto, as borboletas no estômago... tudo isso vai por água abaixo quando eu perceber que ele não se encaixa perfeitamente em todos os devaneios que eu já criei na minha cabeça.

Já aconteceu vezes demais para que eu já tenha todo o esquema decorado. Ontem eu o conheci, hoje eu me apaixonarei um pouquinho mais, amanhã verei algo que não me agradará, mas irei ignorar. Dois dias depois, essas partes desagradáveis vão crescer, e no ciclo de uma semana, pronto. A fumaça do encanto vai desimpedir minha visão e eu vou ver que ele não é tudo isso.

Eu não sei como funciona para pessoas que se apaixonam de verdade. Deve ser no mínimo angustiante carregar um sentimento por tanto tempo. Comigo, é sempre passageiro. E é por isso que eu não me importo mais, até gosto.

E eu já me apaixonei por pessoas que Ingrid sequer imagina, como seu primo, três anos mais velho, que veio passar o carnaval em Valentina no ano passado. Eu nem lembro o nome dele. Igor? Esdras? Alguma coisa pequena assim — e eu nem mesmo troquei mais de duas frases com ele por dia.

— Bom dia — diz Eduardo, aparecendo atrás de mim. — Você é nova aqui? — Ele aponta para Ingrid.

— Não. Sou amiga de Ramona. Ela deve ter falado sobre mim — Ingrid estica o braço por cima do balcão, e Eduardo aperta sua mão. No meio dos dois, estou franzindo o cenho para essa encenação.

— Não falei — bufo, sem olhar para Eduardo. — Essa é a Ingrid. Ela vai embora já, já.

— Infelizmente. — Ingrid entra na minha desculpa. — Eu queria ficar mais, mas tenho... — ela coça a garganta — coisas para resolver.

— Hã... beleza? — Eduardo olha para mim antes de atravessar o balcão e ir até o escritório, onde Alicia está. Ele fecha a porta atrás de si e Ingrid não demora dois segundos para soltar um grito agudo.

Agito as mãos no ar freneticamente.

Shhhhhh!

Esfrego as mãos no rosto e levo minha mão à boca de Ingrid, impedindo que seus lábios se abram e exagerem ainda mais na reação.

A porta do escritório se abre e a cabeça de Eduardo aparece.

— O que foi isso?

— Nada! — Me apresso em dizer. — Caiu um pouco de... é...

— Bateu sorvete gelado no meu dente e eu tenho sensibilidade. — Ingrid abre um sorriso cínico. — Foi só isso. Foi mal.

A cabeça de Eduardo volta para dentro e a porta é fechada novamente.

— Droga, Ingrid. Não faz esse escândalo.

— Eu sabia que você ia se apaixonar por ele. Só um dia? Eu queria dizer que é um recorde, mas você já foi mais rápida que isso.

— Para com toda essa especulação. Não estou apaixonada... é só...

— Eu sei, eu sei... como você já disse, e eu decorei! — Ingrid levanta um dedo em frente ao rosto e ergue o queixo quando começa a dizer: — É só a idealização de um relacionamento perfeito, e me faz sentir preparada para caso isso um dia aconteça.

Sei que Ingrid está querendo me deixar envergonhada, mas eu realmente disse isso. Mandei para ela por mensagem, e ela fez questão de anotar no próprio caderno e repetir por aí quando isso acontece.

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