Capítulo 8 🍉

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"Se não existissem os rebeldes, o mundo ainda seria uma selvageria."

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Eu não segurei o braço de Eduardo como uma noiva. Em vez disso, dei-lhe um tapa no cotovelo, o que causou uma onda de risadas nele. Mordi o lábio e abaixei o olhar, segurando as alças da mochila com força.

Foi aí que percebi os primeiros sinais da paixonite aparecendo. Não saber o que fazer, não saber para onde olhar, e sentir um leve arrepio na nuca ao som de uma simples risada. A gente ouve pessoas rindo o tempo inteiro, na rua, no ônibus, no trabalho, na escola... mas quando a risada de uma pessoa causa alguma sensação na gente, geralmente no centro do estômago, ou nos pelos da nuca, é porque fomos afetados.


Estágio 1 da paixão: constrangimento.

Nesse estágio, tudo é muito confuso. O indivíduo ainda não se dá conta do que está acontecendo, e só quando percebe estar sem jeito ao lidar com a pessoa é que leva em consideração o nascimento de um sentimento. Primeiramente, o instinto do indivíduo o manda recuar, o diz que aquilo é errado ou embaraçoso. E é nessa constatação que está o perigo: ao tentar se defender, indivíduos apaixonados sempre pioram tudo. Já viram cena de filme em que a mocinha está tentando ser legal só para não demonstrar para o mocinho que está apaixonada, e de repente derruba uma estante inteira de livros, ou uma xícara de chá em alguém? É exatamente isso.


Eduardo não parece perceber minha risadinha débil ou os nós dos meus dedos vermelhos ao apertar tanto a alça da mochila que seria possível me fundir a ela — o que é ótimo.

Coço a garganta e balanço a cabeça de um lado para o outro.

— E aí, gostou do primeiro dia de trabalho?

— É... — ele retorce a mão esticada de um lado para o outro. — Como eu disse, é bem fácil.

Solto um suspiro, incrédula, e largo as alças da mochila para bater as mãos nas pernas.

— Sério, você vai ver, amanhã não vou te ajudar nem um pouquinho!

— Tudo bem, por enquanto, é só ler as etiquetas dos sorvetes. — Ele estreita o olhar e vira-se totalmente para mim enquanto ainda caminha. — Eu acho que vou ficar bem.

— Rá-rá-rá. Vamos ver. E os milk-shakes? Medidas, medidas, medidas.

— Eu não acredito em medidas — declara ele.

Deixo escapar uma risada exageradamente sonora.

— O quê? Eu ouvi você murmurando tudo o que eu dizia, repetindo para decorar, enquanto eu te ensinava a fazer o milk-shake de frutas vermelhas.

— Eu não estava tentando decorar... só estava observando, pra depois fazer do meu jeito.

— Isso não vai funcionar — falo ainda dentro de um sorriso.

— É sério, Mona. Acho essa coisa de medidas uma besteira.

— Você é um rebelde sem causa.

— Não é isso.

Paramos num sinal de trânsito, e os carros parecem mais apressados que o normal quando passam por nós, beirando a calçada. Quando um deles praticamente lambe meus cabelos, que voam descontrolados, sinto a mão de Eduardo no meu cotovelo, e ele me puxa com muita rapidez para trás. Sem jeito, tombo para o lado e meu rosto iria de encontro com o ombro dele, mas eu desvio antes que seja tarde demais. Eduardo novamente me segura, agora com ambas as mãos, para que eu não enfie a cara no asfalto, e eu evito olhar para cima e me deparar com seus olhos procurando os meus.

Ficamos calados, meu coração batendo no ritmo da bateria de uma escola de samba, e eu tenho certeza de que está tão alto, mas com o barulho do trânsito me sinto aliviada por saber que ninguém ouvirá. Só eu.

Isso acontece assim que paramos para esperar o sinal se tornar verde para pedestres, e por um minuto a fala de Eduardo se perde. Só quando chegamos ao outro lado da avenida é que ele volta a falar.

— Quando eu era criança, minha mãe trabalhava e meu pai ficava comigo em casa. Ele trabalhava de casa mesmo. E aí ele sempre tinha que cozinhar, e ele fazia umas coisas loucas, sem olhar em receita nenhuma, sem nunca repetir a mesma medida – pelo menos não de propósito – e tudo ficava delicioso.

— Ficava mesmo, ou você que era novo demais pra diferenciar as coisas? — brinco.

Ele me olha com o canto do olho e abre um sorrisinho.

— Há essa possibilidade... mas até pouco tempo atrás a gente ainda fazia isso.

Não quero perguntar da família dele, parece intrusivo demais para duas pessoas que se conheceram há menos de vinte e quatro horas.

— E por isso — ele continua — é que eu gosto de fazer as coisas sem medida. Não é uma regra, é só questão de bom senso.

— Por um lado, você tem razão... mas... — estico bastante a palavra — tem um motivo de termos receitas, e de Mama estar usando a mesma receita há décadas. Inclusive, a mãe dela usava as mesmas receitas! — Me empolgo demais, levantando um dedo em riste e aumentando o tom da voz enquanto dou a informação.

Eduardo acha graça da minha animação. E depois joga um balde de água fria.

— Eu sei. Ela é minha tia, esqueceu? A mãe era minha avó.

Não é péssimo quando damos uma informação legal e a pessoa já sabe?

Aff. Tinha esquecido. Aliás, essa história é verdade mesmo?

— Até onde eu sei, é sim.

— E aí vem você, não-sei-quantos-anos depois, querendo mudar o jeito que as coisas são feitas. Olha, sinceramente... — reviro os olhos e forço um suspiro dramático.

— Se não existissem os rebeldes, o mundo ainda seria uma selvageria.

— Não sabia que você também é filósofo.

— Você ainda vai descobrir um monte de coisas.

Atravessamos mais uma avenida, em cima de um viaduto, essa sem faixa de pedestres, e Eduardo pede a minha mão para passearmos entre os carros com mais segurança. Quando paramos na divisória entre a mão e a contramão do trânsito, aperto meus dedos na mão dele, pois o movimento rápido dos carros mais a passagem de um trem em baixo de nós me faz sentir o chão tremendo. Ele aperta minha mão de volta e me olha sem dizer nada. Duas ruas depois, estou em casa.

— Você está sem a bicicleta amanhã, né?

Fecho os olhos com o rosto virado para o céu.

— Não tinha pensado nisso.

Eduardo se oferece para vir até aqui amanhã, às dez horas, mas eu recuso. Recuso, mas não deixo de sentir um reboliço subindo no meu estômago, por isso mordisco um sorriso.

— Não precisa — digo — meu irmão vai lá buscar e consertar o pneu.

Ahhhh... beleza. Então, até amanhã, de qualquer forma.

Me despeço dele e atravesso o portão de casa, liberando o sorriso e castigando novamente as alças da mochila.

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oooi, amoresssssz <3 tudo bem com vocês?!?!

O Edu tá aparecendo mais agora, e eu to ansiosa pra saber quê que cês vão achar dele! 

depois de postar os primeirs capítulos em dias seguidos, foi um sofrimento esperar quatro dias pra postar esse hahahaha não se espantem se tiverem capítulos extras durante a semana! 

beijos

amo vcxss <3

Peixe Fora D'águaOnde histórias criam vida. Descubra agora