A minha vida é como um filme em câmara lenta e a cena que decorre neste preciso segundo é vagaroso e arrastado. Tudo à minha volta explode...

Vidros das janelas estalam e estilhaços voam para junto de mim, cortam a minha frágil e suave pele...

A tinta seca da parede voa em pequenos pedaços pelo quarto.... Ficou incompleta e mostra agora falhas cinzentas escuras.

As almofadas explodem na cama e penas brancas voam por todos os lados, embatendo no meu corpo e espalhando-se à minha volta.

Acima de mim o candeeiro rebenta. Cada lâmpada que despedaça cai sobre minha cabeça. Fecho os olhos e subo as mãos para sentir o toque fino do vidro cair sobre mim. Não me corta a fundo, mas faz pequenas fissuras na minha pele.

As portas do armário abrem e num estrondo a roupa voa, espalha-se pelo chão e pela cama.

As gavetas das mesas de cabeceira vão contra a parede à minha frente, deixando buracos do embate.

Sacudo a cabeça e faço o cabelo dançar de um lado para o outro. As mãos agarram os lençóis desesperadamente e lágrimas caiem uma a uma.

E se eu disser que não quero ficar e que não sou capaz de continuar a lutar. Dizem que este mundo por onde caminho, não é fácil ou difícil de viver, porém, porque lamento a minha existência?

Cada minuto que passa fica mais desesperante de sentir a expiração e a inspiração, respirar sem motivo, sem qualquer objetivo. A única coisa que eu sei é que nada mais me interessa.

E eu não penso muito nisto.... Evito entrar numa roda, num pensamento circular sem princípio e sem fim. Sem perceber onde vou buscar estas palavras negativas e como as descubro sem querer.

Mas como é que tu és capaz de te esconder atrás da porta, cruzar os braços e sem lamentos, afirmar com desprezo que eu não luto porque desisto facilmente.

É desta forma que lá se vai o sentimento de esperança, esta última réstia de luz que me tenta puxar para primeiro lugar, pois em segundo lugar é o buraco negro.

Não quero continuar a combater, a trepar com todas as forças que tenho e fazer de tudo para não escorregar e tombar. Não quero cair para um vácuo escuro, onde sei que a minha alma irá desaparecer.

Embora não haja compromisso ou obrigação, não consigo debater a sensação infeliz. Estou sempre triste apesar de estar sempre com um sorriso nos lábios.

E seu disser que não dá... Que tudo o que dou nunca chega...

Não me julguem por viver neste jogo em que as conversas são comigo mesma... Já não falo para as paredes ou para os espelhos, mas existe um interior que comunica comigo e tem uma pistola. Está sempre carregada e pronta.

As vozes dentro da cabeça não param, dizem sempre que nunca faço o suficiente. E todas as palavras seguintes são para dizer que sou mais uma fraca no meio da multidão. Não vale a pensa subir pelas escadas invisíveis, pois no topo está uma corda para o pescoço à minha espera.

Preciso de parar... De respirar... Preciso que o meu coração pare...

Antidepressivos... Calmantes... Relaxantes... Já não sinto nada. O corpo torna-se num objeto oco e ao mesmo tempo dormente.

Cai tudo sobre mim: vidros, penas, roupa, estilhaços de madeira e tinta seca. Deixo-me cair para trás. Com os meus pensamentos observo as caixas da medicação saltar quando caiu sobre a cama.

Uma caixa. Duas caixas. Três caixas. Quatro caixas. Todas cheias.

Param de dançar e ficam ao meu lado...

Tentação.

Desabafos de uma depressivaOnde histórias criam vida. Descubra agora