Capítulo 22 🍉

1.1K 173 33
                                    

🍉🍉🍉

Parada no calçadão, esperando um grupo de pessoas se despedir de outro grupo para que possamos andar pelas ruas mal iluminadas à noite em uma união segura de adolescentes barulhentos, minha mente está fazendo com que todo meu corpo pareça flutuar. Entre uma conversa e outra com Mari ou Nirvana, que está esperando a prima, Isabelle, não consigo esconder um sorriso. A lembrança do beijo trocado com Eduardo faz com que meus lábios se ergam involuntariamente.

Ele está lá, se despedindo dos primos Elias e Hélio, que assistirão ao amanhecer na praia, e eu estou aqui, olhando-o com o canto dos olhos quando posso, para que ninguém perceba meu vício em observá-lo.

O beijo foi quase que escondido. Não chamamos a atenção de ninguém, não houve assobios ou gritinhos comemorativos—o que eu adorei. Sinto agora como se estivéssemos guardando um segredo só para nós dois.

— Hein, Ramona?

Pisco os olhos diversas vezes, voltando a atenção para as meninas paradas à minha frente. É Nirvana quem me chama, e eu finjo escar coçando a garganta.

— Hã... o que? Não ouvi.

Ela, esperta, segue com o olhar até o ponto onde eu estava fitando, e as expressão muda quando vê o que eu estava vendo. Ela arqueia uma única sobrancelha e ergue os lábios apenas de um lado.

— Hum... — ela assente lentamente, e pisca para mim. — Facebook. Eu estava perguntando se você usa o Facebook, pra eu te adicionar. Isabelle me forçou a fazer um, há umas semanas, e eu não tenho quase amigo nenhum.

— Ah! Eu ainda uso o Orkut. Meio que não quero me render.

Ela ri, de olhos fechados, e assente mais forte.

— Eu também! E no Orkut existem os perfis fakes, no Facebook não deu muito certo.

Ao perceber meu olhar levemente arregalado, Nirvana começa a gaguejar explicações:

— Não são fakes... maldosos. Você nunca teve um fake? Mari, você tem? Ou... conhece? Fanfics? Nada?

— Fanfics e fakes são a mesma coisa? — Mari desvia da resposta com outra pergunta.

— Bem, não... — Nirvana passa o peso do corpo de uma perna para a outra, depois volta para a mesma e faz a ação de novo até se aquietar — mas é como se a gente estivesse brincando de fanfics... de uma forma ou de outra, enfim. Eu tenho perfis fakes e tenho amigos lá, mas no Facebook ninguém se apegou ao fake.

— Certo — eu digo, e solto uma risada em resposta ao comportamento nervoso de Nirvana ao contar algo que me soou como um segredo. — Quando eu fizer um perfil no Facebook, lembro de procurar teu nome. Com certeza será o primeiro da lista — brinco.

— Você vai se surpreender... — ela suspira dentro de um sorriso, e o assunto some quando Isabelle aparece ao lado da prima, saltitante.

— Vamos? — Ela chama, com o queixo apoiado no ombro direito de Nirvana. A proximidade das duas me faz imaginar como seria ter uma irmã no meio de dois irmãos. Ou mesmo uma prima tão próxima.

— Estamos esperando o namor... — Nirvana começa a falar, e ao ouvir sua voz e o que ela está prestes a dizer, meu coração dá um salto.

— Estamos esperando Eduardo e mais uns garotos! — Aumento meu tom de voz, com os olhos fixos nos olhos de Nina. Ela demora alguns segundos até entender, então, sem reproduzir som, mexe os lábios formando um "foi mal".

Sinto minhas mãos começando a suar, mas ignoro qualquer reação do meu corpo e finjo-me de desentendida.

🌊

— Então, a gente vai fazer uma ronda. — Lucas anuncia, quando todo o grupo está reunido. Eduardo voltou, e está parado ao meu lado, sutilmente deixando seus dedos roçarem os meus enquanto balança o corpo para um lado e para o outro.

— Uma ronda? Parece que somos uma gangue — digo, com uma falsa entonação inocente. Lucas me olha como se eu tivesse acabado de lhe sugerir que tire a roupa no meio da pista.

— E não somos? — indaga Edna, uma garota de outro colégio que acabou aparecendo aqui por amigos em comum, desse jeito louco que todo mundo se conhece em Valentina, simplesmente porque um amigo conhece aquele nosso amigo da quarta série e acaba que todo mundo se encontra numa única festa. Um crossover entre os colégios da região.

— Eu quis dizer gangue de bandidos — explico.

— Do tipo que faz arrastões na cidade, e tal — Eduardo me apoia, e eu sinto um formigamento na mão quando ele me cutuca com o cotovelo, sorrindo ao olhar para a expressão incrédula de Lucas sobre como a conversa se distorceu.

— Não liga pra eles, Lucas. Vai, continua — pede Mari, revirando os olhos enquanto tenta driblar um bocejo.

— Uma ronda pra levar cada pessoa em sua casa. — Ele finalmente conclui, e parece bastante satisfeito. — Entendeu? A gente vai traçando o caminho, primeiro passando na casa de quem mora mais perto, até a última, que é a minha.

— Parece razoável — comenta Ingrid, e recebe um olhar feroz de Lucas.

Se tivéssemos superpoderes, o do garoto seria fuzilar as pessoas com visão raio lazer. Um tipo bem tosco de filme trash dos anos '80. Lucas é assim, meio careta para alguém de apenas 17 anos. Ele fuzilaria muitas pessoas, eu acredito. Principalmente aquelas que agem como adolescentes de 17 anos e sempre zoam suas regrinhas e seus discursos que não podem ser contrariados.

— Menos desastroso do que ir pra casa sozinha numa noite de sábado — digo, dando de ombros. — Então, por mim, tá ótimo. Vamos, que Mari dançou por uma hora inteira e está caindo de sono.

— Ainda bem — sussurra Ingrid no meu pé do ouvido, e eu dou uma risada rápida.

Sim, ainda bem. Pelo menos teremos uma noite inteira para aproveitar antes de ter que lidar com seus surtos ao se deparar com a realidade sobre seu relacionamento com Gustavo. Ainda há muito o que se falar, e dessa vez eu me sinto preparada para despejar em cima dela tudo o que penso sobre ele. Não há momento melhor.

🌊

A casa de Marília é a terceira da ronda. Ainda há, pelo menos, sete pessoas para serem "entregues". E Eduardo é uma delas. Ele se aproxima de mim quando estou encostada no portão.

— Ei — me chama baixinho. Mari e Ingrid já entraram, a porta está entreaberta, me esperando, e o grupo está a alguns metros de distância, esperando por ele. — Eu quero te ver amanhã.

Meu coração está derretendo. Eu posso senti-lo se desfazendo, espalhando esse sentimento gostoso por todo meu corpo, até senti-lo nas pontas dos meus dedos, que formigam ao serem segurados pelas mãos de Eduardo.

— Eu... uhum. — É o que acabo dizendo ao concordar. — Eu também quero — concluo, só para não parecer tão aleatório.

— Te mando mensagem amanhã. — Ele diz, e deixa minha mão escorregar pela sua.

— Vou ficar esperando — digo, e mordo meu lábio para não escancarar um sorriso.

— Tchau! — Ele diz, e, tão rápido, me dá um beijo nos lábios, um selinho disfarçado de um simples beijo na bochecha. Foi quase roubado. Seria, se eu não quisesse. Assim, foi uma realização do meu desejo silencioso.

Eduardo se afasta em passos rápidos, voltando à integridade do grupo. Fico aqui, encostada no portão, observando enquanto eles vão, até dobrarem a esquina e não poder mais vê-los. Vê-lo, na verdade. Meus olhos só focaram nele.

🌊🌊🌊🌊🌊🌊🌊🌊🌊🌊

ahhh, a paixão!! hahahahahha

Peixe Fora D'águaOnde histórias criam vida. Descubra agora