Capítulo 15 🍉

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Eduardo está sentado em cima do balcão da cozinha, depois de termos limpado toda a bagunça com a cobertura, o doce de leite, açúcar de confeiteiro, etc., e eu estou sentada numa cadeira de alumínio, bem à sua frente. Faltam quinze minutos para irmos para casa, e é nessa hora que meu corpo começa a se rebelar contra viver, e sinto o peso do dia inteiro caindo sobre mim.

Um exagero, certamente, mas é como me sinto.

— Eu só queria nadar um pouco agora — digo, jogando a cabeça para trás e liberando todo meu peso na cadeira.

— Não sei nadar — diz Eduardo.

— Tá brincando? É a melhor coisa do mundo.

— Deve ser... mas não sei. Nunca aprendi quando era criança, e depois de mais velho não contei a ninguém, só dizia que não gostava de nadar.

— Tem vergonha de não saber?

— Um pouco...

— E por que você me disse?

Eduardo para o olhar em mim e dá de ombros, sem responder mais nada.

— Acho que eu confio em você.

Há um estágio em toda essa história de paixão que é o seguinte: sentir a reciprocidade. E eu nunca senti antes.

Sim, já namorei com um garoto, e tive algumas coisas passageiras com outros, mas nunca houve realmente a sensação de estar vivendo algo recíproco. Eu só estava ali porque me via apaixonada, e os garotos na maioria das vezes só estavam ali porque é isso que garotos fazem: aproveitam de qualquer pessoa que sinta o mínimo de atração por eles.

Só que Eduardo está se mostrando diferente.

Com certeza já demostrei, alguma vez, que pelo menos me sinto atraída por ele, e há um pouco de flerte desengonçado em nossas conversas diárias, mas ele não agiu da maneira que eu esperava.

Ou seja, ele não fez uma das duas coisas que garotos fazem ao descobrir que uma garota gosta deles:

Um, ele não fugiu, se afastou; Dois, ele não investiu, não se aproveitou disso.

Ele só continuou... normal.

Talvez isso torne mais fácil para mim, desapegar dessa sensação.

Ou mais difícil.

Suspiro pesadamente, depois de muito tempo sem responder à declaração de Eduardo sobre confiança.

— Eu posso te ensinar a nadar, qualquer dia desses.

— Você me ensina coisas demais — ele diz, repuxando os lábios para um lado numa careta inconformada.

— Isso não é bom?

— Também quero te ensinar alguma coisa.

— O que você tem a oferecer? — pergunto, levando a mão ao queixo, como uma orientadora numa entrevista de trabalho.

Jogando a cabeça para trás, Eduardo solta uma gargalhada. Suas mãos estão apoiadas no balcão, e os ombros estão apontando para o alto. Ele ri parecendo um garotinho de seis anos.

— Sério, eu não vi nada que você possa me ensinar ainda — provoco.

— Eu posso te ensinar sobre... as estrelas e o universo.

— Isso é algum tipo de cantada barata?

No segundo em que pergunto, espontaneamente, meu coração dispara.

— Eu não quis dizer... é...

— Não. — Eduardo ignora minha voz falha e o tanto que a situação ia começar a ficar constrangedora. — Não foi uma cantada, foi verdade. Eu adoro essas coisas de universo, e constelações... posso te ensinar sobre planetas e estrelas.

Estupidamente, a primeira coisa que vêm à minha cabeça para perguntar é:

— Qual seu signo?

Eduardo me olha como se duas melancias estivessem se equilibrando na minha cabeça.

— Áries... por quê?

— Nada! Planetas! Estrelas. Legal. Eu quero aprender.

Áries. O último signo que eu pensaria. Mas acho que nem sempre essas coisas acertam em cheio.

— Assim você faz parecer que tem zero interesse.

— Não! — Me agito na cadeira, e ela acaba arrastando os pés no chão, fazendo um barulho agudo insuportável. — Foi mal. Não estava sendo sarcástica. Eu realmente quero aprender. Eu gosto do mar e de toda essa coisa de oceano... mas nunca parei para reparar no céu e no... universo.

— Os dois meio que se completam — Eduardo comenta, passando a mão no cabelo raspado. — O céu e o mar.

— Acho que sim...

Ele pula do balcão e estica uma mão para mim. Fico olhando para seus dedos, e depois subo o olhar para o rosto de Eduardo, que está me fitando com a careta mais engraçada.

— Não vai se levantar para ir embora?

— Ah! — Me levanto num sobressalto, segurando sua mão para apoio. — Nossa. Acho que entrei em pane.

— Acontece — diz ele, e aperta meus dedos em sua mão. A mão que eu ainda estou segurando.

Olho para nossas mãos unidas e sinto aquele formigamento novamente. Eduardo solta meus dedos e me olha com um sorriso no rosto. Estamos sozinhos na cozinha. Seria a cena perfeita para um primeiro beijo, o tipo de cena que costumo imaginar, editar, revisitar, sonhar e reproduzir novamente e novamente na minha cabeça enquanto estou deitada, antes de dormir. Mas não acontece nada, e saímos andando na direção da porta, prontos para irmos embora.

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Eu amo esse momento, aaaaa

Peixe Fora D'águaOnde histórias criam vida. Descubra agora